Como anda cara a tal “simplicidade”!

Pe. Tarcisio Marques Mesquita

Anos atrás, não havia controle remoto para quem quisesse ver televisão! As pessoas tinham de se movimentar e ir até onde estava o aparelho e acionar o botão liga/desliga; durante a programação, era necessário levantar-se, mais outras tantas vezes, e ir até aquela confusa e pouco nítida telinha para regular sua imagem e seu som. Não faz muito tempo, as pessoas faziam longas caminhadas para visitarem seus parentes e amigos e levar as crianças à escola; hoje, para percorrer poucos quarteirões, buscam automóveis, congestionam ruas e vizinhança, paralisando o trânsito pelo bairro, sobretudo às portas das escolas. Hoje, ainda, porque pouco caminha, muita gente vai a academias e passa longos tempos exercitando-se em esteiras com controle de velocidade, totalmente apavorada com a possibilidade de engordar. Tempos atrás, não era nada chique comer em panela de barro e cozinhar em fogão à lenha; hoje, restaurantes sofisticados oferecem em seus cardápios peixe na telha e carne feita em fogo de chão. Nos quintais, muitas pessoas faziam suas hortas e, assim, alimentavam-se de legumes e hortaliças sem qualquer agrotóxico; hoje, prateleiras de produtos alimentícios ditos orgânicos apontam para os preços mais elevados da comida. Lampião a querosene era coisa de subdesenvolvimento e sinal de grande pobreza; hoje, lampião antigo é vendido como peça cara de decoração e, em festas sofisticadas, é artigo de luxo para dar um clima nostálgico a ambientes longe de qualquer sinal de pobreza e subdesenvolvimento.

Hoje, as pessoas pagam caro pra fazer e viver aquilo que, anos atrás, todos faziam e viviam como coisas simples e corriqueiras. Coisas simples, baratas, quando não totalmente grátis, atualmente se transformaram em artigos comercializados a preços cada vez mais elevados, inacessíveis a uma grande parte do contingente humano de tantas cidades.

A “simplicidade” tem ficado cada vez mais cara: transformou-se em objeto de consumo. Pobre “simplicidade”! Virou empregada doméstica mal-remunerada das vítimas e autores do consumismo. “Simplicidade” nada humilde num mundo de “justos” que desconhecem a justiça. “Simplicidade” que não profetiza num ambiente de individualismo e indiferenças. “Simplicidade” que não conhece a dor, porque não conhece o caminho e não visita e, muito menos, habita o lugar dos esquecidos. “Simplicidade”, por um lado, sem identidade, vendida, encarcerada nos ditames de mecanismos monetaristas, cujos beneficiários e detentores destes mecanismos determinam quem vai ser visto como santo e quem vai ser satanizado de suas rodas e saraus. “Simplicidade”, por outro lado, que tem endereço e etiqueta, pois virou grife, transformou-se e já não é mais a mesma; pode ter este nome, mas anda longe, passa distante do lugar em que a verdadeira e santa Simplicidade – a não engarrafada – reside, sem endereço fixo e etiqueta fashion; porém, taxada e execrada, subsiste, subverte e denuncia.