Por que somos tão covardes?

José Antonio Pagola

“Por que sois assim tímidos?! Como é que não tendes fé?”. Para o evangelista Marcos, estas duas perguntas que Jesus dirige aos seus discípulos não são uma anedota do passado. São as perguntas que devem ouvir os seguidores de Jesus no meio de suas crises. As perguntas que nós temos que fazer também hoje: Onde está a raiz de nossa covardia? Por que temos medo frente ao futuro? É porque nos falta a fé em Jesus Cristo?

A história é breve. Tudo começa com uma ordem de Jesus: “Passemos para a outra margem”. Os discípulos sabem que na outra margem do lago Tiberíades se encontra o território pagão da Decápolis. Um país diferente e estranho. Uma cultura hostil a sua religião e as suas crenças.

De repente uma tempestade forte se levanta, a metáfora gráfica do que acontece no grupo dos discípulos. O vento violento, as ondas que quebram contra o barco, a água que começa a invadir tudo, expressam bem a situação: Que poderão os seguidores de Jesus frente à hostilidade do mundo pagão? Não somente está em perigo sua missão, mas a sobrevivência mesma do grupo.

Despertado pelos seus discípulos, Jesus intervém. O vento se aquietou e no lago fez-se grande bonança. A coisa surpreendente é que os discípulos “ficam possuídos de grande temor”.

Antes estavam com medo da tempestade. Agora parece que estão com medo de Jesus. Não entanto, algo decisivo se produziu neles: recorreram a Jesus; puderam experimentar nele uma força salvadora que não conheciam; começam a se perguntar pela sua identidade. Começam a intuir que com Ele tudo é possível.

Hoje o Cristianismo encontra-se no meio “de uma forte tempestade” e o medo começa a tomar conta de nós. Não ousamos passar para “uma outra margem”.

A cultura moderna é para nós um país estranho e hostil. Temos medo do futuro. A criatividade parece proibida. Alguns acham mais seguro mirar para atrás, para ir melhor adiante Jesus pode nos surpreender todos. O Ressuscitado tem a força para inaugurar uma fase nova na história do Cristianismo. Só a fé nos é pedida. Uma fé que nos liberte de tantos medos e covardia, e nos leve ao compromisso de caminhar atrás das pegadas de Jesus.