O nosso grande pecado

José Antonio Pagola

O episódio da multiplicação dos pães teve grande popularidade entre os seguidores de Jesus. Todos os evangelistas o recordam. Seguramente, comovia-os pensar que aquele homem de Deus se tinha preocupado em alimentar uma multidão que tinha ficado sem o necessário para comer.

Segundo a versão de João, o primeiro que pensa na fome daquele gente que foi escutá-Lo é Jesus. Esta gente necessita de comer; tem de se fazer algo por eles. Assim era Jesus. Vivia pensando nas necessidades básicas do ser humano.

Filipe faz-Lhe ver que não têm dinheiro. Entre os discípulos, todos são pobres: não podem comprar pão para tantos. Jesus sabe-o. Os que têm dinheiro não resolverão nunca o problema da fome no mundo. É necessário algo mais do que dinheiro.

Jesus vai ajudá-los a vislumbrar um caminho diferente. Antes de mais nada, é necessário que ninguém acumule o seu para si mesmo se há outros que passam fome. Os Seus discípulos terão que aprender a por à disposição dos que têm fome o que tenham, mesmo que só seja «cinco pães de cevada e um par de peixes».

A atitude de Jesus é a mais simples e humana que podemos imaginar. Mas, quem nos vai ensinar a nós a partilhar, se só sabemos comprar? Quem nos vai libertar da nossa indiferença ante os que morrem de fome? há algo que nos possa fazer mais humanos? Produzir-se-á algum dia esse “milagre” da solidariedade real entre todos?

Jesus pensa em Deus. Não é possível acreditar Nele como Pai de todos, e viver deixando que os Seus filhos e filhas morram de fome. Por isso, toma os alimentos que recolheram no grupo, “levanta os olhos ao céu e diz a ação de graças”. A Terra e tudo o que nos alimenta recebemos de Deus. É uma oferta do Pai destinado a todos os Seus filhos e filhas. Se vivemos privando outros daquilo que necessitam para viver é porque o esquecemos. É o nosso grande pecado apesar de quase nunca o confessarmos.

Ao partilhar o pão da eucaristia, os primeiros cristãos sentiam-se alimentados por Cristo ressuscitado, mas, ao mesmo tempo, recordavam o gesto de Jesus e compartiam os seus bens com os mais necessitados. Sentiam-se irmãos. Não tinham todavia esquecido o Espírito de Jesus.

Um Comentário

  1. teresa norma tadeu castellani
    jul 25, 2009 @ 23:19:28

    Sr Jose Antonio Pagola fiquei muito feliz de encontrar aqui um texto seu e poder comentar uma frase que li em seu livro Jesus, uma abordagem historica. “…O que era preciso e urgente fazer era dosear a vida de todos com a compaixao, uma compaixao que fosse parecida com a de Deus. O que era preciso era olhar com olhos de compaixao os filhos perdidos, os excluidos do trabalho, os delinquentes impotentes para refazerem suas vidas, as vitimas caidas nas bermas dos caminhos. Era urgente implantar a misericorida…” pag 144