As harmonias do Pai Nosso

Antônio Mesquita Galvão *

A oração do Pai Nosso, no dizer de Santo Afonso de Ligório, o “doutor da oração”, é a síntese de toda a revelação cristã. Contido nos evangelhos de Mateus e Lucas, ele repre-senta uma das mais antigas formas cristãs de comunicação com Deus, quando Jesus ensina seus discípulos e, por extensão, toda a Igreja, a chamar seu pai de “Nosso Pai”.

Tido como oração de libertação (Boff), conjunto harmônico (Sciadini), diálogo filial (Mesters), luz (Larrañaga), o Pai Nosso enquanto revela a pequenez humana e a grandeza de Deus, desvela nossa disponibilidade e a generosidade do Criador, numa simbiose da terra com o céu, do humano com o divino, do finito com o sobrenatural.

Se formos olhar bem, com os olhos do coração e do espírito ungido pelo Entendimento, com os quais se vê o essencial, veremos que essa oração contém uma doxologia e sete pedidos. A doxologia de invocação (hino de glória) está na abertura: “Pai Nosso, que estás no céu…”. Os sete pedidos, nós poderíamos dividir em dois grupos; três endereçados às necessidades espirituais e quatro às materiais. Três é o número divino da Trindade e quatro é o número humano dos elementos físicos (terra, água, fogo e ar) e a soma, sete, retrata a perfeição.

Nos primeiros pedidos, na ordem sobrenatural, temos “Santificado seja o teu nome”, “…venha o teu Reino” (e que venha!) “… assim na terra como no céu”. A segunda parte refere-se às necessidades de nossa vida. Se tivermos fé na realização do primeiro conjunto de pedidos, o segundo torna-se uma conseqüência natural: “o pão nosso (cotidiano) dá-nos hoje”,”…perdoa nossas dívidas (pecados, ofensas, omissões) assim como nós costumamos perdoar”, “… não nos deixa cair em tentação (naquelas que lutamos por evitar)” e “… livra-nos de todos os males”. Os católicos encerram com o “amém” que, derivado do “emmet”, hebraico, quer dizer, eu creio; é verdade; por certo!

Os irmãos protestantes e pentecostais usam a doxologia luterana: “Pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre”. Nos eixos pão-e-perdão flui a essência do cristianismo. Só podemos dizer “Pai Nosso” se temos a generosidade de fazer circular o “pão nosso” (e não só o meu). Só tem o direito de chamar a Deus de Pai quem tem a coragem de chamar o próximo de irmão, partilhando fraternalmente, com ele. No terreno teológico, a oração gira entre dois eixos: a espiritualidade e a solidariedade, onde nenhum desses valores pode ocorrer divorciado do outro. Quem crê partilha; quem reparte os bens, o faz pela inspiração do Espírito. É impossível dissociar o desejo espiritual com a ação material.

Perdoar é um ato divino que Deus nos inspira. Seremos perdoados assim como costumamos perdoar, ou seja, quem não souber perdoar, talvez não seja perdoado. Outra exigência que vem embutida na essência do “Pai Nosso” é a partilha do pão. Quem acumula, enriquece ilicitamente e não tem olhos para a miséria dos outros, a esse deveria ser vetada a oração ao Pai que o Filho nos ensinou.

É pena que muitos saibam rezar o Pai Nosso, mas nem todos consigam vivê-lo em plenitude. Para uns é harmonia e perfeição, para outros incoerência e ameaça.

* Doutor em Teologia Moral

2 Comentários

  1. aurea maria chan
    dez 27, 2008 @ 09:48:54

    É dificil rezar o Pai Nosso com a Harmonia e prefeição nele contida,pois a minha dificuldade de entrega a Deus, de confiança Nele,de o enxerga-Lo no proximo é grande as vezes.Somando a isto as carencias e fragilidade nos momentos de dificuldades acho que não seria digna de reza-lo por outro lado cotinuo a reza-lo pois acretido misericodia de Deus e no seu Amor e que a sua graça vai ajir na hora que Ele julgar certo e que eu conseguir abrir meu coração sem medo de sofrer.
    Gostaria de seguir mais o exemplo do padre Julio que passou toda a turbulencia rezando e confiando e superou sua dor para estar presente na crisma de 2008, sei que sua presença foi por amor, obrigada!

  2. João
    mar 07, 2009 @ 10:20:28

    Graça e paz amado!
    Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou Seus seguidores o que deveriam orar. No entanto, o que Ele mencionou não esgota todos os assuntos pelos quais gostaríamos de orar, mas é um bom começo. D-us é Pai e podemos falar com Ele abertamente e com toda liberdade. Ele sabe tudo a nosso respeito nos amo como somos. Falar com Ele com sinceridade de coração, usando o “Pai Nosso” como oração modelo! Concorda? Um ósculo santo pra vc!