Francisco, bispo de Roma: ano dois

Fernando Altemeyer Junior
Professor do Depto. de Ciência da Religião da PUC-SP

Um breve balancete do ano 2014 do papa Francisco se revela exuberante. Jorge Mario Bergoglio completou 78 anos de idade, sendo presbítero por 45 anos, bispo por 22,5 anos e papa há 1,8 ano da eleição. Ele é o 266º. bispo de Roma, desde 19 de março de 2013.
Quando escolhido no conclave cardinalício de 13 de março de 2013, ele era o primeiro papa argentino. O primeiro latino-americano eleito para a sede de Roma. O primeiro do hemisfério sul, o primeiro não-europeu desde 731. O primeiro religioso jesuíta, papa. O primeiro papa do hemisfério ocidental.

Francisco torna-se agora o pontífice que mais pessoas canonizou depois do papa polonês e agora santo João Paulo 2º. Francisco inseriu no livro dos beatos, 974 bem-aventurados e canonizou 51 beatos. Assim desde 19 de março de 2013 até final de 2014, são 1025 pessoas proclamadas beatas e santas pelo papa. Entre eles canonizou em 27 de abril aos papa João 23º. e João Paulo 2º. e no dia 19 de outubro fez beato o papa Paulo 6º. Em relação ao Brasil ofereceu dois presentes: canonizou padre Anchieta em 03/04/2014 e beatificou madre Maria Assunta Caterina Marchetti em 25/10. Um recorde para um mundo sedento de santidades transparentes e ao lado dos empobrecidos e dos movimentos sociais de transformação.

A produção pastoral de Francisco é imensa em 2014. Aqui pequena lista resumida deste seu ano dois: três constituições apostólicas, 25 cartas, cinco cartas apostólicas, dois motu próprios, 43 audiências gerais. Nas audiências em 2013 e em suas viagens estiveram presentes 13 milhões de participantes de todos os países do mundo. Estima-se que em 2014 tenham comparecido diante do papa 18 milhões de peregrinos.

Fez quatro viagens na Itália: 05/07 – Campobasso e Isernia; 26/07 – Caserta; 21/06 – Cassiano all´Ionio e, finalmente, 13/09 – Redipuglia. As viagens internacionais foram cinco: Terra Santa, 24 a 26 de maio; Coreia do Sul, 13 a 18 de agosto; Albânia, 21 de setembro; Parlamento Europeu, Estrasburgo, em 25 de novembro, e finalmente, Turquia, de 28 a 30 de novembro.

Foi escolhido a personalidade do ano e ganhou a capa da Revista Rolling Stones em 28 de janeiro. Manteve as reuniões do Conselho de oito cardeais para a reforma da Cúria Romana. Realizou importante celebração pela paz nos jardins do Vaticano convidando para rezar pela paz ao presidente de Israel Shimon Peres e ao líder da autoridade palestina Mahmoud Abbas em 08 de junho. Foi figura central para o acordo diplomático entre USA e Cuba, no dia 17 de dezembro, suspendendo um bloqueio que dura 53 anos.

Emblemático e inédito foi o encontro em Roma, de 27 a 29 de outubro, em Roma a convite do papa Francisco, com 200 representantes de dezenas de organizações populares e sociais do planeta, para analisar as causas da exclusão social. Do Brasil estiveram presentes o secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Leonardo Steiner, e o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile. O único presidente convidado ao encontro foi o mandatário da Bolívia, Evo Morales. Os temas: pão, terra e moradia.

Medidas internas tomadas em 2014: limitar o número de títulos honoríficos na instituição católica; nova comissão de controle do IOR (15/01); nomeação de 19 cardeais, em 20 de fevereiro, sendo 16 eleitores e três eméritos. Convocou um sínodo extraordinário sobre a família que enfrentou um questionário global sobre a real situação das famílias, dos homossexuais, do divórcio e de problemas complexas no mundo moderno, de 5 a 19 de outubro. Esta reunião é preparatória do Sínodo ordinário em outubro de 2015. Pediu que os bispos falassem abertamente e sem restrições sobre o que pensam como pastores. Foi uma distensão inédita depois de anos de centralismo e controle rígido e esterilizante. Comentou, em 22 de dezembro, com os funcionários vaticanos um catálogo de 15 doenças que afligiriam a Cúria Romana, entre as quais excesso de trabalho, Alzheimer espiritual, fossilização espiritual, esquizofrenia existencial, divinização dos chefes e exibicionismo. Uma nova forma de governar, do jeito de Jesus se fez realidade. Como sempre diz Francisco: “Reconhecer-se pecador é uma graça”.

O papa pastor, que diz explicitamente que é um pecador e que não quer julgar as consciências se fez um “world´s parish priest” (um pároco do mundo), próximo das pessoas, transparente e simples. Um homem simplesmente que fala de Deus pelos gestos com a alegria do Evangelho. Usa frequentemente o “twitter” atingindo 15 milhões de seguidores. Suas maiores preocupações continuam sendo os escravos de hoje, os migrantes, as crianças em situação de guerra e os irmãos perseguidos do Oriente Médio, Iraque e Síria. Sua bandeira é a de humilde mensageiro da paz e da alegria. Estão programadas visitas para Sri Lanka, Filipinas, Estados Unidos, França e Bolívia. A Igreja está sendo reformada profundamente, no corpo e na alma. Rezemos para que o Espírito Santo continue sua obra e que Francisco siga em frente. Rezemos pelo papa Francisco com muito amor. Adelante!