A história da Biblioteca de Alexandria

 

Biblioteca de Alexandria

…Justiça seja feita a São Teófilo!

Destruição da Grande Biblioteca de Alexandria

A Biblioteca de Alexandria foi uma das maiores bibliotecas do mundo e se localizava na cidade egípcia de Alexandria que fica ao norte do Egito, situada a oeste do delta do rio Nilo, às margens do Mar Mediterrâneo.

A biblioteca de Alexandria é uma lenda. Não um mito, mas uma lenda. A destruição da biblioteca do mundo antigo foi recontada muitas vezes. Muita tinta foi derramada, antiga e moderna, sobre os 40.000 volumes abrigados nos depósitos perto do porto, que foram supostamente queimados quando Julius Caesar incinerou a frota do irmão de Cleopatra. A figura de Hypatia, uma matemática, sendo arrastada de sua carruagem  por uma multidão de monges pagões e queimada viva em cima dos restos da biblioteca encontram seu lugar na lenda também. Contudo quando nós soubermos de muitos boatos da destruição “da biblioteca” (na verdade, havia ao menos três bibliotecas diferentes que coexistiam na cidade), e se sabe hoje de escolas inteiras em Alexandria e o scholarship, existem poucos dados sobre as localizações, disposições, terras arrendadas, organização, administração, e estrutura física do lugar.

A história é bonita, mas, como toda história, diz apenas parte da História. Em termos mais objetivos, o mais provável é que a Biblioteca tenha sucumbido a vários incêndios, e muitos deles foram apontados por renomados eruditos como os que causaram a destruição da Biblioteca. O iniciado por Amr a pedido do califa Omar teria sido o último dos últimos e também o mais credível, a confiar em Canfora.

Outro incêndio freqüentemente citado é o que teria sido provocado por Júlio César em 48 a.C., quando o general romano decidiu ajudar Cleópatra, que travava então uma espécie de guerra civil com seu irmão Ptolomeu 13, e ateou fogo à esquadra egípcia. O incêndio teria consumido entre 40 mil e 400 mil livros. Uma outra versão diz que o que sobrara da Biblioteca foi destruído em 391 da Era Cristã.

Depois que o imperador Teodósio baixou decreto proibindo as religiões pagãs, o bispo de Alexandria Teófilo (385-412 d.C.) determinou a eliminação das seções que haviam sido poupadas por incêndios anteriores, pois as considerava um incentivo ao paganismo.

Na verdade, todas essas versões merecem alguma consideração e não são necessariamente incompatíveis, pois a Biblioteca, ao longo de mais de dez séculos de existência, foi se espalhando por vários edifícios e depósitos da cidade. O fogo em um deles teria poupado os demais, e vice-versa. (O incêndio provocado por César, por exemplo, ocorreu no porto. Só poderia, segundo Canfora, ter destruído livros recém-chegados ou prontos para ser embarcados, pois os edifícios principais da Biblioteca, o Museum e o Serapeum, ficavam longe do porto).

A destruição da grande biblioteca de Alexandria foi rematada pelos árabes em 646 da era cristã. Mas essa destruição fora precedida de outras , e o furor com que essa fantástica coleção de saber foi aniquilada é particularmente significativo.

A biblioteca de Alexandria parece ter sido fundada por Ptolomeu ou por Ptolomeu II . A cidade foi fundada , como seu próprio nome diz, por Alexandre, o Grande , entre 331 e 330 a.C. Escoou-se quase mil anos antes de a biblioteca ser destruida.

Alexandria foi, talvez, a primeira cidade do mundo totalmente construida em pedra, sem que se utilizasse nenhuma madeira. A biblioteca compreendia dez grandes salas , e quartos separados para os consultatntes. Discute-se , ainda , a data de sua fundação e o nome de seu fundador, mas o verdadeiro fundador , no sentido de organizador e criador da biblioteca, e não simplesmente do rei que reinava ao tempo de seu surgimento, parece ter sido um personagem de nome Demétrios de Phalère.

