Esperança e fé

Esperança e fé

“Crer apenas naquilo que é possível não é fé, mas mera filosofia.” – Th. Browne, escritor e médico inglês – 1605-1682

A vida é feita de vida. E esta, é feita também de tempestades. Sair do útero materno equivale a uma luta e ela é apenas a primeira. Quando a bolsa se rompe, eis aí um mar revolto, que parece atentar contra a nossa sobrevivência, ao nos colocar em contato com este mundo nem sempre amistoso. Não sei ao certo onde encontramos forças, mas algo nos leva à conquista desta primeira vitória – dizem então que fomos dados à luz, e não é por acaso. E dizem também que “alguém lá em cima gosta da gente”.

Viver é lutar contra tempestades, algumas anunciadas, outras imprevisíveis. O mar social é agitado. A política não respeita nosso direito de desfrutar dos benefícios da vida em comunidade, a polis. A todo instante, a economia ameaça levar nossos escassos rendimentos. Isso para não falar do quanto insiste em anular nosso direito ao pão de todos os dias. Sem segurança, sentimos que o barco ameaça afundar e ele não faz plebiscito ao tomar suas decisões, sempre à revelia.

Quando as tempestades nos acordam para o que de fato dá segurança, navegamos sem nos dar conta de termos o mar sob nossos pés, qualquer que seja o estado em que se encontram suas águas – calmaria ou turbulência. Às vezes, ela parece adormecida, esquecida de nós. Puro engano. Que o diga o escritor francês E. Renan: “No fundo, sinto que minha vida é sempre governada por uma fé que não tenho mais. A fé tem isto de particular: mesmo quando desaparece, continua a agir.”
E o que é a fé? Qual o seu papel em tudo isso? A fé é aquilo que nos permite relativizar as forças de qualquer tempestade, calar seu desejo de ser absoluta diante do que realmente é o Absoluto.

Se tomarmos este caminho, já não temos por que temer. O que virá pela frente será a vitória, conquistada antes mesmo de se chegar à terra firme.

Rubens Marchioni – [email protected]