Eu quero ser padre!

Dom Anuar Battisti *
Eu tinha sete anos quando pela primeira vez, voltando da escola, falei para minha mãe: “Eu quero ser padre!” Ela, admirada, disse: “Como?”. Respondi: “Não sei.” “Você é ainda criança”, ela respondeu. Esse desejo foi despertado pelo Frei Constantino, frade capuchinho. Alegre e brincalhão, ele celebrava mensalmente na nossa capela, bem no interior do município de Lajeado, no Rio Grande do Sul, um lugar de agricultores, gente simples, onde havia a escola, a igreja, o cemitério, a nossa casa e a do tio João, e anexo, um pequeno comércio onde se vendia de tudo.
A nossa família vivia do comércio. O pai, na década de 1960, começou a transportar famílias para o Oeste do Paraná, região de Toledo e Assis Chateaubriand. Nestas andanças ele acabou comprando um pedaço de terra e migramos todos no fim do ano 1963. Foram dois dias e uma noite de viagem em um caminhão com todos os pertences, os oito filhos; e não podia deixar para trás a vaquinha de leite. Uma verdadeira aventura, começando tudo do zero, na mata virgem, com poucos recursos, mas muita coragem e ousadia.
Em janeiro de 1964 um sacerdote tinha como missão visitar os colonos recém-chegados. Era o Padre Santo Pelizzer, que celebrou a primeira missa debaixo das árvores, em um altar improvisado, de madeira bruta. No final da missa meus pais foram falar com o padre e disseram: “Aquele moleque quer ser padre.” Então me chamaram e interrogado eu disse: “Sim!”. Então respondeu o padre: “Prepare todas as roupas e no final de fevereiro leve ele para o seminário em Toledo”. Assim, no dia primeiro de março de 1964, com meus dez aninhos de idade, estava no seminário. Os primeiros meses não foram fáceis, a saudade era demais. Entrei com dez anos e fui ordenado com 28. Nunca pensei em abandonar o seminário. Tive minhas crises e meus questionamentos, mas a meta era clara. Nunca me senti sozinho. Mãos amigas, calos nos joelhos e o amor infinito de Deus nunca faltaram neste caminho.
Uma grande tábua de salvação em meio às ondas da vida foi encontrar a espiritualidade do Movimento dos Focolares ou Obra de Maria, uma mística diferente, atual, concreta, que me fez ver a vida e o sacerdócio de maneira diferente. O Evangelho é sempre o mesmo, mas a dinâmica da Palavra de Vida e a troca de experiências entre nós, seminaristas, e os padres foram como uma alavanca fundamental no meu caminho.
Em oito de dezembro de 1980, em um palco improvisado na Praça em Tupâssi, fui ordenado sacerdote pela imposição das mãos de Dom Geraldo Magella Agnelo. A partir daí Deus me conduziu por vários caminhos. O meu serviço na Igreja foi sempre marcado por experiências bem diferentes e desafiadoras, porém em nenhum momento desejei outra cosia a não ser obedecer.
Hoje, com 32 anos de ministério presbiteral, com 14 anos de serviço episcopal, com meus quase 60 anos, sinto-me profundamente amado por Deus. Tudo foi puro amor de Deus por mim. Ele me chamou, chamou minha Irmã Lourdes para ser religiosa trabalhando com migrantes, chamou meu irmão mais novo para ser sacerdote palotino, trabalhando em Campo Grande e os outros todos ganhando o pão com o suor do próprio rosto no caminho matrimonial. Vocação é chamado, e Aquele que chama é Fiel. “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi…” (Jo 15,17). Sinto-me feliz e realizado. Só tenho que dizer como o apóstolo Paulo: “Sou o que sou pela graça de Deus” (1Cor,15,10).

* Arcebispo Metropolitano de Maringá
Fonte: Arquidiocese de Maringá – PR