O milagre da comunicação

Marcelo Barros

Mergulhados em um mundo de comunicação rápida, no qual o telefone celular e a internet nos ligam, em tempo real, ao mundo inteiro, facilmente nos esquecemos de que, em termos de comunicação, em poucos 30 anos, o mundo viveu uma transformação que, em milênios, não conhecia. Estes novos meios de comunicação plasmaram uma nova cultura social e deram mais agilidade e eficiência aos meios de comunicação social clássicos como a imprensa e mesmo o rádio e a televisão.

Em todos os fóruns e debates da sociedade democrática, a função dos meios de comunicação social tem sido tema de reflexão e debates. A ONU considera o dia 3 de maio como “dia internacional da liberdade dos meios de comunicação”. Houve épocas nas quais a censura vinha de governos ditatoriais e de regimes políticos repressivos. Hoje, a censura mais freqüente vem dos interesses econômicos e sociais dos proprietários das empresas de comunicação, assim como das agências internacionais de notícias, não poucas vezes, propriedade dos mesmos conglomerados do petróleo e das indústrias de armamentos.

No Brasil, o dia 5 de maio foi instituído como Dia Nacional das Comunicações. Poucas pessoas sabem que nesta data, em 1865, nascia em Mimoso, perto de Cuiabá (MT), uma grande figura das telecomunicações brasileiras: o Marechal Rondon. O nome deste grande brasileiro, descendente de índios Terena, Bororo e Guaná, é lembrado quando se trata de defesa dos povos indígenas e da integração do território nacional, mas poucas pessoas o ligam às telecomunicações. Em 1955, quando Cândido Mariano da Silva Rondon completava 90 anos, passou a ser homenageado como Patrono das Comunicações do Brasil. Talvez sua origem o impelisse a uma comunicação mais humana com os indígenas. “Morrer, se preciso for. Matar, nunca” – era o seu lema. Com ele, Rondon ganhou projeção e reconhecimento internacionais. Este princípio deveria servir para nortear a pauta dos meios de comunicação em uma sociedade que convive mais com a guerra do que com a paz e acaba achando mais natural a competição do que a colaboração entre pessoas e povos.

Quem acompanha os noticiários no Brasil sabe como a maioria destes privilegia a violência. É como se informar significasse explorar incansavelmente e de modo insensível os crimes e doenças que atacam a sociedade. Uma criança que foi jogada de um edifício ou um filho que mata os pais proporcionam matérias para a repetição cotidiana de reportagens sensacionalistas, cenas chocantes e comentários infelizes, pelo menos por quinze dias. Até surgir um novo crime ou escândalo. Ao mesmo tempo, quase sempre continua forte uma campanha de criminalização de movimentos populares e uma publicidade extremamente negativa de qualquer governo que, na América Latina, pretenda transformar a sociedade. Quem se deixa informar e formar por estes meios de comunicação tende a pensar que, no Brasil, só existem corrupção política e violência nas ruas e que a sociedade está perdida. De fato, ficam ignorados e desconhecidos tantos exemplos de ética no trato da coisa pública e na vida pessoal, assim como muitas pessoas admiráveis na dedicação aos outros. As conquistas sociais e morais da sociedade civil são negadas.

No mundo religioso, as Igrejas e grupos espirituais independentes têm se servido dos meios de comunicação. Estúdios substituem templos e misturam-se reality-show, ficção e liturgia. A fé se torna objeto de espetáculos religiosos televisivos, sejam cultos neo-pentecostais ou missas-show de padres pop. Entretanto, a fé nunca pode ser objeto de publicidade. As Igrejas não se edificam espiritualmente baseadas em cultos de massa que exploram sentimentos, mas não pedem compromisso comunitário. Como evangelho é a boa noticia de que, apesar de tudo, o projeto divino de paz e justiça começa a se realizar neste mundo, muitas vezes, é fora do universo religioso que jornalistas cumprem a função de verdadeiros evangelizadores e fazem com que os meios de comunicação cumpram sua função de fazer deste mundo uma fraternidade humana em comunhão com o universo.