Carta do Papa Francisco aos bispos da Argentina

Queridos irmãos,

Recebam estas linhas de saudações e também de desculpas por não poder participar, devido a “compromissos assumidos recentemente” (ficou bem?). Estou espiritualmente junto com vocês e peço ao Senhor que os acompanhe muito nestes dias.

Manifesto a vocês um desejo: eu gostaria que os trabalhos da assembleia tivessem como marco referencial o Documento de Aparecida e o “Rema mar adentro”. Lá estão as orientações de que nós precisamos neste momento da história. Acima de tudo, peço que vocês tenham uma especial preocupação com o crescimento da missão continental em seus dois aspectos: a missão programática e a missão paradigmática. Que toda a pastoral tenha uma perspectiva missionária.

Uma Igreja que não sai de si mesma adoece, cedo ou tarde, em meio à atmosfera pesada do seu próprio fechamento. É verdade, também, que uma Igreja que sai às ruas pode sofrer o que qualquer pessoa na rua pode sofrer: um acidente. Diante desta alternativa, quero lhes dizer francamente que prefiro mil vezes uma Igreja acidentada a uma Igreja doente. A doença típica da Igreja fechada é ser autorreferencial; olhar para si mesma, ficar encurvada sobre si mesma, como aquela mulher do Evangelho. É uma espécie de narcisismo que nos leva à mundanidade espiritual e ao clericalismo sofisticado, e, depois, nos impede de experimentar “a doce e reconfortante alegria de evangelizar”.

Desejo a todos vocês esta alegria, que tantas vezes vem unida à Cruz, mas que nos salva do ressentimento e da tristeza. Esta alegria nos ajuda a ser cada dia mais fecundos, desgastando-nos e puindo-nos no serviço ao santo povo fiel de Deus; esta alegria crescerá mais e mais à medida que levarmos a sério a conversão pastoral que a Igreja nos pede.

Obrigado por tudo o que vocês fazem e por tudo o que vão fazer. Que o Senhor nos livre de maquiar o nosso episcopado com as belas aparências da mundanidade, do dinheiro e do “clericalismo de mercado”. Nossa Senhora nos ensinará o caminho da humildade e daquele trabalho silencioso e valente que o zelo apostólico faz prosperar.

Peço, por favor, que vocês rezem por mim, para que eu não me sinta acima de ninguém e saiba escutar o que Deus quer e não o que eu quero. Rezo por vocês.

Um abraço de irmão e uma especial saudação ao povo fiel de Deus que está sob os seus cuidados. Desejo a todos vocês um santo e feliz tempo pascal.

Que Jesus os abençoe e Nossa Senhora cuide de vocês.

Um Comentário

  1. moacir
    maio 05, 2013 @ 08:12:56

    Sábias palavras do papa Francisco. Parece que era bem isso que todos aguardavamos
    ouvir de um Sto PAPA. Agora precisamos ouvir as sábias palavras de nossos clero, e
    principalmente ouvir a conversão de nossos irmãos que fazem a igrejam que vão á igreja
    e que moram ao nosso lado.