Os riscos da inserção

Marcelo Barros

Vivemos em uma sociedade na qual, diante de certos problemas sociais, as pessoas costumam reagir dizendo: “não vi, não ouvi, não sei de nada”. Provavelmente, isso parece mais seguro e cômodo. Os meios de comunicação nos enchem de notícias de guerra e de tragédias humanas e nós assistimos a tudo impotentes e distantes.

As comunidades tradicionais e os mais diversos caminhos espirituais da humanidade ensinam as pessoas a se comprometerem com a vida e com os acontecimentos. Todos os ritos de iniciação contêm certos riscos para significar um compromisso novo com a sociedade e o mundo. Nas aldeias indígenas, adolescentes correm riscos em caçadas perigosas para voltar à aldeia e serem considerados cidadãos na comunidade. No Judaísmo, o rito da circuncisão celebra o sangue derramado como sinal de um sofrimento que vale a pena viver pela inserção na comunidade. No Cristianismo, o batismo deveria ter esta função. Batismo é um termo grego que significa mergulho. No mundo antigo, para serem aceitos ao batismo, os cristãos deveriam provar que enfrentavam os riscos de serem mal vistos pelo Império, além do assumir um estilo de vida alternativa. O batismo, feito nas águas, continha certa noção de afogamento, do qual a pessoa saía para uma vida nova.

Na tradição popular, muitas vezes, as pessoas ainda batizam filhos para eles não ficarem pagãos. Em alguns casos, pensam até que, batizados, terão mais saúde. Na realidade, com a massificação da Igreja e o costume de batizar crianças recém-nascidas, ficou mais difícil perceber a natureza profética do batismo. Neste domingo, ao recordar a festa do batismo de Jesus, – uma festa importantíssima para as Igrejas do Oriente – católicos, luteranos e anglicanos são convidados a retomar o sentido mais profundo da fé e do batismo como inserção profética no mundo.

O batismo de Jesus foi um ato de inserção. Ele se assumiu como dos muitos devotos que recebia a benção e o perdão do profeta João Batista. No caso de Jesus, a novidade foi que, segundo os evangelhos, neste momento do batismo, o Espírito de Deus desceu sobre Jesus e lhe deu uma vocação profética. Ele assumiu a figura do profeta servidor de Deus e se tornou sinal e instrumento do amor divino no mundo.

O batismo dos cristãos não tem relação com o batismo de João. É mais um gesto para aplicar à nossa vida as conseqüências da morte e da ressurreição de Jesus. Isso significa que quem é batizado deveria viver um estilo de vida nova e propor ao mundo um novo modo de organizar a vida e a sociedade. Por isso, o batismo deve sempre conter um rumo de inserção em uma comunidade e um projeto de vida nova.

Este janeiro de 2009 será marcado no Brasil pelo evento do 9º Fórum Social Mundial e por vários fóruns que acontecerão em Belém nesta ocasião. Um destes fóruns é o 3º fórum mundial de Teologia e Libertação. Para quem se perguntava se a Teologia da Libertação ainda existia ou se tinha morrido, este fórum revela que não só continua forte, como atualmente não é mais somente latino-americana e sim mundial. Teremos teólogos/as da Ásia, da África, da Europa e da América do Norte, ao mesmo tempo, contaremos sim com os nossos pioneiros que vieram da América Latina.

Há 40 anos, em meio aos movimentos sociais que buscavam a transformação do continente, muitos cristãos e cristãs, em nome do seu batismo, começaram a se inserir nesta caminhada pela justiça. No decorrer da história, muitos deles foram mortos por isso. Desta experiência, se fortaleceu a Teologia da Libertação, uma reflexão de fé a partir da realidade da história para ajudar as pessoas a ligarem a fé com a justiça.

Ao me consagrar a uma Teologia Pluralista da Libertação, tenho muita em lidar com uma linguagem cristã que fala do Cristo de forma arrogante, como fundamento primeiro da Teologia, desligando-o das pessoas comuns e de tantos sinais do amor divino, como Buda, Maomé, Xangô, Zumbi dos Palmares e tantos outros instrumentos da atuação de Deus no mundo. Ao aceitar ser batizado, justamente, Jesus se insere nesta realidade e se torna um irmão no meio dos outros a recordar ao mundo o projeto divino.

