Quem é o maior? – Dom Sergio

Dom Sergio da Rocha*

O Evangelho segundo Marcos narra a dificuldade dos discípulos em compreender o anúncio da paixão, morte e ressurreiçãode Jesus, assim como, o caminho a ser seguido, que inclui a cruz e as renúncias, conforme a palavra de Jesus refletida no último domingo. Enquanto Jesus falava a respeito da doação da própria vida, os discípulos pensavam em grandeza e glória, discutindo pelo caminho “quem era o maior” (Mc 9,34). Entretanto, ele não desiste de ensinar a seus discípulos, chamando-os perto de si para lhes falar ao coração, como faz conosco, hoje. E o que o Senhor quer nos falar? Jesus nos chama para junto de si para nos recordar que “se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35).

Com tal espírito de humildade e serviço, somos convidados a acolher os pequenos, a dar atenção aos que se encontram fragilizados, simbolizados por uma criança, pois, de modo especial, naquele tempo, as crianças não eram devidamente valorizadas, especialmente, por aqueles que as consideravam incapazes de praticar a Lei. Assim fazendo, os discípulos estarão acolhendo o próprio Jesus. Deixando de praticar esta Palavra, estarão deixando de acolher Jesus e aquele que o enviou (MC 9,37).Deste modo, “maior” é o que serve e acolhe os irmãos, fazendo-se pequeno entre os pequenos.

Conforme a Carta de São Tiago, na comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus deve reinar a misericórdia, a justiça, a humildade e a paz, ao invés, da inveja, da rivalidade, da cobiça e das brigas. Para isso, é necessário acolher “a sabedoria que vem doalto” (Tg 3,17) e aprender a pedir a Deus o que condiz com a vida cristã, pois muitas vezes, pedimos mal (Tg 4,3). Neste mês dedicado, especialmente, à Bíblia, é importante refletir sobre o que Deus tem nos falado e sobre o que nós temos falado a ele, através da oração.

Quem procura ser fiel a Deus, vivendo os seus ensinamentos, poderá sofrer incompreensões e ofensas, por incomodar os que não cumprem a Palavra. Olivro da Sabedoria, proclamado na Primeira Leitura, nos fala a respeito dos sofrimentos do “justo” perseguido pelos ímpios, por eles colocado à prova e condenado. Esta Palavra se aplica plenamente a Jesus Cristo, “o justo”, o “filho de Deus”, mas também representa um convite para cada discípulo de Jesus permanecer fiel e confiar em Deus, nos momentos de sofrimento.

Assim fazendo, poderemos exclamar, com fé, o que estamos rezando, através do Salmo responsorial (Sl 53): “É o Senhor quem sustenta a minha vida!”. Seja esta, a nossa oração, neste dia! Seja esta a nossa oração nos dias de aflição:“Quem me protege e me ampara é meu Deus. É o Senhor quem sustenta a minha vida!”

*Arcebispo Metropolitano de Brasília