A janela

Pe. Alfredo José Gonçalves, cs

No meio da noite a insônia me levou à janela.
Um cão ao longe e uma sirene quebravam o silêncio.
Raros e tardios automóveis cruzavam o viaduto.
No ar vibrava a respiração surda da metrópole,
este imenso organismo vivo e inquieto
que nunca dorme nem descansa.
Baixai a vista e topei com uma fila de cobertores,
cheios de nódoas, manchas e de buracos,
estendidos no chão ao longo do muro de concreto.
Sob eles agitavam-se algumas silhuetas humanas,
onde era fácil adivinhar corpos de crianças.

Quando já me preparava para dar veia volta,
regressar à cama e tentar reconciliar o sono,
levantou-se uma das silhuetas, a que parecia maior,
permanecendo por alguns segundos sentada.
Menina de uns dez anos, cabelos em desalinho,
olhava atentamente para os “invólucros” em volta.

De pé e um pouco desajeitada pelo sono,
percorreu uma a uma a “cama” das outras crianças.
Com uma ternura inesperada e inefável,
ao mesmo tempo feminina e materna,
pôs-se a cobrir os pezinhos nus de cada uma.

Como dormir com esse barulho no coração e na cabeça?!…

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