A família, o trabalho e a festa

Dom Anuar Battisti*

Em sua edição 2012, a Semana Nacional da Família, de 12 a 18 de agosto, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) propõe como temática o trinômio a Família, o Trabalho e a Festa: o modo de viver os relacionamentos (a família), de habitar o mundo (o trabalho) e de humanizar o tempo (a festa).

“A Semana Nacional da Família procura motivar momentos, encontros e celebrações com o desejo de despertar todas as pessoas de boa vontade ao valor único e próprio da família”, diz o texto do subsídio Hora da Família.

Chegada à plenitude dos tempos Deus envia seu Filho ao mundo. O filho é acolhido no seio de uma família, a Família de Nazaré. Esta família torna-se modelo para as famílias porque constrói sua santidade acolhendo Aquele que é Santo. Jesus pede que a família seja lugar de acolhida e geradora de vida em plenitude.

A família não gera apenas a vida física, mas também aqueles valores que são essenciais a cada pessoa e a todas as pessoas: a justiça, a fraternidade, o perdão, a acolhida. Na família se aprende o significado da ternura, do aconchego, da renúncia, da paciência. É lugar de crescer em idade, sabedoria, e graça diante de Deus e diante dos homens.

O Beato João Paulo II escrevia em um documento sobre a Família: “animada e sustentada pelo mandamento novo do amor, a família cristã vive a acolhida, o respeito, o serviço para com o homem, considerado sempre na sua dignidade de pessoa e de filho de Deus. Isto deve acontecer, antes de tudo, no e para o casal e para a família, mediante o empenho cotidiano de promover uma autêntica comunidade de pessoas, fundada e alimentada por uma íntima comunhão de amor” (Familiaris Consortio 64).

E por que deve haver esse empenho? Porque a humanidade da família pode renovar a sociedade. “A família é a primeira escola dos afetos, o berço da vida humana, onde o mal pode ser enfrentado e superado. A família é um recurso precioso de bem para a sociedade. Ela constitui a semente da qual nascerão outras famílias, chamadas a melhorar o mundo.” “A família constitui a célula primeira e vital da sociedade” (Familiaris Consortio 42).

Criado à imagem e semelhança de Deus o homem, como Deus, trabalha e descansa. O resultado do ‘trabalho’ de Deus é a vida plena. Assim o trabalho humano deve ser também gerador de vida, especialmente para a família e consequentemente para a sociedade. Jamais deveria acontecer que o trabalho sufoque o homem.

Para poder viver, o homem deve trabalhar, mas de forma que sejam salvaguardados os seus direitos e sua dignidade. Não raro, muitas pessoas sofrem porque as condições de trabalho não lhes garante a formação e sustento de uma família. Mecanismos de tutela adequados devem garantir esse direito para todos.

E assim como não só de pão vive o homem, o descanso de Deus recorda a necessidade de suspender o trabalho para que a vida religiosa e lúdica “pessoal, familiar e comunitária não seja sacrificada aos ídolos do acúmulo da riqueza, do progresso da carreira e do incremento do poder. O homem não vive só de relações de trabalho, em função da economia. É necessário tempo para cultivar as relações gratuitas dos afetos familiares e dos vínculos de amizade e parentesco”. É o tempo da festa.

O homem moderno perdeu o sentido da festa. O tempo livre passou a ser o tempo do cultivo do narcisismo. Às vezes dentro da própria família, o tempo do descanso passa a ser momento de isolamento e egoísmo. É preciso recuperar o sentido do domingo como o dia para a família.

O homem não descansa somente para voltar ao trabalho, mas para fazer festa. É mais oportuno do que nunca que as famílias voltem a descobrir a festa como lugar do encontro com Deus e da proximidade recíproca.

*Arcebispo Metropolitano de Maringá – PR

Postado por