Desde o começo , ele agrupou setecentos mil livros e continuou aumentando sempre esse número . Os livros eram comprados às expensas do rei. Esse Demétrios de Phalère , nascido em 354 e 348 a.C. , parece ter conhecido Aristóteles . Apareceu em 324 a.C. como orador público , em 317 foi eleito governador de Atenas e governou-a durante dez anos, de 317 a 307 a.C.

Impôs um certo número de leis , notadamente uma, de redução do luxo nos funerais. Em seu tempo , Atenas contava 90.000 cidadãos , 45.000 estrangeiros e 400.000 escravos. No que concerne à própria figura de Demétrios, a História no-lo apresenta como um juiz de elegancia em seu país; foi o primeiro ateniense a descolorir os cabelos , alourando-os com água oxigenada.

Depois foi banido de seu governo e partiu para Tebas . Lá escreveu um grande número de obras , uma com título estranho : Sobre o feixe de luz no céu , que é , provavelmente , a primeira obra sobre os disco voadores. Em 297 a. C., o faraó Ptolomeu persuadiu Demétrios a instalar-se em Alexandria. Fundou, então , a biblioteca.

Ptolomeu I morreu em 283 a.C. e seu filho Ptolomeu II exilou Demétrios em Busiris, no Egito. Lá, Demétrios foi mordido por uma serpente venenosa e morreu. Demétrios tornou-se célebre no Egito como mecenas das ciencias e das artes , em nome do Rei Ptolomeu I, Ptolomeu II continuou a interessar-se pela biblioteca e pelas ciencias, sobretudo pela zoologia. Nomeou como bibliotecário a Zenodotus de Éfeso , nascido em 327 a.C. , e do qual ignoram as circunstancias e data da morte. Depois disso, uma sucessão de bibliotecários , através dos séculos , aumentou a biblioteca, aí acumulando pergaminhos, papiros, gravuras e mesmo livros impressos, se formos cre em certas tradições. A biblioteca continha portanto documentos inestimáveis. Colecionou, igualmente , documentos dos inimigos, notadamente de Roma.

Pela documentação de lá, poder-se-ia constituir uma lista bastante verossímil de todos os bibliotecários até 131 a.C.

Depois disso , as indicações se tornam vagas ,Sabe-se que um bibliotecário se opôs , violentamente, a primeira pilhagem da biblioteca por Júlio Cesar, no ano 47 a.C. , mas a História não tem o seu nome. O que é certo é que já na época de Júlio cesar a biblioteca de Alexandria tinha a reputação corrente de guardar livros secretos que davam poder praticamente ilimitado.

Quando Julio César chegou a Alexandria a biblioteca tinha pelo menos setecentos mil manuscritos. Quais ? E por que se começou a temer alguns deles?

Os documentos que sobreviveram dão-nos uma idéica precisa. Havia lá livros em grego. Evidentemente, tesouros : toda essa parte que nos falta da literatura grega clássica. Mas entre esses manuscritos não deveria aparentemente haver nada de perigoso. Ao contrário , o conjunto de obras de Bérose é que pode inquietar. Sacerdote babilônico refugiado na Grécia , Bérose nos deixou de um encontro o relato com os extraterrestres : os misteriosos Apkaluus , seres semelhantes a peixes , vivendo em escafrandos e que teriam trazido aos homens os primeiros conhecimentos científicos. Bérose viveu no tempo de Alexandre , o Grande , até a época de Ptolomeu I. Foi sacerdote de Bel-Marduk na Babilônia. Era historiador , astrólogo e astrônomo. Inventou o relógio de sol semicircular.

