Profanidade do mundo e silêncio de Deus

Maria Clara Bingemer

O pensamento pós-moderno, caracterizado pela “desconstrução” e relativização de todo o edifício conceitual aparentemente sólido da modernidade, questiona também toda tentativa de dizer de forma plena o Absoluto inefável que o Cristianismo e outras tradições religiosas chamamos Deus. Considera igualmente todo discurso com pretensões à universalização e à totalização como redutor e inadequado.

Não seria pertinente, no entanto, admitir como premissa iniludível que vivemos uma época de enfraquecimento da fé em Deus e da reflexão sobre Ele. Ainda que seja certo que a época moderna proclamou a inevitabilidade do declínio das religiões, chegando até a sustentar a tese da morte de Deus, a identificação da modernidade com o humanismo ateu carrega consigo uma redução insustentável. Com efeito, o projeto da modernidade engendrou a indiferença religiosa mais do que a negação de Deus. Ao mesmo tempo, a crise deste projeto demonstrou que uma sociedade, se não encontrar seu fundamento em uma Transcendência – seja dado a ela ou não o nome de Deus – se dissolverá lenta e inexoravelmente.

A proclamação do advento da assim chamada pós-modernidade e do pretenso “retorno” do religioso, permite entrever que é bastante inadequado decretar o banimento de Deus do horizonte humano. E que, ao contrário, a busca de Deus continua a agitar o coração da humanidade, sem levar em conta o risco corrido por todos os discursos “oficiais” sobre Deus de encontrar-se envelhecidos.

Hoje, seria possível encontrar uma concepção que migrou de um Deus pessoal em direção a um Deus mais impessoal e, portanto, mais afastado da tradição cristã. Mas não estaria aí para o homem e a mulher pós-modernos a fascinante oportunidade de descobrir aquele que desde a primeira hora da nossa era, Paulo de Tarso tentava anunciar aos atenienses, procurando o caminho para nomear o Deus desconhecido cujo templo encontrara andando pela cidade(cf. At 17)?

O grande teólogo Karl Rahner afirma, muito certeiramente que se a palavra “Deus”e mesmo sua memória fossem banidos definitivamente do pensamento e discurso humanos, isso não provaria a não existência de Deus. Pelo contrario, o ser humano é que teria desaparecido e mergulhado no nada, fracassando em seu projeto e vocação. Pois Deus é constitutivo do ser humano, em sua identidade em contínua auto-transcendência.

A fragmentação da pós-modernidade vai re-situar o problema de Deus a partir de um reencontro com o primado da alteridade. A partir daí emergirá um novo paradigma inter-subjetivo e relacional que reconduzirá a linguagem humana a encontrar as palavras para dizer o Absoluto pelo qual seu coração anseia. Aí talvez possa voltar a ter sentido uma vida fragmentada pelo estilhaçamento de uma compreensão global totalizante e uniformizante do mundo e da história.

O judeu-cristianismo coloca como caminho possível da identidade do “eu” o rosto do outro. Amar o outro como a si mesmo é, desde o Antigo Testamento, o maior mandamento, paralelo à grandeza de amar a Deus sobre todas as coisas. No Novo Testamento ambos são tomados, segundo Jesus, como resumo, síntese feliz da lei e dos profetas. No cristianismo, portanto, o ser humano é visto como alguém livre. Porém livre para amar. A liberdade não é concebida como uma heteronomia opressiva, no sentido de uma lei exterior que esmaga e destrói a subjetividade, mas é dom gratuito de Deus que coloca e recoloca sempre de novo o homem livremente no caminho do amor, no percurso em direção ao outro.

A visão cristã tenta dar um passo adiante nesse sentido, ao dizer que a liberdade não vem puramente de fora, mas está dentro do ser humano, como inscrição ali gravada, da interpelação epifânica, manifestativa do rosto do outro – do pobre, da viúva, do órfão, do estrangeiro – que institui para ele a única lei, que é a lei do amor. O caminho para Deus hoje, portanto, passa por sua descoberta no sofrimento e na fragilidade do outro. Disso deram testemunho todos os místicos – homens ou mulheres – do último século que, situados no epicentro da injustiça, da violência e do mal, experimentaram a vida em plenitude e a transmitiram como legado a nossa geração.

2 Comentários

  1. jamille
    mar 19, 2011 @ 00:44:55

    oi pessoal gostaria de pedir um conselho a voces tenho 19 anos e sou uma pessoa muito pecadora eu antes era uma pessoa que tinha muita fe em Deus ia para todas as missas e hoje nao tenho tanta vontade de ir para a igreja resolvir lhes escrever para ver o que devo fazer para retornar a minha igreja pois sou muita arenpendida de nao mais frequentar as missas e poder comungar preciso muito desse conselho mim reponda no meu email
    bjos jamille

  2. Alexandre Leone
    mar 21, 2011 @ 10:05:03

    Cara Jamile, bom dia!!, depois de ter acompanhado a sua mensagem, posso te dizer uma coisa muito séria, Deus não guarda rascunho do dia anterior, ele fez o dia de hoje para você, para todos nós, assim se você pecou, Deus não fica procurando no livro o que aconteceu no passado, vire a página, comece tudo outra vez, mas como Jesus mesmo disse a Maria Madalena, não peques mais. O que está feito ficou no passado, hoje você deve ir até uma Igreja, e pedir e fazer uma confição junto ao Padre. Se achar melhor fazer isso em outra paróquia faça, não importa, O certo é você estar junto a Deus, proclamando a sua palavra, e se livrar do pecado. Não minta mais para você faça isso, aproveite o tempo da Quaresma e procure sua cura interior, faça uma boa confição, seja sincera ao Padre, fale tudo sem restringir nada, e peça a ela o perdão de Deus. Você então dará um passo para a sua cura e o encontro com a verdadeira Igreja de Deus. Reze sempre para São Miguel Arcanjo, ele estará a frente para combater o mau!!!. Pecado, todos somos pecadores, portanto vire a página e construa uma vida nova, com base forte, fincada na Rocha. Você vai conseguir, tenho certeza. Um forte abraço,

    Alexandre.