Escutar e Anunciar A Palavra – Dom Sergio

Dom Sergio da Rocha
Neste mês dedicado especialmente à Bíblia, somos convidados a crescer na escuta e acolhida da Palavra de Deus, reconhecendo que ela é “Palavra da Salvação”. Necessitamos ter ouvidos abertos para escutar e a língua capaz de anunciar a Palavra. Muitas vezes, diante da Palavra de Deus, nos comportamos como surdos e mudos. O Evangelho segundo Marcos nos apresenta Jesus como aquele que “aos surdos faz ouvir e aos mudos falar” (Mc 7,37). A profecia de Isaías, hoje proclamada na primeira leitura, cumpriu-se plenamente em Jesus Cristo.
A cura do “homem surdo que falava com dificuldade”, realizada por Jesus, nos traz a esperança de podermos superar a incapacidade de escutar e anunciar a Palavra. É por meio de Jesus que podemos alcançar essa graça. É ele quem toca os ouvidos e a língua daquele homem, dizendo “Efatá”, palavra aramaica que, segundo nos explica o próprio texto proclamado, significa “abre-te”. O encontro com Jesus mudou radicalmente a vida daquele homem. Esse gesto de Jesus foi conservado na liturgia batismal, a fim de que se abram os ouvidos e a boca de quem é chamado, pelo batismo, a ser discípulo e missionário de Jesus Cristo.
A narrativa de São Marcos destaca o olhar de Jesus para o céu (Mc 7, 34), levando-nos a voltar o nosso olhar para o Pai a fim de acolher o dom da vida nova em Cristo. Ao mesmo tempo, ressalta o papel dos que levaram o surdo a Jesus e ‘“pediram que Jesus lhe impusesse a mão” (Mc 7,32). Hoje, há muita gente necessitada de ajuda fraterna e de oração para chegar até Jesus. Por isso, essa passagem do Evangelho nos faz pensar também no modo como testemunhamos a fé, através da caridade para com os irmãos que mais sofrem e os que não participam da vida da Igreja. É importante ter presente que a cura foi realizada por Jesus na região da Decápole, território considerado pagão e, por isso, menosprezado pelos judeus daquele tempo.
A carta de São Tiago nos ensina a não fazer “acepção de pessoas” (Tg 2,1), citando, como exemplo, a discriminação que poderia ocorrer se uma pessoa “bem vestida” fosse bem recebida, na comunidade, enquanto um pobre, “com sua roupa surrada”, fosse menosprezado. O texto se conclui recordando-nos que Deus escolheu os pobres para “serem ricos na fé e herdeiros do reino” (Tg 2,5). Em resposta à Palavra de Deus, o Salmo 145 nos convida a louvar ao Senhor, que é fiel para sempre, que ama e ampara os que mais sofrem.
Continuemos a nos dedicar mais à leitura e meditação da Bíblia, motivados pelo Mês da Bíblia e, ao mesmo tempo, procuremos testemunhar a caridade nos diversos ambientes em que vivemos, a começar de casa.

*Arcebispo Metropolitano de Brasíli
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