Fez uma teoria dos conflitos entre os raios do Sol e da Lua que antecipa os trabalhos mais modernos sobre a interferencia da luz . Podemos fixar as datas de sua vida em 356 a.C. , nascimento , e 261 , na sua morte. Uma lenda contemporanea diz que a famosa Sybila , que profetizava , era sua filha. A História do Mundo de Bérose , que descrevia seus primeiros contatos com os extraterrestres , foi perdida. Restam alguns fragmentos , mas a totalidade desta obra estava em Alexandria . Nela estavam todos os ensinamentos dos extraterrestres.

Encontrava-se em Alexandria, também , a obra completa de Manethon . Este , sacerdote e historiador egípcio , contemporaneo de Ptolomeu I e II , conhecera todos os segredos do Egito. Seu nome mesmo pode ser interpretado como “o amado de Thot ” ou “detentor da verdade de Toth”. Era o homem que sabia tudo sobre o Egito , lia os hieroglifos, tinha contato com os ultimos sacerdotes egípcios. Teria ele mesmo escrito oito livros , e reuniu quarenta rolos de pergaminho , em Alexandria , que continham todos os segredos egípcios e provavelmente o Livro de Toth . Se tal coleção tivesse sido conservada , saberíamos , quem sabe , tudo o que seria preciso saber sobre os segredos do Egito. Foi exatamente isto que se quis impedir. A biblioteca de Alexandria continha obras de um historiador fenício, Mochus, ao qual se atribui a invenção da teoria atomica.

Ela continha , ainda , manuscritos indianos extraordináriamente raros e preciosos. De todos esses manuscritos não resta nenhum traço. Conhecemos o número total dos rolos quando a destruição começou: quinhetos e trinta e dois mil e oitocentos. Sabemos que existiu uma seção que se poderia batizar de “Ciências Matemáticas ” e outra de “Ciências Naturais”. Um catalogo geral igualmente existia . Também este foi destruído. Foi César quem inaugurou estas destruições. Levou um certo número de livros , queimou uma parte e gradou o resto . Uma incerteza persite ainda em nossos dias sobre esse episódio, e 2.000 anos depois da sua morte, Julio César tem ainda partidários e adversários. Seus partidários dizem que ele jamais queimou livros na própria biblioteca; aliás um certo número de livros prontos a ser embarcados para Roma , foi queimado num dos depósitos do cais do porto de Alexandria , mas não foram os romanos que lhe atearam fogo.

Ao contrário, certos adversários de Cesar dizem que grande número de livros foi deliberadamente destruído. A estimativa do total varia de 40.000 a 70.000. Uma tese intermediária afirma que as chamas provenientes de um bairro onde se lutava , ganharam a biblioteca e destruiram-na acidentalmente. Parece certo , em todo caso, que tal destruição não foi total. Os adversários e os partidários de Cesar não dão referência precisa , os contemporaneos nada dizem e os escritos mais próximos do acontecimento lhe são posteriores de dois séculos. César mesmo, em suas obras , nada disse .

Parece mesmo que ele se “apoderou” de certos livros que lhe pareciam especialmente interessantes. A maior parte dos especialistas em história egípcia pensa que o edificio da biblioteca deveria ser de grandes dimensões para conter setecentos mil volumes , salas de trabalho , gabinetes particulares , e que um monumento de tal importancia não pode ser totalmente destruído por um principio de incendio . ë possivel que o incêndio tenha consumido estoques de trigo , assim como rolos de papiro virgem. Não é certo que tenha desvastado grande parte da livraria , não é certo que ela tenha sido totalmente aniquilada. É certo , porém , que uma quantidade de livros considerados particularmente perigosos , desapareceu. A ofensiva seguinte , a mais séria contra a livraria , parece ter sido feita pela Imperatriz Zenóbia. Ainda desta vez a destruição não foi total , mas livros importantes desapareceram. Conhecemos a razão da ofensiva que lançou depois dela o Imperiador Diocleciano ( 284-305 d.C.) . Documentos contemporaneos estão de acordo a este respeito.

