Espiritualidade Pascal: chamados a sair de si mesmo

Dom Edmar Peron

A espiritualidade desse tempo da Páscoa inclui, certamente, a mensagem do Papa Francisco para o 51º dia mundial de oração pelas vocações. Ele inicia a sua mensagem com o tradicional texto de Mateus: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Portanto, peçam ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para a sua colheita” (9,37-38). Deus é o “Senhor da colheita”; lavrou a terra, semeou, cultivou. E, agora, no tempo da Igreja é hora de trabalhar para colher. Esse campo “é a humanidade, somos nós”. Dessa maneira, a oração de que fala Jesus é para que aumente o número das pessoas que “estão ao serviço do seu Reino”. Pessoas que conseguem contemplar a ação de Deus no mundo, o adoram e, consequentemente, sentem-se interpeladas por ele para, livremente, “agir com ele e por ele”.

E continua o papa Francisco: “Embora na pluralidade das estradas, toda a vocação exige sempre um êxodo, uma saída de si mesmo para centrar a própria existência em Cristo e no seu Evangelho. Quer na vida conjugal, quer nas formas de consagração religiosa, quer ainda na vida sacerdotal, é necessário superar os modos de pensar e de agir que não estão conformes com a vontade de Deus. É um êxodo que nos leva por um caminho de adoração ao Senhor e de serviço a Ele nos irmãos e nas irmãs. Por isso, todos somos chamados a adorar Cristo no íntimo dos nossos corações (1Pd 3,15), para nos deixarmos alcançar pelo impulso da graça contido na semente da Palavra, que deve crescer em nós e transformar-se em serviço concreto ao próximo. Não devemos ter medo: Deus acompanha, com paixão e perícia, a obra saída das suas mãos, em cada estação da vida. Ele nunca nos abandona! Tem a peito a realização do seu projeto sobre nós, mas pretende consegui-lo contando com a nossa adesão e a nossa colaboração”.

Depois, o Papa Francisco convida cada pessoa “a ouvir e seguir Jesus, a deixar-se transformar interiormente pelas suas palavras que «são espírito e são vida» (Jo 6,63)”. Ele afirma que nos fará um bem enorme “participar, confiadamente, num caminho comunitário que saiba despertar em cada um e ao seu redor as melhores energias”.

Enfim, conclui o papa: “Quanto mais soubermos nos unir a Jesus pela oração, a Sagrada Escritura, a Eucaristia, os Sacramentos celebrados e vividos na Igreja, pela fraternidade vivida, tanto mais haverá de crescer em nós a alegria de colaborar com Deus no serviço do Reino de misericórdia e verdade, de justiça e paz. E a colheita será grande, proporcional à graça que tivermos sabido, com docilidade, acolher em nós”.

Continuemos hoje a salvadora experiência de Jesus: percorrer nossa Cidade, testemunhando com nossas vidas “o evangelho do Reino”, cheios de compaixão pelas multidões que continuam “angustiadas e abandonadas como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,35-36). A Páscoa é convite permanente para irmos ao encontro desses irmãos e irmãs: eis o nosso êxodo cotidiano.