Terra de Zabulon, terra das periferias

Cardeal Odilo Pedro Scherer

Muito interessante a mensagem do 3º Domingo do Tempo Comum, celebrado no dia 26 de janeiro. Fala do início da missão pública de Jesus, depois da prisão de João Batista (cf. Mt 4, 12-23).

Jesus deixa Nazaré, onde passou a fase de sua vida oculta, e fixa morada em Cafarnaum, iniciando sua missão pública junto do mar da Galileia. Vai anunciando que o Reino de Deus está perto e chama as pessoas a acolherem essa Boa Nova e a se voltarem para o Reino de Deus. Logo vai juntando muita gente ao seu redor; trazem-lhe doentes, pessoas com problemas de todos os tipos, que Jesus atende e cura. E vai chamando discípulos a seguirem atrás dele.

Chama a atenção o fato de Jesus não começar a pregar em Jerusalém, no templo, no ”centro”… Ele começa pela periferia, em regiões tidas até mesmo como “lugar de trevas”, gente meio pagã, idólatra… A “terra de Zabulon”, na Galileia, ainda hoje faz divisa com o sul do Líbano e com a Síria; a “terra de Neftali”, do outro lado do Jordão, ia para dentro do Líbano e da Síria atuais. Essas regiões, meio pagãs e contagiadas pela idolatria dos povos vizinhos, no tempo de Jesus, constituíam a “Galileia dos gentios”.

É lá que Jesus faz ressoar o bom anúncio da proximidade do Reino de Deus. Mateus vê, assim, realizada a profecia de Isaías, que falava da luz que resplandece para aqueles que viviam nas trevas e na “região escura da morte” (cf. Is 9,1). É Jesus a luz de Deus que resplandece e ilumina os homens esquecidos e até desprezados, fazendo-os reviver e ter esperança. Não foram esquecidos por Deus, que lhes enviou seu Filho.

A realização dessa profecia continua ao longo da história através da vida e da atuação da Igreja. Também isso aparece já no início da pregação pública de Jesus, que chama apóstolos para o seguirem e para serem, depois, enviados em missão, com a sua própria autoridade. Em vários momentos, Jesus enviou os discípulos em missão, para anunciarem a Boa Nova do Reino de Deus; finalmente, após a ressurreição, enviou os apóstolos, na força do Espírito Santo, para continuarem a sua missão “até o fim dos tempos”.

O papa Francisco, em nossos dias, tem incentivado a Igreja para ir às periferias da humanidade. Talvez ficamos muito sossegados, cuidando mais de quem já está no “centro” e cujo cuidado absorve todas as nossas energias e todo o nosso tempo. A Igreja é enviada, não apenas às periferias geográficas, mas também sociais, econômicas, políticas e mesmo religiosas. As “periferias” podem estar mesmo no centro de nossa cidade; elas não estão longe de nós; basta abrir os olhos.

O Evangelho é luz para todos, mas onde as pessoas já acham que vivem “na luz”, ele é menos bem acolhido e tem menos fruto. A Boa Nova do Reino de Deus, dirigida ao povo relegado às periferias, redime, resgata e salva essas pessoas, fazendo-as viver e dando-lhes esperança. Os fiéis em Cristo, se desejam ser fiéis a ele, precisam imitar o seu exemplo e fazer como ele.

De maneira significativa, neste mesmo domingo, foi feito o envio missionário de três religiosas do Regional Sul 1 para a Diocese de Alto Solimões, no Regional Norte 1, na extrema periferia noroeste do Brasil; e o padre Fabiano, da Arquidiocese de São Paulo, como missionário fidei donum, para a Diocese de Castanhal, no Pará. Que Deus nos ajude a sermos uma Igreja verdadeiramente missionária, disposta a levar a Boa Nova do Reino de Deus às terras de Zabulon e Neftali dos nossos dias…