Diocleciano quis destruir todas as obras que davam os segredos de fabricação do ouro e da prata . Isto é , todas as obras de alquimia . Pois ele pensava que se os egípcios pudessem fabricar à vontade o ouro e a prata , obteriam assim meios para levantar um exército e combater o império. Diocleciano mesmo, filho de escravos, foi proclamado imperador em 17 de setembro de 284.

Era , ao que tudo indica , perseguidor nato e o ultimo decreto que assinou antes de sua abdicação em maio de 305 , ordenava a destruição do cristianismo. Diocleciano foi de encontro a uma poderosa revolta do Egito e começou em julho de 295 o cerco a Alexandria. Tomou a cidade e nessa ocasião houve massacres inomináveis. Entretanto , segundo a lenda , o cavalo de Diocleciano deu um passo em falso ao entrar na cidade conquistada,e Diocleciano interpretou tal acontecimento como mensagem dos deuses que lhe mandavam poupar a cidade. A tomada de Alexandria foi seguida de pilhagens sucessivas que visavam acabar com os manuscritos de alquimia .

E todos os manuscritos encontrados foram destruidos. Eles continham, ao que parece , as chaves essenciais da alquimia que nos faltam para compreensão dessa ciencia , principalmente agora que sabemos que as transmutações metálicas são possiveis . Não possuímos lista dos manuscritos destruidos , mas a lenda conta que alguns dentre eles eram obras de Pitagoras , de Salomão ou do próprio Hermes. É evidente que isto deve ser tomado com relativa confiança. Seja como for, documentos indispensáveis davam a chave da alquimia e estão perdidos para sempre : mas a biblioteca continuou. Apesar de todas as destruições sistemáticas que sofreu , ela continuou sua obra até que os árabes a destrtuíssem completamente. E se os árabes o fizeram , sabiam por que o faziam . Já haviam destruido , no próprio Islão — como na Persia — grande número de livros secretos de magia , de alquimia e de astrologia.

A palavra de ordem dos conquistadores era “não há necessidade de outros livros , senão o Livro” , isto é, o Alcorão. Assim , a destruição de 646 d.C. visava não propriamente os livros malditos , mas todos os livros . O historiador muçulmano Abd al-Latif ( 1160-1231 ) escreveu : “A biblioteca de Alexandria foi aniquilada pelas chamas por Amr ibn-el-As, agindo sob as ordens de Omar , o vencedor”.

Esse Omarse opunha aliás a que se escrevessem livros muçulmanos , seguindo sempre o principio : “o livro de Deus é-nos suficiente”. Era um muçulmano recém-convertido , fanático , odiava os livros e destruiu-os muitas vezes porque não falavam do profeta. É natural que terminasse a obra começada por Julio César , continuada por Diocleciano e outros. Se documentos sobreviveram a esses autos-de-fé, foram cuidadosamente guardados desde 646 d.C. e não mais reapareceram .

E se certos grupos secretos possuem atualmente manuscritos provenientes de Alexandria , dissimulam isto muito bem. Retomemos , agora, o exame desses acontecimentos à luz da tese que sustentamos : a existencia desse grupo que chamamos de Homens de Negro e que constitui uma organização visando a destruição de determinado tipo de saber. Parece evidente que tal grupo se desmascarou em 391 depois que procurou , sistematicamente , sob Diocleciano , e destruiu as obras de alquimia e magia. Parece evidente , também , que tal grupo nada teve a ver com os acontecimentos de 646 : o fanatismo muçulmano foi suficiente. Em 1692 foi nomeado para o Cairo um consul frances chamado M. de Maillet . Ele assinalou que Alexandria é uma cidade praticamente vazia e sem vida.

