Cuidar da vida: ecologia

Selvino Heck

Quase aos sessenta anos, dou-me conta. Minha vida foi/é povoada de árvores. Ao lado de casa da mamãe/papai na vila Santa Emília, Venâncio Aires, interior do interior do Rio Grande do Sul, pequena propriedade de agricultura familiar, há um pequeno bosque onde fazíamos piqueniques em ocasiões especiais, com um grande pinheiro, taquarais onde se escondiam gambás. Uma vez, já frei franciscano, o confrade Frei Nestor Schwerz, hoje grande figura da Ordem Franciscana mundial, numa das visitas dos freis estudantes a Santa Emília, onde iam jogar futebol e fazer schmia, falou: ‘Nossa! Mas como é verde esta terra!’

Os campos de futebol do Seminário Seráfico de Taquari eram ladeados por grandes pés de eucalipto e um mato/bosque onde às vezes as bolas se perdiam.

Na Lomba do Pinheiro, periferia de Porto Alegre/Viamão, onde morei quase uma década, o Parque Saint Hillaire ficava a menos de um 1 km da vila São Pedro.

A rua Tomás Flores, Bairro Bom Fim, Porto Alegre, onde tenho apartamento, a 10 minutos do Centro, ao lado do Colégio Rosário, a menos de 500 metros do Parque Farroupilha ou Redenção, é cheia de árvores centenárias.

Em Brasília, moro na Academia de Tênis porque da sacada do meu apartamento olho as árvores em frente, agora enverdecendo. Choveu inesperadamente em setembro. É a primavera e o verde chegando à vida e à alma das pessoas.

Dizem especialistas e estudiosos que o planeta terra está ameaçado. Se continuar sua destruição, se o aquecimento global não recuar, se a floresta amazônica continuar sendo derrubada, se a poluição dos rios, córregos e riachos continuar, se carros e máquinas continuarem infestando o ar, se o plástico continuar fazendo cada vez mais parte da nossa vida, nas próximas décadas poderemos ter dificuldade de respirar, nossos filhos e netos vão ter que sair de máscara na rua, ou não terão água limpa para beber.

Por estas e muitas outras razões, o Movimento Fé e Política vai realizar o seu 7º Encontro Nacional com o tema CUIDAR DA VIDA: ESPIRITUALIDADE, ECOLOGIA E ECONOMIA, em Ipatinga, Minas Gerais, nos dias 28 e 29 de novembro (Informações: www.fepolitica.org.br; www.fepoliticamg.org.br). Os tempos de crise econômica, também crise social, ambiental e de valores exigem o aprofundamento da reflexão sobre o futuro do planeta e a construção de um novo projeto de sociedade e modelo de desenvolvimento.

Em 1870, Ernst Haeckel produziu a primeira definição de Ecologia, criando um neologismo a partir da etimologia da palavra ‘Economia’. Esta deriva das palavras gregas ‘oikos’, que significa casa, e ‘nomos’, que significa gestão/administração. Haeckel manteve a raiz ‘oikos’ e acrescentou-lhe a raiz grega ‘logos’, que significa conhecimento (como em Biologia e Geologia). Para Haeckel, a Ecologia era a economia da natureza. A ecologia é, pois, o conhecimento da casa que habitamos, o planeta terra.

Segundo Leonardo Boff, “somos parte do imenso universo, pertencemos ao sistema solar, somos parte desse universo, onde o espírito do cuidado humanitário, a sensibilidade profunda nos faz abraçar o mundo e as pessoas como irmãos e irmãs. Este projeto civilizatório, que se propõe a explorar de forma ilimitada tudo o que a terra pode oferecer, não é suportável pela terra, um planeta limitado, pequeno, velho e que já é capaz de se auto-reproduzir. Esse modelo, que foi universalizado, que já tem mais ou menos 400 anos e que agora entrou em profunda crise e seguramente não será uma crise cíclica, que passa e depois ganha um outro patamar e continua, no meu modo de ver é uma crise terminal. Esse sistema não tem mais condições de garantir a vida humana para todos os seres humanos. Porque nós atingimos os limites do planeta. Os limites do planeta são os limites do capital” ( Celebração da água – Leonardo Boff e a Ecologia do Cuidado).

Esse é o quadro. É onde estamos. Que fazer?