Como batismo quer dizer mergulho, não podemos deixar de recordar que as águas se tornam instrumentos desta inserção profética na vida divina e na realidade humana. No mundo antigo, os pais da Igreja diziam que quando Jesus desceu às águas do Jordão, as águas foram lavadas e ele foi o restaurador de todo o universo. Hoje, trabalhamos pelo respeito e dignidade da água e vemos no sinal do batismo um gesto que é de profecia divina e é de cuidado ecológico. Aliás, o tema do 3º Fórum Mundial de Teologia e Libertação é justamente “Teologia e Ecologia”.

Para muitos que insistem em uma espiritualidade que consiste apenas em rezar e confessar o nome de Jesus, de uma forma meio desligada da vida, Jesus recorda no Evangelho: “Não é quem me diz ´Senhor, Senhor´ que entra no reino, mas quem faz a vontade do meu Pai que está no céu” (Mt 7, 21). E com relação aos pobres: “é o que fizeste a um destes pequeninos, a mim o fizeste” (Mt 25, 40).

3 Comentários

  1. Carlos Cesar Targino
    jan 12, 2009 @ 09:24:29

    Muito bom dia!!!

    Gostei do texto, permite uma reflexão do nosso batismo, porém deixo uma pergunta: Como atuar, em um mundo onde tudo é para ontem sem sermos alienados? Cada vez mais me sinto impotente ao ver tanta notícia ruim na midia, ao passar pelo centro dessa cidade imensa e ver cada vez mais irmãos em situação tão indigna de viver, enfim, o que fazer e por onde começar?

    Muito obrigado.

    Atenciosamente,

    Carlos Cesar Targino
    [email protected]

  2. marta olemzak gomes
    jan 12, 2009 @ 11:42:44

    Bom,dia meu querido padre júlio, cada vez mais eu admiro o senhor,obrigado pelo senhor existir.” Deus lhe proteja sempre.”

  3. Tatiana Capille Salles
    jan 19, 2009 @ 11:03:37

    OS DEZ MANDAMENTOS

    1°) AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS
    2°) NÃO TOMAR SEU SANTO NOME EM VÃO
    3°) GUARDAR DOMINGOS E FESTAS DE GUARDA
    4°) HONRAR PAI E MÃE
    5°) NÃO MATAR
    6°) NÃO PECAR CONTRA A CASTIDADE
    7°) NÃO ROUBAR
    8°) NÃO LEVANTAR FALSO TESTEMUNHO
    9°) NÃO DESEJAR A MULHER DO PRÓXIMO
    10°) NÃO COBIÇAR AS COISAS ALHEIAS

    Aprendi , quando era muito, muito pequena, os Dez Mandamentos em casa, nas leituras do livrinhos de estórias da bíblica, com ilustrações infantis. Quando cresci um pouco ,retomei a lição nas aulas de catecismo.

    Mais tarde, pela primeira vez, mas não pela ultima, minha mãe me disse que a lei de Deus é uma direção de vida, e que, se todos nós seguíssemos os Dez Mandamentos da Lei de Deus o mundo seria melhor !

    Todos amariam à Deus, não jurariam em falso, ,ouviriam a palavra de Deus por meio do Evangelho, respeitariam e amariam seus pais e seus semelhantes, com seus defeitos e virtudes, mesmo quando estivessem idosos e doentes, não matariam, não trairiam, não roubariam, não acusariam em falso, não cobiçariam o que é do outro.

    Com certeza, os mandamentos de Deus descrevem Sua vontade, e são sinais para seguirmos, regras que , facilitam a vida, e muito. Os Dez Mandamentos são normas de conduta humana, são apontamentos morais que nos aproximam do amor à Deus e aos nossos irmãos .

    Infelizmente, existem pessoas que preocupam-se somente consigo, com seus objetivos e metas, e com seus poderes políticos , hierárquicos e financeiros, e por isso humilham, traem e destroem as vidas dos menores, mas estes ganham o mundo e perdem a vida, perdem o amor e a compaixão.

    Nós, como filhos de Deus, que o amamos, não somos perfeitos, mas procuramos viver de acordo com o desejo e a vontade Dele, vivenciando a verdade e o amor em Cristo.

    Tatiana Jurkstas Capille Salles