Cristo Rejeitado

Dom Sérgio da Rocha*

Depois de dois domingos celebrando solenidades, retomamos a Liturgia da Palavra própria dos Domingos do Tempo Comum. Portanto, continuamos a ler e a meditar o Evangelho segundo São Marcos, proposto para os domingos do Tempo Comum deste ano. Estamos hoje meditando o início do capítulo sexto de Marcos (Mc 6,1-6), contemplando Jesus em “sua terra”, a pequena cidade de Nazaré, na Galileia, onde ele cresceu e onde residia a sua família. Marcos destaca as reações das pessoas diante da pregação de Jesus na sinagoga: “ficaram escandalizados por causa dele”, não admitiam a sua sabedoria e seus milagres, por considerá-lo “o carpinteiro”, cuja família humilde era conhecida entre eles.
Diante disso, temos as duras palavras de Jesus: “um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares” (Mc 6,5) e a constatação de que ele “admirou-se com a falta de fé deles” (Mc 6,6), não podendo, por isso, “fazer ali milagre algum” (Mc 6,5). Entretanto, a rejeição em Nazaré não impede Jesus de continuar a cumprir a sua missão de anunciar a Boa-Nova. Ao contrário, o relato proclamado hoje apresenta, no seu início e no seu final, Jesus “ensinando”.
A rejeição sofrida pelos profetas, referida por Jesus, encontra-se exemplificada em Ezequiel, cuja vocação é recordada na primeira Leitura (Ez 2,2-5). Ele é enviado a “rebeldes que se afastaram” de Deus, que “se revoltaram” contra Deus (Ez 2,3), a gente de “cabeça dura e coração de pedra” (Ez 2,4). Contudo, destaca-se que a iniciativa é de Deus, que o envia e sustenta na missão profética.
Na segunda leitura, meditamos o testemunho de São Paulo, que além das perseguições sofridas, refere-se à sua própria fragilidade, aos obstáculos de sua condição pessoal, testemunhando que “é na fraqueza que a força se manifesta” (2Cor 12,9). Paulo experimenta a força de Cristo nele agindo em meio a “fraquezas, injúrias, necessidades, perseguições e angústias sofridas por amor a Cristo” (2Cor 12,10). Por isso, jamais desanima diante dos desafios enfrentados, mas prossegue confiante na graça de Deus, que faz crescer aquilo que ele e outros apóstolos plantaram e regaram.
Hoje, muitas vezes, Cristo continua a ser rejeitado, assim como, aqueles que ele envia em missão. Recordando-nos dos missionários, rezemos de modo especial pelo 3º Congresso Missionário Nacional, que está sendo realizado em Palmas, Tocantins, cujo tema é: “Discipulado missionário: do Brasil para um Mundo secularizado e pluricultural, à luz do Vaticano II”, e cujo lema é: “Como o Pai me enviou, assim eu vos envio” (Jo 20,21). Sejamos também anunciadores e testemunhas do Evangelho em nossa vida cotidiana, confiantes na graça de Deus!
*Arcebispo Metropolitano de Brasília