Crescer na Fé, programando a pastoral e a vida

Dom Edmar Peron

O término do ano civil aproxima-se rapidamente, mas antes concluiremos o Ano Litúrgico e o Ano da Fé. As pessoas e as famílias planejam como pagar as contas ou, sendo otimista, como fazer algum passeio ou viagem. Na Arquidiocese, são muitas as assembleias pastorais, realizadas nos diferentes níveis, com o intuito – espero! – de tornar concreto o grande horizonte proposto pelo 11º Plano de Pastoral: Arquidiocese de São Paulo, testemunha de Jesus Cristo na Cidade.

Nesse contexto, quero recordar o grande papa João Paulo II, retomando sua Carta apostólica Novo Millennio Ineunte (01/02/2001), o 3º capítulo, Partir de Cristo, nn. 29-41. Naquela ocasião, o encerramento do Jubileu do Ano 2000, ele repropôs a toda a Igreja a necessidade de um “relançamento pastoral”, cujo “programa” é sempre Cristo: conhecê-lo, amá-lo, imitá-lo “para n’Ele viver a vida trinitária e com Ele transformar a história até a sua plenitude na Jerusalém celeste”. Esse “programa”, porém, precisa ser traduzido em “orientações pastorais ajustadas às condições de cada comunidade”; nessas orientações, a primeira prioridade deve ser a “santidade”: “não hesito em dizer que o horizonte para que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade”. Surpreendente, pois o centro não são as atividades – como normalmente pensamos – mas a vida cristã.

Essa “prioridade” encontrava inspiração eclesial no 5º capítulo da Constituição Dogmática sobre a Igreja, Lumen gentium: Vocação Universal à Santidade na Igreja. Todos os membros da Igreja – leigos e leigas, religiosos e religiosas, bispos, presbíteros e diáconos – são chamados à santidade. Não podemos nos contentar com o mínimo, afirma o papa: “seria um contra-senso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial”. Esse caminho de santidade não é apenas para alguns, mas é a “medida alta da vida cristã ordinária: toda a vida da comunidade eclesial e das famílias cristãs deve apontar nesta direção”. Essa prioridade da santidade requer renovado empenho: na oração (32 e 38); na liturgia, como “meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte donde promana toda a sua força” (SC 10), destacando o Dia do Senhor, o Domingo, e os sacramentos da Eucaristia e da Penitência (35-37); na renovada escuta da palavra de Deus (39); no serviço à Palavra, anunciando-a no “trabalho da evangelização” (40).

Esse caminho é exigente, sem dúvida, mas não impossível; ele faz parte da escolha que você e eu somos chamados a fazer cada dia por Cristo e seu Evangelho, ou seja, pelo Reino de Deus (cf. Mt 6,33). Então, nos perguntemos: as nossas muitas atividades e os diferentes compromissos nos ajudam a acolher o Reino de Deus e vivê-lo ou apenas passamos de reuniões em reuniões, sem assumir seriamente um caminho de santidade, de crescimento na fé?

A conclusão do Ano da Fé, no próximo dia 24 de novembro, nos impulsione para o futuro, para um crescimento contínuo, a fim de que, tendo passado pela Porta da Fé (At 14,27) sejamos sempre mais iluminados pela Luz da Fé: “Eu vim ao mundo como luz, para que todo o que crê em Mim não fique nas trevas” (Jo 12, 46).