Releituras Judaicas da Bíblia

Antônio Mesquita Galvão

Agência Adital

Eu estive recentemente na Terra Santa onde participei de um congresso multidisciplinar de estudiosos das Sagradas Escrituras. O encontro envolveu pesquisadores norte-americanos (pentecostais), alemães (protestantes), israelenses (judaísmo) e brasileiros (católicos). Embora realizado por especialistas das áreas de teologia, ciências da religião, antropologia e arqueologia, reuniu pessoas não pertencentes às hierarquias ou ao saber oficial das religiões, mas pensadores independentes. Não havia padres nem pastores. O evento ocorreu em dois lugares: em Caphernaun, na Galiléia, e junto a Ramat Rachel, um sítio arqueológico perto de Tel Aviv. As apresentações e os debates ocorreram em hebraico, inglês e francês.

Os trabalhos foram abertos pelo antropólogo Felix Posen, 55 anos, organizador do 15th World Congress of Jewish Studies da Hebrew University of Jerusalem. Em seu discurso inaugural o professor Posen disse lamentar que a juventude de Israel se interesse hoje pela cultura hebraica do que pela religião de Moisés. Segundo ele, os judeus não-religiosos são hoje maioria, não somente em Israel, mas no mundo todo. Para Posen o encontro de Ramat Rachel vai servir para acelerar o diálogo interreligioso e cultural das crenças cristãs e judaicas, uma vez que é suscitado pelas bases e não pelas cúpulas, o que torna o debate mais célere e viável. Para isto, entendem os organizadores do conclave, a arqueologia dá um suporte indispensável. Segundo os promotores do conclave, o distanciamento dos jovens do estudo da religião ocorre por conta de um certo dogmatismo hermético do mesmo, onde não é admitido o questionamento e a especulação científica.

O objetivo do trabalho foi trazer mais esclarecimentos de exegese e interpretação para a chamada “parte mitológica” da Bíblia, capítulos 1 a 11 do bereshit, (livro de Gênesis). Assim buscou-se uma nova visão, místico-científica, e sobretudo crítica para os personagens Lylith (a primeira mulher de Adão), Adão e Eva (como uma geração e não um simples casal), seus filhos Cahim e Abbel (como classes em tensão e não apenas dois irmãos) e sobre a família de Noé, e sobre os eventos “Dilúvio”, “Torre de Babel” “Gigantes” e “Tomada de Jericó” (Êxodo). Como essência, Deus criou, salvou e preparou um projeto. A forma como isto aconteceu é acidental, adstrito à exegese de cada época. Os participantes esperam que, com o passar dos anos haja um substancial incremento de informações crítico-científico-religiosas nos rodapés dos livros sagrados, com o aporte dos subsídios da ciência, ao invés de tão-somente informações religiosas. A pesquisa vai continuar pelos links da Internet.

O evento teve o apoio do Rockfeller Archeological Museum (Jerusalém), do Museum of Jewich People (Tel Aviv) e da École Biblique et Archéologique (française) de Jèrusalem. A reunião desses intelectuais, por sua importância mereceu reportagem de destaque no “The Jerusalem Post” de 13/08/2009.

Carmen, minha mulher, viajou comigo, me auxiliando nas traduções e no manejo do laptop durante minhas intervenções.