Os raros habitantes , que são sobretudo ladrões , se encerram em seus esconderijos. As ruinas das construções estão abandonadas. Parece provável que , se livros sobreviveram ao incendio de 646 , não estavam em Alexandria naquela época; trataram de evacua-los. A partir daí, fica-se reduzido a hipóteses. Fiquemos nesse plano que nos interessa, isto é, o dos livros secretos que dizem respeito às civilizações desaparecidas , à alquimia , à magia ou às técnicas que não mais conhecemos. Deixaremos de lado os clássicos gregos , cuja desaparição é evidentemente lamentável. mas escapa a nosso assunto. Voltemos ao Egito. Se um exemplar do Livro de Toth existiu em Alexandria, César apoderou-se dele como fonte possivel de poder .

Mas o Livro de Toth não era certamente o unico documento egípcio em Alexandria. Todos os enigmas que se colocam ainda sobre o Egito teriam , talvez , solução , se tantos documentos egípcios não tivessem sidos destruidos. E entre esses documentos, eram particularmente visados e deveriam ser destruídos , no original e nas cópias, depois os resumos : aqueles que descreviam a civilização que precedeu o Egito conhecido. ë possivel que alguns traços subsistam , mas o essencial desapareceu e essa destruição foi tão completa e profunda que os arqueologos racionalistas pretendem , agora , que se pode seguir no Egito o desenvolvimento da civilização do neolítico até as grandes dinastias , sem que nada venha a provar a existencia de uma civilização anterior.

Assim também a História , a ciencia e a situação geográfica dessa civilização anterior nos são totalmente desconhecidas. Formulou-se a hipótese que se tratava de uma civilização de Negros. Nessas condições , as origens do Egito deveriam ser procuradas na äfrica .

Talvez tenham desaparecido em Alexandria , registros , papiros ou livros provenientes dessa civilização desaparecida. Foram igualmente destruidos tratados de alquimia os mais detalhados , aqueles que permitiriam , realmente obter a transmutações dos elementos. Foram destruidas obras de magia. Foram destruidas provas do encontro com extraterrestres do qual Bérose falou, citando os Apkallus. Foram destruidos . . . mas como prosseguir enumerando tudo o que ignoramos ! A destruição tão completa da biblioteca de Alexandria é, certamente, o maior sucesso dos Homens de Negro

A Biblioteca de Alexandria

Na sexta-feira da lua nova do mês de Moharram, no vigésimo ano da Hégira (isso equivale a 22 de dezembro de 640), o general Amr Ibn al-As, o emir dos agareus, conquistava Alexandria, no Egito, colocando a cidade sob o domínio do califa Omar. Era um dos começos do fim da famosa Biblioteca de Alexandria, construída por Ptolomeu Filadelfo no início do terceiro século a.C. para “reunir os livros de todos os povos da Terra” e destruída mais de mil anos depois.

A idéia de reerguer a mais formidável biblioteca de todos os tempos surgiu no final dos anos 70 na Universidade de Alexandria. Em 1988, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, assentou a pedra fundamental, mas foi só em 1995 que as obras realmente começaram. O suntuoso edifício de 11 andares, que custou US 212 milhões, boa parte dos quais pago pela Unesco, foi concluído no ano passado. Só a sala de leitura da biblioteca principal tem 38.000 m2, a maior do mundo. O acervo, que ainda não foi inteiramente reunido, deverá contar com 5 milhões de livros. Será interessante ver como o governo egípcio, que não é exatamente um entusiasta das liberdades de informação e expressão, administrará as coisas. Haverá, por exemplo, um exemplar dos “Versos Satânicos” (obra de Salman Rushdie, tida como ofensiva ao Islã)? E quanto a livros que critiquem o próprio governo egípcio? Todos os cidadãos terão acesso a todas as obras? Mas não é tanto a nova biblioteca que me interessa, e sim a velha, mais especificamente a sua destruição.

