Tempo Comum: Corpus Christi

Dom Edmar Peron

Entre as solenidades do Senhor, durante o Tempo Comum, temos a do Santíssimo Sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo. Tal celebração tem suas raízes na devoção eucarística, muito florescente a partir do século XII, que realçava a presença real de Cristo no sacramento e sua adoração. O papa Urbano IV, ao prescrever essa solenidade para toda a Igreja, no dia 11 de agosto de 1264, com a Bula “Transiturus de hoc mundo”, procurou situar a presença eucarística em seu contexto original: a celebração da morte e ressurreição de Cristo: “Este é o memorial… salvífico, no qual reconsideramos a grata memória da nossa redenção, no qual somos afastados do mal e revigorados no bem, e progredimos no crescimento das virtudes e das graças” (Denzinger Hünermann 846, = DH).

Esta festa é celebrada com missa, seguida de procissão, sendo consagrada, na missa, a hóstia que será levada em procissão; tal procissão e bênção ocupam o lugar dos ritos finais. As três orações da missa permaneceram as mesmas do missal de 1570, contudo – salientemos – a liturgia da Palavra foi enriquecida com leituras próprias para cada um dos anos: A, B e C. Enquanto as orações refletem respectivamente a eucaristia como memorial da paixão de Cristo, sacramento da unidade e prefiguração do gozo da vida divina, as leituras nos apresentam o mistério eucarístico a partir do êxodo (ano A), da Páscoa e da Aliança (ano B) e do Pão da Vida (ano C).

O sentido teológico é aquele que foi colocado por Jesus Cristo: “Fazei isto em memória de mim”. Colocar outro seria incorrer no erro gravíssimo de separar a “hóstia consagrada” do “mistério pascal” do Senhor (o que, às vezes, infelizmente, vemos acontecer – !?). Em cada santa missa, portanto, a Igreja torna presente o Senhor, faz a memória d’Ele, do seu mistério pascal, fato já acontecido, único, irrepetível e sempre atual (1Cor 11,23-26). Desse modo, a cada geração é dada a possibilidade de participar do mesmo sacramento do Senhor até que Ele venha! “Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.

A comunhão eucarística é, pois, participação sacramental na vida de Jesus Cristo – vida doada, vida entregue – pois o cálice de bênção é comunhão com o sangue de Cristo, e o pão que partimos é comunhão com o corpo de Cristo (1Cor 10,16). Essa comunhão vai nos configurando com Jesus: “Este pão é comido, mas na verdade não é consumido; é comido, mas não mudado, porque não é de modo algum transformado naquele que come, mas, se é recebido de modo digno, aquele que o recebe é a ele amoldado” (Bula Transiturus: DH 847).

Por fim, com a procissão, somos chamados a participar do esforço missionário de toda a Igreja: levar Cristo pelas ruas, fábricas, lojas, shoppings… Seria deficiente a espiritualidade que valorizasse o tapete e a procissão, mas não desse testemunho de Cristo diante do mundo.