Padre: pai gerando Cristo no coração da humanidade

Pe. Tarcisio Marques Mesquita

Neste ano sacerdotal, a Igreja nos convoca a pensar sobre o dom divino de servir residente no presbítero, o qual revitaliza a comunidade cristã com a presença real de Jesus na Eucaristia. Subsiste na raiz deste serviço uma aliança de forças que torna seu ministério vigor renovador e salvífico: a vontade do Pai, expressa no amor de Cristo, o próprio sacerdote, como pai doador de vida, e os frutos da terra e do trabalho humano; tudo isso se associando e tornando possível que Jesus prolongue sua presença entre nós como pão da vida e vinho da salvação.

Na Comunidade Cristã, esse homem investido deste ministério ordenado é chamado por todos “Padre”, pois deve ser o pai de toda a comunidade. O que melhor cumpre suas funções ministeriais, portanto, é exatamente aquele que ama com amor paterno. Por isso deve ser um pai dedicado, agindo e trabalhando para alimentar a família e, ainda, saciá-la em sua sede. Embora filho como os demais filhos de Deus, seus compromissos paternais exigem que nutra, sacie, guie, defenda, proteja e acalente numerosos filhos e filhas, todos adotados pela força intrínseca do Sacramento da Ordem que recebeu.

É guiado pela força de seu ministério que o padre se nutre do mesmo pão e do mesmo cálice. O vínculo que surge de alimentar e ser alimentado, nutrir e ser nutrido, deve propiciar a ele a ciência de estar continuamente a serviço, mantendo profundos vínculos de amor para com toda a criação, particularmente todo ser humano. Amando a Cristo, o verbo que existe antes de todos os séculos, por meio do qual tudo foi feito (cf. Jo1,3), ele expressa este amor e reverência a toda natureza, que passou a existir pela palavra e desejo do Cristo-Senhor, a quem ele, como pai, gerando vida, dever fazer nascer e ser distribuído por intermédio deste seu ministério.

No início do serviço presbiteral, no ser de todo padre comprometido com a vida de sua comunidade, já predominam preocupações quanto ao ambiente formado pelos interesses do convívio humano dentro do qual seus filhos e filhas circulam. Hoje, mais do que nunca na história humana, adiciona-se a estas suas preocupações o ambiente que compõe as condições que tornam possível a manutenção digna da vida humana neste planeta. Por isso, o momento presente exige que ele se envolva nas preocupações quanto ao ar, água, calor e frio, carência de alimento ou violência, não se omitindo, também, na busca de soluções, à luz do Evangelho, para estas mesmas questões.

Podem-se observar quão imensos são os desafios que inquietam a vida de um padre, ou seja, de um pai todo especial como ele deve ser. É por isso que faz parte dos seus encargos velar e atuar para que seus rebentos cresçam e vivam em um ambiente que lhes seja favorável. O padre não pode, portanto, vacilar e se omitir em participar dos esforços, atualmente tão urgentes, na preservação deste nosso meio planetário, que é a nossa casa. Da mesma forma como não é possível ser bom pai sem se deixar envolver nas questões que afligem e colocam em risco a vida de seus filhos, não é possível ser bom padre sem se inteirar dos desafios que fazem parte dos ambientes social e natural deste tempo.

Poder-se-ia perguntar: Qual pai autêntico não se preocuparia com as condições dignas de sua da família? Qual padre, fiel ao seu ministério, não se preocuparia com os destinos da humanidade a quem ele prometeu servir em obediência ao Cristo, por meio de quem ele se faz ministro? Por derivação destas interrogações, é essencial afirmar que o padre não se veja somente a repetir as palavras de Jesus “Isto é meu corpo… Isto é meu sangue”, mas as sinta como suas e mergulhe, junto com Jesus, no prazer de se dar e salvar. O padre, de fato, constrói de suas energias paternas um elenco de fé, transformando-o, a seguir, em tomadas de atitudes a serviço da vida. Ele é pai por disposição pessoal e em resposta ao Evangelho de Cristo , exercendo sua paternidade num contínuo aprendizado de plena doação.

Padre, enfim, é pai em natureza de serviço e por resposta ao convite do amor divino de se fazer motivação evangélica de serviço ao dom da vida; pai, em vista de um mundo em que se possa respirar um bom ar, beber água pura, onde haja aconchego, superação de todo mal e acolhida a todo ser humano, dom inestimável de Deus. O intenso vínculo ao Cristo deve torná-lo capacitado a compreender os caminhos humanos atuais, com seus riscos e alternativas, e saber lidar com suas próprias inseguranças a ponto de, como o próprio Cristo, não se acovardar em face aos riscos de morte inerentes ao cotidiano de quem busca, como bom pai, o bem dos filhos e filhas.

Um Comentário

  1. TATIANA JURKSTAS CAPILLE SALLES
    dez 15, 2009 @ 09:01:09

    PADRE : PAI, PASTOR E AMIGO !