Mensagem de D. Odilo sobre a renúncia do Papa Bento XVI

Caríssimos Bispos Auxiliares,
Padres, diáconos, consagrados/as,
Queridos leigos e leigas
da Arquidiocese de São Paulo

No dia 11 de fevereiro passado, como já foi amplamente divulgado, o Papa Bento XVI anunciou a sua renúncia ao ministério de Sucessor de São Pedro, diante de um grupo de Cardeais que havia convocado para um Consistório Ordinário em vista de algumas novas canonizações de santos.

Portanto, no próximo dia 28 de fevereiro, às 20h de Roma, a Cátedra de Pedro, em Roma, se tornará vacante; Bento XVI se recolherá num convento, dentro do Vaticano e, portanto, o Colégio dos Cardeais deverá reunir-se em Conclave para escolher um novo Papa para suceder a Bento XVI no governo da “barca de Pedro”, a Igreja.

O próprio Papa explicou os motivos desse seu gesto surpreendente: a idade avançada (quase 86 anos) e a diminuição de suas forças, que não lhe permitiam mais exercer de maneira adequada a exigente missão do Papa. Com grande realismo e humildade, Bento XVI reconheceu que seu vigor diminuiu nos últimos meses a ponto de já não se sentir mais em condições de administrar o ministério que lhe foi confiado, como Sumo Pontífice.

Assim, agradecendo a colaboração recebida dos Cardeais, Bento XVI usou uma expressão belíssima e de profundo significado: “agora entregamos a Santa Igreja aos cuidados do seu Supremo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo”; indicava, assim, para a verdadeira natureza do ministério do Papa, dos Bispos e de todos os sacerdotes, colocados a serviço da Igreja: todos eles, de fato, estão a serviço da Igreja em nome de Jesus Cristo e por encargo seu. Ele é o verdadeiro e único Senhor e Pastor da Igreja, que cuida dela e quer o seu bem.

Como é bem compreensível, a decisão do Papa, num primeiro momento, deixou muitas pessoas perplexas e sem saber o que dizer. A surpresa foi grande, pois ninguém está acostumado com a idéia da renúncia de um papa e, na história da Igreja, conhecemos apenas um caso de papa que renunciou, depois de ter sido eleito regularmente: trata-se do Papa Celestino V, um monge eremita eleito papa já com idade avançada e que renunciou em 13 de dezembro de 1294. Portanto, este é o segundo caso de renúncia do Papa, eleito em condições regulares, em cerca de 2 mil anos de história. No entanto, o Direito Canônico, que é o código das leis da Igreja, prevê a possibilidade de renúncia do Papa (cf cân. 332 §2).

A decisão do Papa Bento XVI, merece toda nossa compreensão, respeito e admiração pela sua humildade e coragem e pelo ensinamento de fé que nos deixa no serviço a Jesus Cristo e à Igreja. Não devemos estar apegados a cargos e posições, quando está em jogo o bem maior da Igreja, à qual servimos.

No Ano da Fé, neste momento, também somos levados a fazer um profundo ato de fé na própria Igreja: por um lado, ela é feita de pessoas e instituições humanas que passam, por mais importantes que elas sejam; por outro lado, a Igreja é uma realidade de fé, edificada sobre Jesus Cristo e animada pelo Espírito Santo. Por isso mesmo a Igreja é mais do que vemos e constatamos humanamente. Ela é o Corpo do qual Cristo é a Cabeça e o Espírito Santo é a alma vivificante; ela é o rebanho, do qual o próprio Jesus continua a ser o Supremo Pastor; ela é ainda o povo que Deus reúne e conduz pela história para a Pátria celeste, enquanto o envia para testemunhar a Vida Nova, tornada possível mediante a vivência do Evangelho e o seguimento de Jesus.

Mais do que nunca, este é o momento de reafirmarmos nossa fé na “Igreja Una, santa, Católica e Apostólica” e de confiar na ação do Espírito Santo, que a assiste, e na palavra de Cristo, que prometeu: “as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela” (cf. Mt 16,18)… E ainda: “Eu estarei convosco até a consumação dos séculos” (cf. Mt 28,20).

Ao Papa Bento XVI, nossa admiração e nosso agradecimento pelo bem que fez à Igreja, mesmo em meio a tantos sofrimentos e até incompreensões. Somos gratos ao Papa Bento XVI por seus numerosos, ricos e profundos ensinamentos, pelas suas catequeses e documentos magisteriais, pelas suas encíclicas sobre a caridade, a esperança e a encíclica social – Caritas in Veritate -, sobre as novas questões que o mundo e a Igreja enfrentam. Somos gratos, especialmente, pela visita do Papa ao Brasil, em 2007, aqui em São Paulo e Aparecida, pela canonização de Santo Antonio de Sant’Ana Galvão, 1º brasileiro nascido no Brasil. Somos gratos pelo estímulo dado à Igreja para renovar-se na fé, mediante o Ano da Fé, que estamos vivendo. Por ele, continuemos a rezar, para que Deus o conserve com saúde e serenidade.

E agora, ponhamo-nos em oração ao Espírito Santo, para que fortaleça a fé na Igreja e a renove na fidelidade a Cristo e na dedicação à missão. Ao mesmo tempo, peçamos que o mesmo Espírito de sabedoria e discernimento oriente os cardeais que deverão escolher o novo Sucessor de Pedro. Que ele seja fortalecido com todos os dons do Alto para exercer tão importante e pesada missão, para o bem de todo o povo de Deus e para que as ovelhas do rebanho do Bom Pastor tenham vida em abundância.

Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
Arcebispo de São Paulo