Acreditar e anunciar

“O valor oculto pouco difere da inércia enterrada.” – Horácio

“Caro amigo, você não me conhece, mas vivemos no mesmo ambiente. A meu respeito, você sabe apenas de alguns hábitos, principalmente os alimentares. Já sobre você, eu conheço muito mais do que suas preferências gastronômicas. Eu o observo, aqui de onde estou, e participo à distância de suas conversas, diálogos, aliás, bem pouco pacíficos, na maioria das vezes. Lembro-me da última, em que você foi claramente execrado por não querer se aproveitar da disposição de pessoas queridas para levar vantagem e se dispensar de obrigações básicas. Coisa triste isso que acontece entre vocês! Nossa comunidade não tem nada do que vocês chamam civilização, não somos “não-sei-o quê-sapiens”, mas nossos instintos não deixam espaço para comportamentos assim tão destrutivos. Entre nós não existe o ataque gratuito, apenas a defesa, quando colocam nossa vida em risco.

Mas voltemos ao assunto: você defende a prática da Justiça. E é injustamente acusado de ser apenas um bobo, “certinho”, e outros adjetivos de igual natureza. Você defende a prática do Direito nas relações pessoais. E é ignorado no esforço de fazer com que ao menos no seu grupo essa prática aconteça de verdade. Você defende a Paz. E apontam para você, armas poderosas que incitam e sustentam pequenas e grandes guerras onde quer que exista alguém disposto a expor a própria capacidade de destruir o outro.

Sei que você acredita vivamente em todos esses valores, não os tendo como palavras mortas, perdidas nas páginas de algum dicionário. E que só entende o mundo construído sobre e a partir deles. Se é verdade que não sei onde você foi buscar essas certezas, também é evidente que as terá recolhido em alguma fonte de onde jorra a utopia de um mundo feliz aqui e agora para todos.

Siga em frente, amigo, siga em frente sem medo. Fale. Grite. Pense bem: a propaganda vende produtos perecíveis, alguns deles nocivos à vida humana, com tanto empenho, criatividade, glamour… Ora, o que você anuncia vale infinitamente mais, portanto deve ter prioridade. Anuncie. Aconteça o que acontecer, anuncie. Porque até nós, formigas, sabemos que vocês foram feitos para compartilhar crenças e construir um mundo melhor”.

Rubens Marchioni – [email protected]