Outro dia, num Encontro da equipe TALHER de Mobilização social do Gabinete do Presidente da República e da Coordenação da Rede de Educação Cidadã, Vera Barreto chamou a atenção de todos e todas, na avaliação final: “Como nós, educadores populares, que queremos mudar o Brasil e o mundo, podemos deixar tanta sujeira na sala? Usamos centenas de copos de plástico em dois dias. Cada vez que alguém vai tomar água usa um novo copo, em vez de marcar o seu e usá-lo durante todo encontro.”

Às vezes, são coisas simples, sob nosso domínio. Podemos diminuir o tempo que a torneira fica aberta desperdiçando água e o tempo do banho com água ilimitada. Podemos separar o lixo orgânico do não orgânico e reutilizar o copo de plástico ou nem usar plástico. Os governos podem fazer programas de coleta seletiva, estimular a educação ambiental nas escolas e comunidades, plantar árvores e cuidar das praças, parques e riachos.

Mas tudo isso não resolve a vida e o problema. Precisa mais. O Presidente Lula, no discurso de abertura da LXIV Assembléia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque, falou: “Quero aqui abordar três questões cruciais, que me parecem interligadas, três ameaças que pairam sobre nosso planeta: a persistência da crise econômica, a ausência de uma governança mundial estável e democrática e os riscos que a mudança climática traz para todos nós.”

Seguiu o presidente: “Sem vontade política, por fim, crescerão as ameaças hoje representadas pela mudança climática no mundo. Todos os países devem empenhar-se em realizar ações para reverter o aquecimento global. Preocupa-nos a resistência dos países desenvolvidos em assumir sua parte na resolução das questões referentes à mudança do clima. Eles não podem lançar sobre os ombros dos países pobres em desenvolvimento responsabilidades que lhes são exclusivas. O Brasil está cumprindo a sua parte. Vamos chegar em Copenhague, na Conferência do Clima, com alternativas e compromissos precisos. Aprovamos um Plano de Mudanças Climáticas que prevê a redução de 80% do desmatamento da Amazônia até 2020. Diminuiremos em 4,8 bilhões de toneladas a emissão de CO2, o que representa mais do que a soma dos compromissos de todos os países desenvolvidos juntos.”

Conclui o presidente Lula: “O Brasil não renunciará à agenda ambiental para ser apenas um gigante do petróleo. Queremos consolidar nossa condição de potência mundial da energia verde.”

Diz a senadora Marina Silva: “A questão do desenvolvimento sustentável é estratégica, como a sociedade, aliás, já sabe. Eu não teria essa visão de só acelerar o crescimento. Buscaria o desenvolvimento com sustentabilidade, para que isso pudesse ser traduzido em qualidade de vida para as pessoas.”

Ou seja, cuidar da ecologia significa ter ações estruturais e estruturantes, com parceria entre governos e sociedade, que permitam acabar com a poluição do ar e da atmosfera, o aquecimento global, o desmatamento, o desaparecimento da água, todos estes problemas de fundo que só dá para enfrentar em plano mundial, a médio e longo prazos, com compromisso e envolvimento dos governos, dos movimentos sociais, de todas as instituições preocupadas com o futuro do planeta.

Há muita coisa que só se resolve no plano macro e outras tantas, a partir do exemplo concreto, no micro.

O 7º Encontro do Movimento Fé e Política tem a ambição e vê a urgência de pensar um novo projeto de sociedade e modelo de desenvolvimento, onde caibam as pessoas, a ecologia, a vida, o meio ambiente e a natureza. Para isso, faz-se necessária uma transformação ecológica, econômica e espiritual, de pensamento e valores. Mas também quer estimular a ação individual, o pequeno/grande gesto de cada um, de cada grupo de fé e política e de economia solidária, de cada comunidade de fé. Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância”(Jo, 10,10).

O novo surge da consciência e da prática individual e coletiva. Cuidar da vida e da ecologia é cuidar de si, dos outros e outras, dos seres vivos, de toda humanidade e do futuro.

Um Comentário

  1. carlos Alberto Beatriz
    out 08, 2009 @ 22:44:51

    Cuidar da Vida: Ecologia. Os primeiros passos foram dados. A Pastoral da Ecologia já está aberta na Comunidade São Miguel Arcanjo. Participem.
    Carlos