Margarida Alves – o símbolo de uma categoria. A impunidade continua após 27 anos de seu assassinato

Maria Dolores de Brito Mota

12 de agosto de 1983 – Margarida Maria Alves, trabalhadora rural, presidenta do Sindicato de Trabalhadores rurais de Alagoa Grande, município do Estado da Paraíba, foi assassinada por um pistoleiro, a mando dos usineiros da região do brejo paraibano. O crime foi brutal. Eram aproximadamente 18 horas e Margarida estava em frente a sua casa com o marido e o filho, quando um matador de aluguel deu um tiro de espingarda calibre 12,em sua face, deformando-a. Margarida, desde 1973 ocupava a presidência do STR , e à época de sua morte havia movido 73 ações trabalhistas de trabalhadores rurais das usinas por direitos trabalhistas. Esse foi o motivo do crime. Margarida foi uma das mulheres pioneiras das lutas pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais no Brasil. Após a sua morte tornou-se um símbolo político, representativo das mulheres trabalhadoras rurais, que deram seu nome ao evento mais emblemático que realizam – a Marcha das Margaridas, uma mobilização nacional que reúne em Brasília milhares de mulheres trabalhadoras rurais no dia 12 de agosto.

A Marcha das Margaridas ocorreu pela primeira vez em 2000, e desde então teve outras edições em 2003, 2007, 2008 e 2009, sempre definindo uma pauta de reivindicações a serem entregues aos representantes dos poderes públicos federais.

As mulheres trabalhadoras rurais brasileiras iniciaram a sua organização em movimentos sociais específicos, para lutarem pelo seu reconhecimento como categoria social no ano de 1982 e, na medida em que se consolidavam como sujeito político, ampliando as suas ações e o seu reconhecimento público, foram se identificando como Margaridas. Como símbolo Margarida é uma flor, mas é também luta, pois é a líder sindical que não se rendeu às ameaças dos ricos, e afirmou preferir “morrer lutando, que morrer de fome”.

Apresentando-se como Margaridas, as mulheres trabalhadoras rurais constroem uma identidade própria e uma sensibilidade pública utilizando estrategicamente alguns papéis e atributos tradicionais das mulheres – fragilidade, filhos, sensibilidade, que associa a imagem da mulher a uma flor, a Margarida, que também é uma mulher forte, que deu a vida pela luta. Transformam o desqualificado e frágil feminino em força e eficácia política, na luta e nas ruas.

O assassinato de Margarida continua impune. Dos cinco acusados de serem mandantes do crime, ligados ao Grupo Várzea, apenas dois foram julgados e absolvidos: Antônio Carlos Coutinho e José Buarque de Gusmão Neto, conhecido como Zito Buarque. Os outros mandantes: Agnaldo Veloso Borges já faleceu e os irmãos Amaro e Amauri José do Rego estão foragidos. O assassinato de Margarida Alves, permanece entre os grandes crimes de repercussão nacional e internacional impunes no país, tendo sido encaminhado para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Justiça para Margarida! Viva Margarida Alves em todas as outras Margaridas de todos os cantos rurais do Brasil.

4 Comentários

  1. Maria Selma Lopes Silva
    ago 17, 2010 @ 17:02:27

    São muitos os crimes que vão a prescrição sem que o autor do delito seja punido. Embora a Comissão Interamericana de Direitos Humanos seja um orgão de extrema importancia para cobrar providencias do Brasil ou de outro Pais que faça parte da Convenção, Maria da Penha teve que procurar o Direito Internacional, através da Comissão para ver seu agressor punido. O Estado do Ceará foi punido e teve que pagar uma multa de sessenta mil reais por recomendação da Comissão e quase prescrevendo o autor foi preso. Portanto, salutar conscientizar as pessoas dos caminhos a seguir quando se sentirem injustiçadas, através da divulgação do papel da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e de seu papel nos Direitos Humanos e dignidade das pessoas. Com estas simples palavras, deixo minhas considerações sobre a morosidade da Justiça em nosso Pais.

  2. Maria Selma Lopes Silva
    ago 17, 2010 @ 17:03:27

    São muitos os crimes que vão a prescrição sem que o autor do delito seja punido. Embora a Comissão Interamericana de Direitos Humanos seja um orgão de extrema importancia para cobrar providencias do Brasil ou de outro Pais que faça parte da Convenção, Maria da Penha teve que procurar o Direito Internacional, através da Comissão para ver seu agressor punido. O Estado do Ceará foi punido e teve que pagar uma multa de sessenta mil reais por recomendação da Comissão e quase prescrevendo o autor foi preso. Portanto, salutar conscientizar as pessoas dos caminhos a seguir quando se sentirem injustiçadas, através da divulgação do papel da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e de seu papel nos Direitos Humanos e dignidade das pessoas. Com estas simples palavras, deixo minhas considerações sobre a morosidade da Justiça em nosso Pais. No meu primeiro comentário neste site eu não falei da Comissão, nem da morosidade da Justiça.

  3. Giselio Marques
    set 16, 2010 @ 22:50:45

    Alagoa Grande hoje, tem uma grande divida para com a memória desta inesquecivel mulher(MARAGARIDA MARIA ALVES). Fico triste por minha cidade tão pouco reconher a luta pelos direitos dos trabalhadores rurais que essa GRANDIOSA mulher travou contra um sistema capitalista mediucre. Procuro sempre falar sobre ela. Busco sempre compreender cada vez mais a sua luta. E espero que um dia, todos do meu municipio possam saber contar pelo menos a história de coragem que esta mulher vivenciou. Que nós alagoagrandenses não sejamos tão injustos com quem foi tão justa para com os direitos de nossos povo sofrido e trabalhador. Se vizitarem Alagoa Grande um dia, vão até o museu de MARAGARIDA MARIA ALVES. Fica localizado na Rua do Olinda, bem próximo de centro. Lá, vocês encontrarão um pouco da história de uma mulher que morreu pelo direito de viver dignamente.

  4. brigyda
    mar 02, 2011 @ 14:21:41

    massa.