Que faz Deus numa cruz?

José Antonio Pagola

Adital – [Tradução: Antonio Manuel Álvarez Pérez]

Segundo o relato evangélico, os que passavam ante Jesus crucificado sobre a colina do Gólgota escarneciam Dele e, rindo-se da Sua impotência, diziam-Lhe: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz”. Jesus não responde à provocação. A Sua resposta é um silêncio carregado de mistério. Precisamente porque é Filho de Deus permanecerá na cruz até à Sua morte.

As perguntas são inevitáveis: Como é possível acreditar num Deus crucificado pelos homens? Damo-nos conta do que estamos a dizer? Que faz Deus numa cruz? Como pode subsistir uma religião fundada numa concepção tão absurda de Deus?

Um “Deus crucificado” constitui uma revolução e um escândalo que nos obriga a questionar todas as ideias que nós, humanos, fazemos a um Deus a quem supostamente conhecemos. O Crucificado não tem o rosto nem os traços que as religiões atribuem ao Ser Supremo.

O “Deus crucificado” não é um ser onipotente e majestoso, imutável e feliz, alheio ao sofrimento dos humanos, mas um Deus impotente e humilhado que sofre conosco a dor, a angústia e até a mesma morte. Com a Cruz, ou termina a nossa fé em Deus, ou nos abrimos a uma compreensão nova e surpreendente de um Deus que, encarnado no nosso sofrimento, nos ama de forma incrível.

Ante o Crucificado começamos a intuir que Deus, no Seu último mistério, é alguém que sofre conosco. A nossa miséria afeta-O. O nosso sofrimento salpica-O. Não existe um Deus cuja vida transcorre, por assim dizer, à margem das nossas penas, lágrimas e desgraças. Ele está em todos os Calvários do nosso mundo.

Este “Deus crucificado” não permite uma fé frívola e egoísta num Deus onipotente ao serviço dos nossos caprichos e pretensões. Este Deus coloca-nos a olhar para o sofrimento, o abandono e o desamparo de tantas vítimas da injustiça e das desgraças. Com este Deus encontramo-nos, quando nos aproximamos do sofrimento de qualquer crucificado.

Os cristãos continuam a tomar todo o gênero de desvios para não dar com o “Deus crucificado”. Temos aprendido, inclusive, a levantar o nosso olhar para a Cruz do Senhor, desviando-a dos crucificados que estão ante os nossos olhos. No entanto, a forma mais autêntica de celebrar a Paixão do Senhor é reavivar a nossa compaixão. Sem isto, dilui-se a nossa fé no “Deus crucificado” e abre-se a porta a todo o tipo de manipulações. Que o nosso beijo ao Crucificado nos coloque sempre a olhar para quem, próximo ou afastado de nós, vive a sofrer.

3 Comentários

  1. Prof Cristiana Passinato
    mar 28, 2010 @ 15:32:19

    Pe, a idéia da cruz, é o símbolo do sofrimento, tanto nós quanto a imagem de Jesus na cruz, nos diz que até ele se humilhou e se igualou a nós em carne e osso para nos salvar em seu calvário.
    Isso nos mostra que nossos sofrimentos todos são suportáveis e que o que sofremos diante do que nos salvou?
    Usar nosso sofrimento pra nossa salvação é tentar seguir a meta do ideal da santidade, é imitar a Deus através do que Jesus nos demonstrou ter como maior desafio: o de ser condenado e carregar sua cruz onde foi morto injustamente por nós.
    Não deixo de pensar na idéia de que todos temos que seguir nossas vias crussis e segurarmos nossas cruzes e ao nos permitir sermos crussificados quando ressuscitados poderemos nos dizer seres renovados… Vida nova na metodologia da crussificação e do sofrimento…
    Um abraço, Pe, com carinho,
    Cris

  2. Dirlene Ramires
    mar 28, 2010 @ 16:05:30

    Boa tarde PadreJulio
    Que linda reflexão!Concordo plenamente com tudo!
    Há muitas pessoas, que evitam olhar o sofrimento do outro.Fingir que naõ viu, e a melhor maneira de não se envolver,no calvario da humanidade,no qual esbarramos todos os dias!
    Como se Deus não estivesse atento a todos os nossos atos!
    Quando fingimos que não vemos,e ,não fazemos o que precisa ser feito .”Deus perde a o portunidade de agir.”
    A missa de hoje foi linda!Todas as comunidades do bairro reunidas.
    ♥JESUS!♥AMOR TÃO PURO ,AMOR TÃO GRANDE AMOR ETERNO DE DEUS EM MIM !
    NEM AS TORRENTES DAS GRANDES AGUAS, CONSEGUIRÃO APAGAR ESSE AMOR♥
    POIS SUAS CHAMAS SÃO FOGO ARDENTE,MAIS DO QUE AMORTE, É TÃO FORTE ESSE AMOR♥(Nicodemos Costa)Interprete:”Pe FAbio de Melo”

    Dirlene Guarulhos/.Obrigada pe Julio pela oportunidade!”

  3. HÉLIO CARDOSO
    mar 29, 2010 @ 11:36:28

    O progresso e a correria do dia a dia tem alterado em muito o sentimento e a vida das pessoas.
    O texto apresentado “Que faz Deus numa Cruz?” deve nos fazer refletir com profundidade e convencer-nos de que Deus está em cada irmão e irmã que estão ao nosso lado, que nosso amor por todos fará uma renovação de cada um e que isso é o verdadeiro sentido da Páscoa do Senhor.
    Espero sinceramente, que cada um no visita ao seu interior possa ver o que Deus espera de nós e que as palavras bonitas que dizemos e ouvimos se transformem em gestos reais de humildade e caridade para que possamos transformar o mundo num local de paz e harmonia, uma vez que Jesus doou sua vida para nos redimir do pecado e sequer pensemos nisto nesta Semana Santa.
    Tomemos uma atitude concreta de mudança radical em nossas vidas, que a atitude magna de Jesus seja para nós o ponto do início da construção de uma nova vida e de um novo mundo.