Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?

Pastoral Carcerária
Pe. Valdir João Silveira
Coordenador da Pastoral Carcerária Nacional – CNBB

Este grito que ecoa em todas as liturgias da Sexta-feira Santa, em todas as comunidades cristãs do mundo inteiro, faz emergir em nós respostas de indignação, de revolta e de fé. De fé, para quem descobriu a ação de Deus no mundo do sofrimento.

Como pode Deus permitir que seu Filho unigênito sofresse e fosse desprezado até a Morte? Que Deus é este que fica indiferente, passivo, perante a agonia de seu Filho na cruz?

A mesma pergunta escutamos ou fazemos ecoar quando sentimos ou vemos dor semelhante a que Cristo sofreu na cruz nas pessoas deste mundo.

Confesso, meus irmãos, que esta pergunta também me veio de um preso, em uma visita pastoral à Casa de Detenção, antigo Carandiru. “Padre, onde esta Deus que não vê tanta dor e humilhação?”, perguntou-me um detento. Na hora fiquei um pouco perdido. Calado, e me perguntei: Como falar de esperança para quem foi e esta despojado do amor da família, não tem amigos, é pobre, analfabeto e não tem uma profissão? Abandonado pela sociedade e pelo Estado? Meu Deus, como falar da misericórdia divina para quem sempre foi rejeitado, condenado por todos? Depois, de um breve silêncio, veio uma longa e gostosa conversa.

Quando não enxergamos Deus pregado na cruz, o Pai crucificado com o Filho, quando não vemos Jesus que é Deus na pessoa do rejeitado, morrendo abandonado nas ruas, nos casebres das periferias e nos cárceres, não entendemos o mistério da cruz. A morte de Jesus foi em vão. Inútil.

Deus sofreu e sofre com todos os que padecem. Deus se fez pequeno e se deixou ser preso e torturado para que todos tratassem os despossuídos deste mundo como irmãos; tivessem para com eles o mesmo amor incondicional que o Pai, que é Deus, tem para conosco. Não sentir, não nutrir sentimento de compaixão e de compromisso para com os crucificados deste mundo é passar pela vida sem dar sentido à existência. É ter na morte o fim derradeiro.

Cristo ressuscitado caminha à nossa frente e nos dá a força para nunca desanimarmos diante das dificuldades de modificarmos os comportamentos humanos pela misericórdia e compaixão. Continuamente, repete a todos: “coragem, eu venci o mundo” (Jo 16,33).

Cristo Ressuscitado, Ele é a nossa Luz e a nossa Força! Para os crentes, Ele é “o Caminho, a Verdade e a Vida”; aponta um ideal, um projeto, um sentido para a vida humana. Ele é a Palavra que toca e converte os corações. Ele está conosco para sempre. Com Ele, caminhamos e vivemos pelos caminhos do mundo, anunciando a Esperança que o homem precisa para caminhar, realizar-se e transformar a sociedade.

Páscoa é a resposta aos que perguntam ansiosamente quando e de onde virá a consolação. É o que dá sentido para todos aqueles que sofrem e acreditam.

A razão e o fundamento da nossa fé é a Páscoa de Cristo. A Sua passagem da morte à vida, há dois mil anos, pelo mistério de Sua ressurreição gloriosa, foi a grande revelação do mensageiro de Deus às mulheres que, ao romper da manhã, desanimadas e tristes, procuraram Jesus no sepulcro. Cristo Ressuscitou! Aleluia!

A Páscoa cristã é, assim, a Festa da Ressurreição do Senhor, a Festa da Vida nova, a Festa da Alegria e da Esperança! Jesus, com sua ressurreição destruiu todas as prisões. Daí que os nossos votos de Boas Festas Pascais se exprimem em mensagens de fé, de alegria e esperança a todas e todos encarcerados, seus familiares, egressos, agentes de Pastoral Carcerária e parceiros na defesa da vida.

Feliz Páscoa!