Santa Cecília

22 de Novembro

Certa vez, o cardeal brasileiro dom Paulo Evaristo Arns assim definiu a arte musical: “A música, que eleva a palavra e o sentimento até a sua última expressão humana, interpreta o nosso coração e nos une ao Deus de toda beleza e bondade”. Podemos dizer que, na verdade, com suas palavras ele nos traduziu a vida da mártir santa Cecília.

A sua vida foi música pura, cuja letra se tornou uma tradição cristã e cujos mistérios até hoje elevam os sentimentos de nossa alma a Deus. Era de família romana pagã, nobre, rica e influente. Estudiosa, adorava estudar música, principalmente a sacra, filosofia e o Evangelho. Desde a infância era muito religiosa e, por decisão própria, afastou-se dos prazeres da vida da Corte, para ser esposa de Cristo, pelo voto secreto de virgindade. Os pais, acreditando que ela mudaria de idéia, acertaram seu casamento com Valeriano, também da nobreza romana. Ao receber a triste notícia, Cecília rezou pedindo proteção do seu anjo da guarda, de Maria e de Deus, para não romper com o voto.

Após as núpcias, Cecília contou ao marido que era cristã e do seu compromisso de castidade. Disse, ainda, que para isso estava sob a guarda de um anjo. Valeriano ficou comovido com a sinceridade da esposa e prometeu também proteger sua pureza. Mas para isso queria ver tal anjo. Ela o aconselhou a visitar o papa Urbano, que, devido à perseguição, estava refugiado nas catacumbas. O jovem esposo foi acompanhado de seu irmão Tibúrcio, ficou sabendo que antes era preciso acreditar na Palavra. Os dois ouviram a longa pregação e, no final, converteram-se e foram batizados. Valeriano cumpriu a promessa. Depois, um dia, ao chegar em casa, viu Cecília rezando e, ao seu lado, o anjo da guarda.

Entretanto a denúncia de que Cecília era cristã e da conversão do marido e do cunhado chegou às autoridades romanas. Os três foram presos, ela em sua casa, os dois, quando ajudavam a sepultar os corpos dos mártires nas catacumbas. Julgados, recusaram-se a renegar a fé e foram decapitados. Primeiro, Valeriano e Turíbio, por último, Cecília.

O prefeito de Roma falou com ela em consideração às famílias ilustres a que pertenciam, e exigiu que abandonassem a religião, sob pena de morte. Como Cecília se negou, foi colocada no próprio balneário do seu palacete, para morrer asfixiada pelos vapores. Mas saiu ilesa. Então foi tentada a decapitação. O carrasco a golpeou três vezes e, mesmo assim, sua cabeça permaneceu ligada ao corpo. Mortalmente ferida, ficou no chão três dias, durante os quais animou os cristãos que foram vê-la a não renegarem a fé. Os soldados pagãos que presenciaram tudo se converteram.

O seu corpo foi enterrado nas catacumbas romanas. Mais tarde, devido às sucessivas invasões ocorridas em Roma, as relíquias de vários mártires sepultadas lá foram trasladadas para inúmeras igrejas. As suas, entretanto, permaneceram perdidas naquelas ruínas por muitos séculos. Mas no terreno do seu antigo palácio foi construída a igreja de Santa Cecília, onde era celebrada a sua memória no dia 22 de novembro já no século VI.

Entre os anos 817 e 824, o papa Pascoal I teve uma visão de santa Cecília e o seu caixão foi encontrado e aberto. E constatou-se, então, que seu corpo permanecera intacto. Depois, foi fechado e colocado numa urna de mármore sob o altar daquela igreja dedicada a ela. Outros séculos se passaram. Em 1559, o cardeal Sfondrati ordenou nova abertura do esquife e viu-se que o corpo permanecia da mesma forma.

A devoção à sua santidade avançou pelos séculos sempre acompanhada de incontáveis milagres. Santa Cecília é uma das mais veneradas pelos fiéis cristãos, do Ocidente e do Oriente, na sua tradicional festa do dia 22 de novembro. O seu nome vem citado no cânon da missa e desde o século XV é celebrada como padroeira da música e do canto sacro.

A esátua de marmore retrata exatamente como Santa Cecília foi encontrada.

2 Comentários

  1. danilo
    nov 22, 2010 @ 17:46:48

    Uma antífona para seu dia diz:”Enquanto os instrumentos musicais soavam(em sua festa de casamento),Cecília pedia ao Senhor que conservasse seu corpo e seu coração imaculados”.Em latim era o cantantibus organis.Isso fez com que sempre fosse representada por um orgão.Na verdade Cecília não ouvia a musica que os instrumentos tocavam.Ela escutava antes a música do amor divino, a musica que torna audível o inaudível,que abre uma janela para o céu.A música verdadeira alegra não só o coração,mas faz soar o inaudível.
    Cecília também a invocada para afastar a depressão,uma aflição muito comum hoje em dia.Quanto mais nossa sociedade tende a se tornar sociedade do prazer,com mais frequencia os lados de sombra reprimidos vêm a luz.Na antiguidade e ainda na idade media, a melancolia era um estado de espírito muito apreciado,visto como pressuposto da contemplação e da criatividade,muito diferente da nossa sociedade de consumo superficial atual, que a vê como uma enfermidade que oprime muitas pessoas.A musica sempre foi um caminho para iluminar estados depressivos.A música nos aproxima de todos os sentimentos do nosso coração:ela nos permite também exprimir sentimentos negativos e , justamente por isso , modificá-los.A musica faz o coração petrificado cantar e vibrar.
    Seu estado de espírito depressivo também pode existir.Você não precisa combatê-lo.De nada adianta ficar sussurrando para si mesmo que voce sempre deveria estar feliz.Ninguem está sempre feliz.Você também as vezes está triste.E talvez seja frequente sentir-se deprimido.
    Cecília lhe mostra 2 caminhos para lidar com sua tristeza e sua depressão.O primeiro caminho é exprimir a depressão.A música torna a melancolia audível.E justamente uma música triste pode tocar o coração. Na medida em que sinto meu coração triste, a tristeza se transforma.A tristeza e a melancolia também são uma forma de vitalidade.Eu me sinto em minha tristeza.O segundo caminho que Cecília nos indica consiste em fazer a música jubilosa penetrar em nossa disposição depressiva.Justamente quando abro meus sentimentos escuros para a música,posso perceber no meio da tristeza a alegria que já está na base de meu coração.A música a desperta para a vida.
    Anselm Grün

  2. Devanir Ribeiro
    nov 22, 2011 @ 08:07:42

    Bom dia Padre Julio Lancelote,fico feliz quando abro meu fecebook e deparo com uma mensagem de estímulo ede esperança