Em tempo de compreender, respeitar e agradecer a um jovem padre

Pe. Tarcísio Marques Mesquita

Seguindo a linha que percorre a fisionomia humana, cabelos sem vigor e esbranquiçados que, do topo, escorrem desordenados acima de rugas de sulcos profundos que marcam sua face. Há quem vaticine que seus sinais de cansaço mental e debilidade física são penalidades que lhe foram impostas por seu modo de vida despreocupado de si e solitário. Esquecido! Conhecido já em idade avançada, descontextualizado do seu empenho prolongado de jovem laborioso e cheio do vigor da tenra idade, há, também, quem o considere rabugento ou “relíquia do passado”. Outros o veem como um velhinho gracioso que, “claro, precisa descansar e deixar de teimosamente agir e opinar”. “Precisa carregar seus dias e esperar que o resto deles escoe na quietude e bom comportamento com que um religioso deve aguardar o momento em que o Senhor o chame!”. Sua voz marca o tom de palavras de pronúncia e significados ultrapassados que, às vezes, reverentemente são ouvidas, mas que não são necessariamente consideradas. Embora não se diga, pois isso é politicamente incorreto, há, ainda, quem o considere absurdamente pesado e improdutivo.

Assim, prossegue vivendo o padre idoso: longe demais na história de uma vida humana, suas experiências – límpidas para quem sabe o valor das realizações do passado – parecem inúteis com relação ao contexto atual, resultante de mudanças a que ele próprio “não foi capaz” de acompanhar. Para uns, ingênuo e gracioso; bom que seja “guardado” e “protegido”, que fique “aconchegado” e “quieto”. Para outros, teimoso e irritadiço: “difícil de ser levado”. O padre idoso segue, ex opere operatur, tentando ajustar-se aos novos contextos, assaz diferentes em relação aos seus empenhos do passado.

Mudanças bruscas e decepcionantes impõem-lhe uma aposentadoria compulsória, suposta e dolorosamente indesejada, vista como penalidade e veredito condenatório de suas “imprudências e escorregos” de um longo sacerdócio constituído como um rosário de acontecimentos e realizações. Suas boas obras apagam-se na ferrugem que corrói as placas de bronze não erguidas em sua honra.

Haja tempo que nos propicie resgatar e reverenciar o bem que o presbítero – palavra que exatamente significa o mais velho – faz e, incessantemente, agradecê-lo e respeitá-lo. Mais do que nunca, é preciso ouvi-lo, e aprender um pouco do tanto que nos pode ensinar. Seja respeitado, ub audit (1), sabendo que os mais velhos entre nós, presbíteros, deveriam, como nos ensinou Jesus, ser os primeiros em honra, lugar e distinção.

Hoje e amanhã, seja feliz o Dia do Padre!

(1) DO LATIM, UB AUDIRE SIGNIFICA OUVIR ATENTAMENTE. CÍCERO CUNHOU O TERMO DANDO-LHE O SENTIDO USADO NA PALAVRA OBEDECER, QUE, POR DECORRÊNCIA, HOJE TAMBÉM É USADA COMO RESPEITAR.