Seguir com fidelidade o desenrolar do Ano Litúrgico

Dom Edmar Peron

O Ano da Fé, concluído no último domingo, solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, nos impulsiona a prosseguir o caminho; somos peregrinos (1Pd 2,11), em busca da cidade que Deus preparou para nós (Hb 11,16); caminhamos à luz da fé (Lumen fidei) e suplicamos continuamente: “Senhor, aumenta a nossa fé” (Lc 17,5). Passamos por essa Porta quando acolhemos a Palavra de Deus e nos deixamos transformar pela graça divina. Contudo, lembrava o Papa Bento XVI, atravessar a porta da fé “implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira” (Porta fidei, 1). Este caminho teve seu início sacramental no Batismo (Rm 6,4) e alcançará sua conclusão quando passarmos da “morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus, que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua própria glória quantos creem n’Ele” (Jo 17,22).

Esse caminhar na fé encontra no Ano Litúrgico sua fonte espiritual, por ser ele “o caminho privilegiado” para sermos introduzidos “no mistério da salvação”, mistério “anunciado pela ação evangelizadora” da Igreja e que “se torna presente nos sinais sagrados” da Liturgia. Portanto, é preciso continuar a seguir “com fidelidade o desenrolar do Ano Litúrgico” (Mane Nobiscum Domini, 17).

O Concílio Vaticano II, depois de ensinar que a Liturgia, no conjunto da missão da Igreja, não é a única atividade, mas é o “cume” para o qual se dirige toda a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a “fonte” de onde emana toda a sua força (Sacrosanctum Concilium, 9-10), apresenta sinteticamente o sentido do Ano Litúrgico (SC 102). “Em determinados dias do ano”, a Igreja celebra “a memória sagrada da obra de salvação do seu divino Esposo”, Jesus Cristo; centro dessa obra salvadora é o mistério pascal do Senhor. Por isso, “em cada semana, no domingo, celebra a Ressurreição do Senhor”, a qual é celebrada uma vez por ano, no Tríduo Pascal, na “Páscoa, a maior das solenidades”. Seguindo a pedagogia de fé, a Igreja “distribui, pois, todo o mistério de Cristo pelo correr do ano, da Encarnação e Nascimento à Ascensão, ao Pentecostes, à expectativa da feliz esperança e da vinda do Senhor”. Dessa maneira, enquanto caminhamos no “hoje” de nossa história, nos são oferecidas as “riquezas das obras e merecimentos” de nosso Senhor e salvador Jesus Cristo, “a ponto de os tornar como que presentes a todo o tempo” e, assim, cumular de graça.

Procurando, pois, “seguir com fidelidade o desenrolar do Ano Litúrgico” quero apresentar brevemente o sentido do Tempo do Advento. Ele é o início do ciclo do Natal, e nos orienta para o encontro com o Senhor, o Verbo de Deus. O Tempo do Advento inclui 4 domingos, ainda que nem sempre inclua 4 semanas inteiras; ele “possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens [característica especial dos 3º e 4º Domingos], é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos [principalmente nos 1º e 2º Domingos]. Por este duplo motivo, o Tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa. […] Os dias de semana de 17 a 24 de dezembro inclusive visam de modo mais direto a preparação do Natal do Senhor”, e são, por comparação com a Quaresma, a Semana Santa do Advento (Normas para o Ano Litúrgico e o Calendário, 39 e 42). Essa dupla característica está presente nas orações, leituras e cantos desse tempo litúrgico.

Vivamos intensamente esse tempo de espera, em que, a Cristo, “o Espírito e a Esposa dizem: «Vem!»”. E à pessoa sedenta, diz: “receba de graça a água da vida” (Ap 22,17). Dediquemos um momento diário para ler e meditar as leituras de cada dia, ou, ao menos, o Evangelho. Sigamos fielmente “o desenrolar do Ano Litúrgico”, em meio às conclusões do ano civil.