Campanha da Fraternidade. Igreja militante que se compromete com o povo sofredor

José Geraldo de Barros

Estamos nos aproximando da Quaresma e como tem acontecido desde o seu início, a Igreja organiza a Campanha da Fraternidade.

Todos os anos temos a oportunidade de refletir sobre temas importantes para a sociedade. Como sabemos a Quaresma é um tempo forte de nos prepararmos para uma vida nova trazida por Jesus Cristo. E esta Vida Nova está relacionada com a transformação da nossa realidade.

Por isso todos os temas refletidos na Campanha da Fraternidade devem nos levar ao compromisso concreto com a sociedade em que vivemos.

História das campanhas

Para compreendermos melhor as Campanhas da Fraternidade e seus objetivos voltemos um pouco na história, devemos conhecer a fonte onde tudo começou.

Os temas refletidos foram divididos em três fases. A Primeira fase nos remete aos anos de 1964 e 1965, momento em que a Igreja necessitava de uma renovação interna. Primeiro tínhamos como foco a renovação da Igreja institucional. Acontecia neste momento a renovação das paróquias. E em seguida a renovação da Igreja povo de Deus. Foi o momento em que os cristãos foram convocados a participarem ativamente deste processo de renovação. Este período se estendeu até 1972.

A segunda fase deste processo ocorre de 1973 até 1984, período em que a Igreja passou a se preocupar com a realidade social do povo. Diríamos que neste período se concretiza as propostas levantadas no Concílio Vaticano II. É o início de uma Igreja mais profética em que ela passa a denunciar o pecado social e promover a justiça. É o reconhecimento do projeto de Jesus que diz: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenha em abundância”. Foi um período de amadurecimento da Igreja que via na realidade social o lugar concreto de realização do projeto de Deus.

Chegamos numa terceira fase que se iniciou em 1985 e se estende até o momento atual. Temos agora uma Igreja voltada para as situações existenciais do povo brasileiro. Todos os temas aqui refletidos tiveram como propostas mobilizar a sociedade como um todo em torno de problemas que afligem o nosso povo. Neste período tivemos algumas Campanhas Ecumênicas. Vivemos em uma sociedade que mesmo dando alguns sinais de melhora ainda tem desigualdades sociais. A sociedade ainda clama por justiça e libertação. Por isso a Igreja enquanto portadora da Boa Nova de Jesus não pode se calar diante de tamanhas injustiças.

2012: Saúde pública

A Campanha da Fraternidade de 2012 traz como tema a Fraternidade e a Saúde Pública.

Podemos nos perguntar para início de conversa: Como vai a saúde em nosso país ou em nossa cidade?

Como tem sido a nossa participação para melhorar o atendimento nos postos de saúde?

A Igreja atendendo aos anseios da sociedade, se preocupa com a saúde pública e traz como objetivo geral desta Campanha: “refletir sobre a realidade da saúde no Brasil em vista de uma vida saudável, suscitando o espírito fraterno e comunitário das pessoas na atenção aos enfermos e mobilizar por melhorias no sistema público de saúde” (Texto base CF 2012).

A saúde pública no Brasil tem sido um grande desafio para os gestores públicos. Infelizmente, muitos concorrentes a cargos públicos usam a saúde como bandeira política, mas não resolvem o problema. Acredito que a questão não seja simples, pois, ao lado do sistema público temos também o sistema privado de saúde. O poder econômico ainda tem muita força política. A cada dia cresce mais os usuários de planos de saúde.

Consequentemente os profissionais de saúde também fazem opção por atenderem a população através dos planos ou por consultas particulares por ser mais rentáveis.

Temos hoje no país o SUS (Sistema Único de Saúde), instituição criada para concretizar as políticas públicas na área de saúde. Temos consciência dos avanços ocorridos nesta área nos últimos anos, porém é necessário avançar mais. Acredito que esta Campanha da Fraternidade trará muitos benefícios para a sociedade no sentido de mobilização.

A sociedade deve tomar consciência de seu papel, pois, o estado sozinho não resolverá todos os problemas da sociedade.

Um dos objetivos desta Campanha fala sobre a importância de “despertar nas comunidades a discussão sobre a realidade da saúde pública, visando à defesa do SUS e a reivindicação de seu justo financiamento” (Texto base CF 2012). Temos que criar uma cultura de participação nas questões sociais. Às vezes delegamos a outros para fazer por nós e nos distanciamos. Em relação ao SUS, mesmo com suas falhas é um projeto que tem tudo para melhorar o nosso sistema de saúde pública, basta mais vontade política e também mais participação popular.

Para conhecer melhor como anda a saúde em seu município seria bom que cada um busque informações sobre a existência ou não de conselhos municipais de saúde. Esta é uma maneira de participar. As conquistas acontecem através do empenho de cada cidadão. Neste sentido não podemos negar os avanços já encontrados na saúde pública. Hoje já é uma realidade pessoas passarem por cirurgias que antes só eram possíveis na rede privada. Está crescendo no país as farmácias populares onde é possível o paciente ter acesso ao remédio gratuito. Não podemos nos esquecer da grande contribuição da Pastoral da Criança.

Nesta Pastoral, mulheres e homens de boa vontade doam parte de seu tempo em defesa da vida. Trabalho que diminuiu o índice de mortalidade infantil no país. Portanto, a Igreja traz mais este tema para as nossas reflexões, mostrando que sua missão vai além do espaço sagrado. Usando uma expressão do Concílio Vaticano II, uma Igreja militante que se compromete com o povo sofredor. Defendendo uma saúde pública de qualidade ela está defendendo a vida.