Missa de sétimo dia de Zilda Arns em São Paulo já está marcada

Cristiane Reimberg

A missa de sétimo dia da fundadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, será realizada na segunda-feira, dia 18, às 18h. A celebração, na Catedral da Sé, será presidida por Dom Tomé Ferreira da Silva, Bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo. “Será também uma homenagem para Dra. Zilda, que muito nos ensinou. Temos que continuar a sua obra e precisaremos de mais voluntários para dar continuidade a esses trabalhos em defesa da vida das crianças e dos idosos”, afirma a coordenadora da Pastoral da Criança na Arquidiocese de São Paulo, Maria do Rosário Gazzola de Souza.

Uma primeira homenagem já foi realizada no fim da tarde de quarta-feira, dia 13. O padre Júlio Lancellotti celebrou uma missa na Catedral da Sé. “O Haiti está precisando de condições de socorro, de equipamentos para salvar as pessoas. É nesse lugar que estava a Dra. Zilda. Ela não estava de férias. Estava no Haiti. Esse é um sinal. Onde a Igreja deve estar? Onde a Pastoral deve estar? No meio dos pobres. No meio do povo”, afirmou o padre no final da missa, entre aplausos.

A celebração também buscou homenagear os militares brasileiros mortos no Haiti. Ainda se rezou pelo povo haitiano, para que consiga reconstruir um novo espaço permeado de amor, paz e justiça.

Pastoral em São Paulo

A primeira palestra de Dra. Zilda Arns sobre a Pastoral da Criança na cidade de São Paulo ocorreu na região do Belém, em conjunto com o padre Júlio Lancellotti. Em favelas desse local e na região do Ipiranga, o trabalho da Pastoral da Criança passou a ser desenvolvido na capital paulista.

A ação da Pastoral da Criança começou em 1983, em Florestópolis/PR, e foi idealizada por Zilda Arns a partir de um pedido de seu irmão, Dom Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo de São Paulo. Ele pediu que a médica pensasse em uma ação para disseminar o uso do soro caseiro e combater a mortalidade infantil. Ao longo dos anos, o trabalho cresceu baseado na multiplicação do conhecimento nas comunidades. São realizadas visitas às famílias, encontros, reuniões e ações complementares como alfabetização, geração de renda, brinquedos e brincadeiras e comunicação popular.

Os dados mais atuais da Pastoral da Criança apontam que cerca de 1 milhão e 600 mil crianças são acompanhadas em todo o Brasil. O trabalho ainda abrange 85 mil gestantes. Há 4000 municípios com Pastoral da Criança. A ação conta com quase 240 mil voluntários no país.

Segundo a PNDS 2006, o valor médio nacional de mortes de crianças com menos de 1 ano é de 22 por mil nascidos vivos no Brasil. Na Pastoral da Criança, esse índice está atualmente em 12,4 por mil nascidos vivos. Vale lembrar que são acompanhadas somente crianças de bolsões de pobreza no país.

Já o trabalho internacional chegou a outros 19 países: Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste, Argentina, Paraguai, Honduras, México, Venezuela, Bolívia, Uruguai, Peru, Panamá, República Dominicana, Colômbia, Guatemala, Filipinas, Guiné e Haiti.

Padre Julio fala de Dra. Zilda

Antes da missa celebrada quarta-feira, dia 13/01, padre Júlio Lancelotti deu uma pequena entrevista e falou sobre Zilda Arns:

O senhor poderia falar sobre essa perda?

Estamos consternados. É inacreditável. É difícil de acreditar, a impressão que temos é que ela vai chegar, que vamos vê-la outra vez e que vamos abraçá-la, que ela vai contar uma porção de coisa para nós. É muito difícil ainda. Um momento de dor. É o que colocamos no site de nossa paróquia: quem ama é imortal, não morre jamais, a Dra. Zilda está viva.

Qual é a importância do trabalho realizado por Dra. Zilda e da metodologia por ela criada?

A Dra. Zilda conseguiu trazer conhecimentos técnicos e científicos para a linguagem popular. Então ela trabalhou no empoderamento da família, das mulheres, dos líderes e das líderes da Pastoral da Criança. A grande sacada da Dra. Zilda foi socializar o conhecimento, trazendo aquilo que era um conhecimento privativo dos médicos, pediatras, sanitaristas, para a ação e o trabalho das líderes com as famílias. É uma das grandes mulheres do Brasil.

O senhor ajudou o início da Pastoral da Criança em São Paulo. Em uma entrevista que realizei, ela contou que a ação começou na Região Belém, onde o senhor atua, e no Ipiranga. Como foi esse começo?

Foi um começo difícil, mas a Dra. Zilda não se impressionava com a dificuldade. Ela não se abalava nem mudava a maneira de agir. Lembro quando fui com ela na favela do Sinhá. Andamos pela favela toda. Ela ficou na celebração comigo. Depois conversou com as famílias. Percebeu que lá era terra fértil. As comunidades se mobilizavam. Ela tinha convicção de que na hora em que as pessoas ouvissem a proposta e a metodologia iam aceitar. E foi isso que aconteceu.