Presidente da CNBB celebra missa pelo centenário de Dom Helder

RECIFE, domingo, 8 de fevereiro de 2009 (ZENIT.org) – “Nesta comemoração do centenário de nascimento de Dom Helder Camara, damos graças a Deus pelo dom de sua vida, repleta de sabedoria, profetismo e doação à Igreja e aos irmãos.”

Com essas palavras, o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Dom Geraldo Lyrio Rocha, iniciou sua homilia na missa do centenário de nascimento do ex-arcebispo de Olinda e Recife, em frente à igreja das Fronteiras, em Recife, ontem.

“Aos 90 anos de idade, em 1999, Dom Hélder partiu para o encontro definitivo com o Pai. Mas, aqui na terra, ele já estava “em suas mãos”, conforme dizia seu lema episcopal”, afirmou Dom Geraldo.

Dom Helder nasceu em Fortaleza, a 7 de fevereiro de 1909. Foi nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro em 1952. Em 1964, foi nomeado arcebispo de Olinda e Recife.

Segundo o presidente da CNBB, dois fatores significativos acentuavam a importância fundamental da presença de Dom Helder naquele momento no Nordeste brasileiro.

“No campo socioeconômico, o golpe militar de 1964; no campo eclesial, o Concílio Ecumênico Vaticano II em sua extraordinária perspectiva de renovar a Igreja diante dos grandes desafios dos tempos atuais.”

Dom Geraldo Lyrio explicou que, para o regime militar, “eram já conhecidas as posições de Dom Helder, tanto pela sua atuação na cidade do Rio de Janeiro, como pelos seus posicionamentos em nível nacional, especialmente na defesa dos direitos dos pobres, na promoção da justiça, da democracia e da liberdade de expressão”.

“Ao chegar à arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Helder dirige sua mensagem de pastor, abre o coração aos seus diocesanos e procura desarmar os espíritos.”

“Seus pronunciamentos, homilias e iniciativas pastorais começam a incomodar o regime militar que o condenou, em 1970, a ser silenciado pelos meios de comunicação de todo o país”, recorda.

Se por um lado –prossegue o presidente da CNBB–, “a atitude dos militares limita sua ação de pastor diocesano, por outro lado, o lançava na missão profética além das fronteiras do Brasil, com convites insistentes para fazer conferências em muitas partes do mundo”.

“Sua presença irradiava confiança e suas palavras sedimentavam a mística do compromisso evangélico. Sendo por vezes sinal de contradição, não deixava de ser sinal de esperança, sobretudo para os mais pobres e para todos aqueles que lutam pela justiça e pela paz.”

De acordo com Dom Geraldo Lyrio, durante o Vaticano II, Dom Helder soube aproveitar a oportunidade dos contatos com todos os episcopados do mundo.

“Esse papel singular que soube desempenhar durante o Concílio lhe oferecia a possibilidade de tornar-se missionário do mundo, como peregrino da justiça e da paz.”

Dom Geraldo prossegue explicando que Dom Helder travou um relacionamento especial de amizade com os bispos que tinham maior sensibilidade para a problemática do “Terceiro Mundo”.

“Neste contexto, surge o famoso grupo de bispos, provenientes de todos os continentes, que se encontrava, a cada sexta-feira, para refletir sobre a missão da Igreja junto aos pobres e a necessidade de a Igreja ser sinal do Cristo pobre.”

Ao final do Concílio –afirma o presidente da CNBB–, “no dia 16 de novembro de 1965, quarenta bispos de várias partes do mundo reuniram-se numa catacumba em Roma e assinaram o Pacto das Catacumbas. Cada um assumia o compromisso de viver pobre, rejeitar as insígnias, símbolos e privilégios do poder e a colocar os prediletos de Deus no centro de seu ministério episcopal, explicitando assim a evangélica opção pelos pobres.”

“Dom Helder tinha como lema missionário o versículo da carta de São Paulo aos Romanos: “esperando contra toda esperança, como Abraão” (Rm 4, 18). Para tanto, em suas viagens internacionais, estimulava as minorias abraâmicas, – semeando grupos em todos os continentes.”

“As minorias abraâmicas eram formadas por aquelas pessoas que esperavam, apesar dos pesares, com firmeza permanente, se comprometendo com a construção de uma sociedade justa e fraterna. Era a não violência ativa”, afirma.