Dom Tomás, um pastor-profeta do nosso tempo

Fr. Marcos Sassatelli
Frade Dominicano. Doutor em Filosofia e em Teologia Moral. Prof. na Pós-Graduação em DD.HH. (Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil/PUC-GO). Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arq. de Goiânia. Admin. Paroq. da Paróquia N. Sra. da Terra
Adital

No dia 31 de dezembro de 2012, Dom Tomás Balduino, frade dominicano e bispo-emérito da diocese de Goiás (GO), completará 90 anos de idade. Louvamos e agradecemos a Deus pela vida de Dom Tomás, um pastor-profeta do nosso tempo.

Dom Tomás Balduino nasceu em Posse (GO), em 31 de dezembro de 1922. Cursou Filosofia em São Paulo e Teologia em Saint Maximin, na França, onde concluiu o Mestrado. Em 1957, foi nomeado superior da missão dominicana da Prelazia de Conceição do Araguaia, no Pará. Em 1965, concluiu o Mestrado em Antropologia e Linguística na Universidade de Brasília (UNB). No mesmo ano, foi nomeado administrador apostólico da Prelazia de Conceição do Araguaia. De 1967 a 1999, foi bispo da Diocese de Goiás. Em 1972, participou da criação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), do qual foi presidente de 1975 a 1979. Em 1975, participou também da criação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que presidiu de 1997 a 2003 e da qual, desde 2005, é conselheiro permanente. Dom Tomás é ainda doutor honoris causa da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás e da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Entre as muitas qualidades de Dom Tomás, que -em “seus 90 anos de Romaria” (no dizer de Dom Pedro Casaldáliga)- poderiam ser destacadas, recordo quatro: sua profunda sensibilidade humana; sua extraordinária perspicácia na escuta dos sinais dos tempos; sua prática radicalmente profética e sua fé inabalável na utopia do Reino de Deus, que é a Boa-Notícia de Jesus de Nazaré.

Estas qualidades marcam a história de vida de Dom Tomás, nos edificam a todos/as e nos animam a continuar a luta por “uma outra Igreja possível” e por “um outro mundo possível”.

Dom Tomás -mesmo não tendo participado do Concílio Ecumênico Vaticano II- foi pioneiro na aplicação e na vivência de seus ensinamentos, que desencadearam, no mundo inteiro, um movimento de volta às fontes e de profunda renovação da Igreja. No corrente ano, fazemos a memória dos 50 anos da abertura do Vaticano II.

A Igreja conciliar, pela qual Dom Tomás deu e continua dando sua vida, é uma Igreja igualitária, de irmãos e irmãs, comunitária (Igreja-comunidade, Igreja-comunhão); é uma Igreja Povo de Deus e toda ministerial.

“Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços (ministérios), mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para o bem de todos” (1Cor 12, 4-7).

A Igreja do Concílio Ecumênico Vaticano II é também uma Igreja que busca sempre o consenso, reconhecendo e valorizando o “senso da fé” do povo cristão; é uma Igreja que, a todo momento, perscruta os sinais dos tempos, interpretando-os à luz do Evangelho; é uma Igreja pobre, que faz a Opção pelos Pobres (a “Igreja dos Pobres”); é uma Igreja que reconhece e valoriza o diferente (uma Igreja ecumênica e macroecumênica); enfim, é uma Igreja que se alia aos Movimentos e Organizações Sociais Populares e a todos aqueles e aquelas que lutam por um Mundo Novo, de justiça e irmandade, que -à luz da fé- é a utopia do Reino de Deus, acontecendo na história humana e cósmica.

Dom Aloísio Lorscheider -numa síntese muito bem formulada- oferece-nos uma fotografia nítida da Igreja conciliar. “O Vaticano II – diz ele – faz-nos passar de uma Igreja-instituição ou de uma Igreja-sociedade perfeita para uma Igreja-comunidade, inserida no mundo, a serviço do Reino de Deus; de uma Igreja-poder para uma Igreja pobre, despojada, peregrina; de uma Igreja-autoridade para uma Igreja serva, servidora, ministerial; de uma Igreja piramidal para uma Igreja-povo; de uma Igreja pura e sem mancha para uma Igreja santa e pecadora, sempre necessitada de conversão, de reforma; de uma Igreja-cristandade para uma Igreja-missão, uma Igreja toda ela missionária” (Texto citado por Dom Geraldo Majella Agnelo na contracapa da Liturgia Diária, novembro de 2012).

Em 1968, a Segunda Conferência Geral do Episcopado Latinoamericano de Medellín, na Colômbia, fêz uma releitura do Concílio Ecumênico Vaticano II, aplicando-o à nossa realidade. No Brasil, uma das expressões (talvez a mais significativa) do modelo de Igreja do Vaticano II, à luz da Conferência de Medellín, são certamente as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).

Termino esta breve memória da vida de Dom Tomás e do modelo de Igreja conciliar – com o qual ele se identificou e sempre esteve (e ainda está) comprometido em sua prática pastoral – com as palavras de Dom Pedro Casaldáliga: “São 90 anos, muitos dias, muitos caminhos, com falhas humanas, reconhecidas por ele, mas buscando sempre o espaço do Reino, o apelo do Povo, um possível gesto de solidariedade e de profecia. Ele tem uma personalidade inclaudicável. Em continuidade perseverante, com a letra miúda e o traço teimoso aprendido já na família e por esses sertões e veredas da libertação” (Pedro Casaldáliga, Bispo pé no chão e universal. Em: Ivo Poletto (org.). Solidário mestre da vida. Celebrando os 90 anos de Dom Tomás Balduino. Paulinas, São Paulo, 2012, p. 17. Leia o livro! Vale a pena!).

Parabéns, Dom Tomás! Muitos anos de vida! Sua presença é importante para nós!