Água, terra e teologia para outro mundo possível

Claudemiro Godoy do Nascimento

Com o tema “Água, Terra e Teologia para outro Mundo possível” realizar-se-á em Belém, estado do Pará, na Amazônia brasileira o III Fórum Mundial de Teologia e Libertação, entre os dias 21 a 25 de janeiro. Este evento antecede a realização do Fórum Social Mundial que também se realizará em Belém de 27 de janeiro a 01 de fevereiro de 2009.

Esperamos um momento de profunda reflexão e trocas de experiências sobre o papel da Teologia da Libertação no século XXI. A temática indica-nos que o evento terá como eixo norteador a questão ecológica e as perspectivas de outro mundo possível, sustentável e que afirme a soberania dos povos. A água e a terra se tornam lugares teológicos de reflexão e de construção de alternativas que venham superar a lógica desenvolvimentista irracional com seu mito do progresso que se encontra a serviço do deus capital. Portanto, nestes dias, mais de 400 pessoas do mundo todo estarão reunidas em torno de um único objetivo: fazer a utopia necessária de outro mundo que possibilite o respeito com a vida ameaçada no planeta devido à ganância da humanidade que aprendeu a destruir em nome do crescimento econômico irresponsável.

Com seu caráter interdisciplinar, muitas atividades estão programadas, a saber: conferências, plenárias, oficinas, comunicações, rituais matutinos, celebrações e confraternizações, visitas a projetos de desenvolvimento e pastorais em contexto de vulnerabilidade, café teológico e o painel de encerramento. Todas essas atividades estarão sendo realizadas com o intuito de promover a interação dos participantes em diversos espaços de construção desse mundo, tendo como eixo teológico: a água e a terra. Dentre os rituais matutinos, ter-se-á três momentos: o ritual da água, o ritual da terra e o ritual do corpo.

Serão três conferências que terão como função apresentar teologicamente o tema geral sob vários ângulos de análise, considerando os aspectos regionais da Amazônia como lugar socioespacial de importância planetária para o futuro do planeta. São elas: a primeira, com o teólogo Leonardo Boff (Brasil) que irá abordar o tema “Água, Terra, Teologia: rumo a um paradigma ecológico”; a segunda, com Emilie Townes (Estados Unidos) e Steve DeGruchy (África do Sul) que abordarão o tema “Espiritualidade e Ética na Agenda da Sustentabilidade”; a terceira, com Chung Hyun Kyung (Estados Unidos), Mary Hunt (Estados Unidos) e Michel Dubois (França) com o tema “Dimensão Eco-Teológica da corporalidade”. Além dessas três conferências, uma quarta merece especial atenção. Trata-se da Conferência com a Senadora Marina Silva que abordará o tema “A vida no Planeta desde a Amazônia” e como debatedor o teólogo Leonardo Boff. Por fim, uma quinta conferência chamada pelos organizadores de pública que será com Patrick Viveret (França) com o tema “Futuro da Terra”.
Outros dois momentos importantes dar-se-á com a realização das Oficinas e com as Comunicações que estão organizadas a partir de 11 eixos temáticos, a saber: 1) Religiões, ecumenismo e diálogo inter-religioso; 2) Culturas, etnias e teologia; 3) Política, economia e teologia; 4) Direitos Humanos, democracia e teologia; 5) Paz, alternativa à violência e teologia; 6) Textos sagrados e teologia; 7) Ecologia, corporeidade e teologia; 8 ) Gênero, feminismos e teologia; 9) Opção pelos pobres e teologia; 10) Arte, comunicação e teologia; 11) Novas Tecnologias e Teologia. Tanto oficinas como as comunicações possuem os mesmos eixos temáticos.

Algumas temáticas que serão abordadas nas oficinas nos chamam a atenção. Destaco em primeiro lugar, a oficina que será coordenada por Daniela Cordovil (UEPA) sobre “Pluralismo religioso na Amazônia: diálogos entre cultos de origem africana, pajelança, catolicismo e pentecostalismo” (Eixo 1). A questão da crise financeira também será abordada com profundidade por Vitor Galdino Feller e Klaus da Silva Raupp, ambos do ITESC, sobre “Verdades e mitos sobre o deus capital: reflexões a partir da crise financeira de 2008” (Eixo 3). Chamou-nos a atenção também a oficina que será desenvolvida por Lucí Faria Pinheiro (UFF) sobre as “Estratégias dos movimentos sociais em face à conjuntura neoliberal. O MST e o Cristianismo da Libertação” (Eixo 7) que também apresentará o mesmo tema na sessão de comunicações.

As comunicações será um momento importante também para que se conheçam os estudos teológicos e interdisciplinares que estão sendo produzidos na academia ou fora dela, até mesmo, nos próprios movimentos sociais. No primeiro momento, chamou-me a atenção o trabalho que será abordado por Antonio Carlos Teles da Silva com o tema: “Uma Teologia das Águas Amazônicas”, bem como “Identidade Quilombola e Território” que será apresentado por Maria Albenize Farias Malcher, ambos os trabalhos inseridos no Eixo 2. No eixo 3, destaco o trabalho de Geraldo Antônio da Rosa sobre “Contestado: movimento social e seu desdobramento na atual situação educacional da região”, um resgate histórico importante do ponto de vista da educação que poderá nos ajudar a compreender melhor este importante movimento messiânico do campo. Mayra Cristina Faro e Francisca Glena Barbosa irão abordar a seguinte temática “Natureza Sagrada: a ecoespiritualidade na sociedade atual” (Eixo 7). E a mesma Mayra Cristina Faro abordará um tema novo e que me causa muita expectativa, agora no eixo 8 com o seguinte tema: “Mistérios de Patu-Anu: um estudo sobre a pajelança e as mulheres pajés em Soure (Ilha do Marajó)”. No eixo 9, Jairo Cardoso da Costa nos brindará com uma temática pedagogicamente sempre atual, com o tema: “A Pedagogia do Oprimido e a Teologia da Libertação: as contribuições de Paulo Freire e Leonardo Boff” e no eixo 10 abordará “O conceito de Pedagogia e Teologia em Comenius”; Também no mesmo eixo, Leonízia Izabel da Silva abordará sobre as “CEBs, teimosia e resistência no contexto eclesial e social”.

Irei abordar uma comunicação no eixo 9 com o seguinte tema: “Emancipação e Libertação: a opção pelos pobres em tempos de pós-neoliberalismo” onde buscamos Queremos refletir acerca da dialética emancipação-libertação em tempos de pós-neoliberalismo. Emancipar para libertar e libertar para emancipar à luz da opção preferencial pelos pobres hoje é tema de ecologia. A teologia da libertação se torna a fundamentação epistemológica para militantes dos movimentos sociais organizados. Neste sentido, como emancipar e libertar na perspectiva de outro mundo possível? Como pensar a irrupção dos pobres hoje diante da lógica do capital em crise? As experiências são locais e globais. Por isso, queremos possibilitar uma reflexão sócio-educativa de três segmentos da sociedade civil, a saber: trabalhadores rurais, quilombolas e indígenas localizados no Estado do Tocantins que ousam em continuar a teimosia evangélica de libertação e emancipação.

Apontamos de forma subjetiva algumas temáticas de oficinas e comunicações, mas outras serão abordadas com suas importâncias e riquezas. Além disso, o espaço do café teológico, as celebrações e confraternizações possibilitarão o encontros dos sujeitos participantes que buscam também momentos de mística para que possamos nos animar na caminhada dura e árdua em defesa da Água, da Terra e da construção desse mundo possível a todos e todas.