Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo!

Dom Edmar Peron

É sempre um prazer recordar que os cristãos nos alimentamos de um único “pão da vida”, Jesus Cristo, recebido, porém, de duas mesas, da Palavra e da Eucaristia, ambas tão unidas que constituem “um só ato de culto”.

Esse “ato de culto” uno é introduzido pelos Ritos Iniciais (IGMR 46-54): canto de entrada (com procissão dos ministros e veneração do Altar), sinal-da-cruz e saudação, rito penitencial, Kyrie, Glória e Oração do dia. Em seu conjunto, esses pequenos ritos têm por finalidade “fazer com que os fiéis, reunindo-se em assembleia, constituam uma comunhão e se disponham para ouvir atentamente a palavra de Deus e celebrar dignamente a Eucaristia”. Deste modo, é como Igreja, comunidade de fiéis – raça escolhida, povo sacerdotal, nação santa (1Pd 2,9) – que nos dispomos a participar ativamente da Liturgia da Palavra e da Liturgia Eucarística.

Consideremos, agora, cada um dos pequenos ritos. O canto de entrada promoverá a comunhão, principalmente em sua forma dialogal: a assembleia canta o refrão, mais “condizente com a ação sagrada e com a índole do dia ou do tempo”, enquanto que as estrofes (normalmente um Salmo) são cantadas pelo grupo de cantores ou por um(a) solista. A dimensão dialogal, realizadora de comunhão, prossegue no sinal-da-cruz e na saudação à assembleia: uma principal, a bíblico-ritual, e a outra espontânea para acolher as pessoas e introduzir a assembleia no mistério do dia. O ato penitencial é “realizado por toda a assembleia”, através de uma das três fórmulas presentes no Missal: Confesso…; Tende compaixão…; Senhor, que viestes… (há muitas invocações alternativas propostas pelo Missal, para os diversos tempos litúrgicos). Rico de caráter comunitário é o rito de bênção e aspersão da água, memória do nosso batismo, próprio para o Domingo, no lugar do ato penitencial. Quando a invocação cristológica Senhor, tende piedade – o Kyrie – não apareceu no próprio ato penitencial ela deverá ser cantada após o Deus todo-poderoso tenha compaixão… Também o Glória revela a comunhão da assembleia que canta ao Pai e ao Filho, “congregada no Espírito Santo”. E, por último, a Oração do dia ou coleta manifesta a comunhão dos fiéis; antes de ser formulada por quem preside a celebração, toda a assembleia, inclusive quem a preside, se conserva em silêncio e formula interiormente as suas intenções.

É claro que a comunhão eclesial, promovida por todos esses ritos do começo da missa, é ainda inicial; depois de escutarmos juntos a Palavra de Deus, alcançaremos o ponto alto de nossa união na comunhão eucarística, realizada pelo Espírito Santo: “participando do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos reunidos pelo Espírito Santo num só corpo” (Oração Eucarística II). E a assembleia aclama: “Fazei de nós um só corpo e um só espírito”.

Enfim, os ritos iniciais nos ajudam a realizar uma primeira páscoa: a passagem da dispersão da vida cotidiana à união de uma assembleia convocada pelo próprio Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, “sacramento de unidade” (São Cipriano – SC 26): Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo!