Dom Helder: Amicus Usque Ad Aras

Pe. Geovane Saraiva

Querendo Deus a redenção do gênero humano e “quando chegou a plenitude dos tempos Deus enviou seu filho, que nasceu de uma mulher e foi submetido a uma lei, para resgatar os que estavam sob a lei” (GL 4, 4). A vontade de Deus é que a nossa felicidade e a nossa realização, que tem seu início quando entramos em comunhão com o projeto divino e nos esforçamos para colaborar com ele na construção do seu Reino.

Deus nos criou pessoas, criaturas humanas, para vivermos em harmonia com ele, com o mundo e os nossos semelhantes. Olhando a história, a caminhada do povo de Deus, constatamos sua forte presença através daqueles que ele enviou. “Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10,3).

A verdade é que nem sempre correspondemos. No Brasil, Deus nos deu Dom Helder Câmara, um enviado do Pai, um amigo do povo, um profeta para os empobrecidos, os “os sem voz e sem vez”, para abrir nossos olhos, nossa mente e nosso coração. Amigo até o altar do “sacrifício”, até aos extremos, como diz o latim: “Amicus usque ad aras”.

Deus enviou muitos profetas, com uma missão sagrada. A vida de Dom Helder foi semelhante a dos profetas, com sua pregação, sua vida de oração e sua mística, construindo caminhos seguros e sólidos, sobretudo, para os fracos e excluídos da sociedade. Com ele nasceu uma nova cultura e uma nova civilização, a cultura e a civilização e do amor, da vida e da esperança, ao contrário dos homens fortes deste mundo, incapazes de gerar sinais de vida e de esperança, uma nova civilização. A força deles se concentra no que é efêmero e passageiro, no emocional e no superficial.

Ele foi um desses profetas que recebeu de Deus um dom e uma graça de ir, de viajar, de denunciar e de interpretar a revelação divina. Um irmão de um coração grande e generoso, que buscou no nosso Deus infinitamente bom e misericordioso e ao mesmo tempo em que mergulhou e compreendeu a realidade do mundo, marcada por seus antagonismos, nela inserida a criatura humana, imagem e semelhança de Deus.

Como profeta, não foi um futurólogo, que antevia, previa. Foi um irmão muito querido, que se esforçou para cumprir bem a missão que lhe foi confiada, falando de Deus e em nome Deus. Foi, em profundidade, um homem que sabia falar e se dirigir ao Pai, através da meditação e da solidariedade, que se concretizaram em tudo que em vida ele fez e realizou.

Dom Helder teve uma clara consciência que o ponto mais alto da criação está na criatura humana. Ele sempre carregou na mente e no coração o relato da criação ao afirmar: “Deus delibera consigo mesmo, quando decide criar o homem semelhante a si” (cf. Gn 1, 26).

Com enorme alegria, temos a consciência de que Dom Helder é patrimônio da humanidade e homem de grande coração, que viveu semeando bondade, esperança e paz, entre cristãos e não-cristãos. Denunciou as injustiças, e entre diversos caminhos, apontou o caminho da vida, o caminho de Deus. E é por isso que no seu centenário, dia 07 de fevereiro deste ano de 2009, dizemos: “Amicus usque ad aras”, isto é, amigo até aos extremos.