Treze anos sem Dom Hélder

José Maria Pontes

Há 13 anos, em 27 de agosto de 1999, nos deixava Dom Helder Câmara, um grande cidadão do mundo, também chamado de “o bispo vermelho”, “o pastor da paz”, “o santo rebelde” e de “o peregrino da paz”. Enviado por Deus, como disse São Paulo, para combater o bom combate, soube como ninguém defender a justiça e a paz. Nasceu em Fortaleza no dia 7 de fevereiro de 1909 e teve a missão divina de, como São Francisco de Assis, defender os injustiçados.

Dom Helder ajudou a criar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam). Amigo particular do papa Paulo VI teve uma participação importante no Concílio Vaticano II e plantou as sementes de uma igreja voltada para os pobres, a Teologia da Libertação, que completa 40 anos em 2012.

Escreveu 23 livros, sendo 19 dos quais traduzidos para vários idiomas. Suas funções sacerdotais foram exercidas no Ceará como padre, no Rio de Janeiro como bispo auxiliar e em Olinda e Recife (PE) como arcebispo.

A sua opção pelos pobres o fez viver conforme os ensinamentos de Cristo. Quando assumiu a Arquidiocese em Olinda e Recife, 12 dias após o golpe militar de 1964, desistiu de morar no Palácio Episcopal e foi residir na sacristia da Igreja das Fronteiras.

Após sua missa matinal diária tomava o café da manhã com pessoas simples como prostitutas, mendigos e desempregados. A cruz de madeira que trazia ao peito era o símbolo do trabalho de um homem simples do povo.

Defensor dos presos políticos teve sua casa metralhada pelo regime militar. Foi indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz, não o conseguindo devido às calúnias plantadas na Europa pelo regime militar brasileiro.

Respeitado em todo mundo, Dom Helder Câmara recebeu centenas de homenagens no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá. Universidades de vários continentes paravam para ouvir as palavras do “Santo Dom Helder”.

Seu sorriso e suas palavras encantavam multidões que aclamavam este pequeno grande homem. Foi considerado o embaixador dos Direitos Humanos denunciando lá fora as torturas e as injustiças praticadas pela ditadura militar no nosso País. Nos anos de 1970, a imprensa brasileira foi proibida de fazer qualquer citação que envolvesse o nome de Dom Helder Câmara.

Em 2009, ano do centenário de seu nascimento, o religioso foi lembrado com homenagens em todo País e também no Exterior. O mais ilustre cearense de todos os tempos foi esquecido pela sua cidade natal Fortaleza e pelo seu Estado, sendo homenageado apenas pela igreja católica e pelo Judiciário.

Os ensinamentos de Dom Helder Câmara permanecerão sempre vivos nos corações daqueles que lutam por justiça. O seu maior sonho era ver o fim da fome e da miséria no mundo. É lamentável ver nossas escolas ensinando sobre os heróis de guerra quando as vidas dos verdadeiros heróis da paz são esquecidas.

Um mundo melhor é possível e as sementes plantadas por Dom Helder Câmara e outros pacifistas irão germinar e povoar um mundo mais fraterno, solidário e de paz.

As novas gerações devem conhecer a vida e os exemplos deixados por este santo homem. Treze anos depois de sua morte, Dom Helder continua vivo entre nós.

*Presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, ex-vereador de Fortaleza e do movimento agestes por uma cultura de paz

Artigo publicado no Jornal o Povo de 26/08/2012

Postado por