Na verdade, seria mais correto falar em destruições. Como nos mitos, há na extinção da Biblioteca de Alexandria uma série de componentes políticos. A historieta com a qual iniciei esta coluna é uma das versões. É contra os árabes. Existem outras, contra os cristãos, contra os pagãos. Nenhum povo quer ficar com o ônus de ter levado ao desaparecimento da biblioteca que reunia “os livros de todos os povos”. É curioso, a esse respeito, que o site oficial da biblioteca (http://www.bibalex.gov.eg) só registre as versões anticristã e antipagã. A contrária aos árabes é descartada sem nem mesmo ser mencionada. Utilizo aqui principalmente informações apresentadas pelo italiano Luciano Canfora, em seu excelente “A Biblioteca Desaparecida”.

Voltemos à velha Alexandria. Amr Ibn al-As não era uma besta inculta, como se poderia esperar de um militar. Quatro anos antes da tomada de Alexandria, em 636, ao ocupar a Síria, Amr chamara o patriarca e lhe propusera questões bastante sutis acerca das Escrituras e da suposta natureza divina de Cristo. Chegou a pedir que se verificasse no original hebraico a exatidão da “Septuaginta”, a tradução grega do Antigo Testamento, em relação a uma passagem do “Gênesis” que surgira na discussão.

Logo que chegou a Alexandria, Amr passou a frequentar João Filopão, um então já avançado em anos comentador de Aristóteles, cristão, da irmandade dos “filopões”. Era também um quase herético, que defendia teses monofisistas, mas essa é outra história.

No curso de uma das longas e eruditas discussões que travavam, Filopão falou a Amr da Biblioteca, contou como ela surgiu, que chegou a reunir quase 1 milhão de manuscritos e pediu a liberação dos livros remanescentes, que, como tudo o mais na cidade, estavam sob poder das tropas do general. O militar afirmou que não poderia dispor dos códices sem antes consultar o califa e prontificou-se a escrever para o soberano.

Algum tempo depois (estou relatando a versão curta da história), o emissário de Omar chegou com a resposta, que não poderia ser mais clara: “Quanto aos livros que mencionaste, eis a resposta; se seu conteúdo está de acordo com o livro de Alá, podemos dispensá-los, visto que, nesse caso, o livro de Alá é mais do que suficiente. Se, pelo contrário, contêm algo que não está de acordo com o livro de Alá, não há nenhuma necessidade de conservá-los. Prossegue e os destrói”.

É o que fez Amr. Dizem que ele distribuiu os livros entre todos os banhos públicos de Alexandria, que eram em número de 4.000, para que fossem usados como combustível. Pelos relatos, foram necessários seis meses para queimar todo aquele material. Apenas os trabalhos de Aristóteles teriam sido poupados.

A nova biblioteca

 Biblioteca Alexandrina, integra, para além da principal, quatro bibliotecas especializadas, laboratórios, um planetário, um museu de ciências e um de caligrafia e uma sala de congresso e de exposições. A instituição pretende ser um dos centros de conhecimento mais importantes do mundo assim com sua antecessora.

Biblioteca de Alexandria
O edifício da atual biblioteca de Alexandria

O projeto da biblioteca é da autoria de uma firma de arquitectos noruegueses, a Snohetta. A construção demorou sete anos, mas a ideia nasceu em 1974. Os principais financiadores da instituição foram a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e o governo egípcio e o custo total da obra rondou os 200 milhões de euros.

Inicialmente, a ideia era dotar a biblioteca de oito milhões de livros, mas como foi impossível angariar essa quantidade ficou pela metade. Assim, foi dada prioridade à criação de uma biblioteca cibernética. No local estão ainda guardados dez mil livros raros, cem mil manuscritos, 300 mil títulos de publicações periódicas, 200 mil cassetes áudio e 50 mil vídeo.

No total podem trabalhar na Biblioteca de Alexandria cerca de 3500 investigadores, que têm ao dispor 200 salas de estudo

Um Comentário

  1. Juscelino Duarte da Silva
    ago 14, 2011 @ 17:32:18

    mande para mim historia das religioes e dos reformadores das época