Ano Sacerdotal: o Pe. Charles de Foucauld (II)

Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues

“Tão logo cri em Deus, compreendi que não podia fazer outra coisa senão viver para Ele”. “Minha vocação religiosa começa na mesma hora que minha fé: Deus é tão grande!” Dando continuidade às nossas reflexões em torno do Ano sacerdotal, vejamos hoje o que significou na vida do Pe. Charles de Foucauld a fé em Deus que se revelou a ele em resposta à sua prece: “Deus meu, se existis, fazei eu vos conheça”.

Em 1890 Charles de Foucauld entra para a Trapa “Nosssa Senhor das Neves” na França. Seis meses após se decide por uma Trapa muito mais pobre em Akbés na Síria. Começa então a elaborar um projeto de congregação religiosa “à sua maneira”: “eu suspiro por Nazaré”, afirma. Pede então dispensa dos votos. Em outubro de 1896, estando na Argélia, ele é enviado a Roma para estudar e em 1897 o Abade geral dos trapistas o deixa livre para seguir sua vocação. A partir de março de 1897, Charles está em Nazaré onde assume a função de porteiro das Clarissas e vive numa cela junto da clausura. Diz então: “tive a permissão de ficar só em Nazaré e de viver, como operário, desconhecido, de meu trabalho cotidiano: solidão – prece – adoração – meditação do evangelho – trabalho humilde”. Aí permanece um pouco mais de três anos Esse tempo, ele assim o definiu: “para me assemelhar mais ainda a Jesus”. Volta então à França e em Nossa Senhora das Neves se prepara para ser padre e é ordenado em nove de junho de 1901.

Um ano antes ele havia escrito: “só pelo fato de celebrar a missa eu darei a Deus maior glória e farei aos homens maior bem”. Em setembro de 1901 o Pe. Charles de Foucauld se estabelece em Beni-Abbés, na Argélia, onde constrói uma casa para fundar a comunidade dos Pequenos Irmãos do Sagrado Coração de Jesus dentro de uma Regra “monástica”. Seu objetivo: “continuar no Saara a vida oculta de Jesus em Nazaré, não para pregar, mas para viver na solidão a pobreza, o humilde trabalho de Jesus. Na região verifica a prática da escravidão. Alerta sobre isso amigos e autoridades. Resgata alguns escravos.

Em 1904 entra em contato com os tuaregues, estuda sua língua e começa a traduzir para o tuaregue o evangelho. Nenhum sacerdote tinha entrado antes no mundo dos tuaregues, população seguidora do islamismo e hostil, sobretudo aos franceses. Instala-se em Tamanrasset e empreende um enorme trabalho científico sobre a língua dos tuaregues, suas canções, poesias e se faz ajudar por alguém do país. Em julho de 1907 proíbem-no de celebrar a missa, mas ele decide continuar vivendo no meio deles. Depois de seis meses lhe é dado a permissão de celebrar, mas não pode guardar o SS. Sacramento.

Em 1907 ele fica gravemente enfermo, à beira da morte. Os tuaregues salvam-no alimentando-o com leite de cabra. Charles, impotente, dependendo de seus vizinhos faz a experiência de que a amizade – o amor dos irmãos – se verifica na troca, na reciprocidade. De 1909 a 1913 Charles faz três viagens à França para apresentar o projeto de uma “União de irmãos e irmãs do Sagrado Coração”, associação de fieis para a conversão dos infiéis”: cristãos “capazes de fazer conhecer, por seu exemplo, a religião cristã e de fazer ver o evangelho em suas vidas”. É dele a frase: “meu apostolado deve ser o apostolado da bondade. Vendo-me deve-se dizer: já que esse homem é tão bom…sua religião também deve ser boa”.Estoura a guerra em 1914. Pe, Foucauld volta a Tamanrrasset. O deserto se torna agitado. Para proteger as populações Pe. Foucauld constrói um pequeno forte onde acolhe as pessoas do entorno em perigo. Continua a trabalhar as poesias e os provérbios tuaregues.

Em primeiro de dezembro de 1916 um grupo de tuaregues da seita senussita – fanáticos – seqüestra o Pe. Charles de Foucauld e o mata. Foi sepultado a 20 metros do forte com os militares mortos com ele na ocasião. Pe. Charles de Foucauld foi declarado Bemaventurado aos 13 de novembro de 2005 em Roma. No dia de sua morte ele havia escrito: “nosso aniquilamento é o meio mais poderoso que temos para unir-nos a Jesus e de fazer o bem às almas” e ainda: “quando o grão de trigo caído na terra não morre ele fica só. Se morre, produz muitos frutos. Eu não morri ainda, por isso estou só. Orai pela minha conversão para que, morrendo, eu produza fruto”(cartas de 01.12.1916). Hoje são 19 os grupos de leigos, sacerdotes, religiosos(as) que vivem o evangelho inspirados por Pe. Charles de Foucauld. O Pe. Charles de Foucauld se tornou para todos os cristãos, muito especialmente para nós sacerdotes, modelo de seguimeno de Jesus, manso, pobre e humilde. O encontro com Jesus Cristo transformou sua vida. O Pe. Charles jogou no lixo toda vaidade e procurou viver de Deus na solidão do deserto e na solidariedade com os pobres, sustentado por uma intensa vida eucarística.