Um Feliz Natal pra Jesus?

Que tempo interessante é este do final de ano! Pessoas mais que usualmente estressadas correndo pelas ruas, abarrotando lojas, gerando um turbilhão rumoroso por onde uma grande parte dos veículos, que ali transitam, acessam shopping centres e outros mais centros de comércio e caixas eletrônicos. Muitos enfeites declaram, pela suntuosidade de suas árvores gigantescas, suas luzes a piscar, bonecos enormes de papais-noéis e renas cobertas de uma pelagem invernal, que chegou, mais uma vez, a oportunidade de uma grande festa. Não obstante as imagens nórdicas do velhinho barbudo e seus animais, que flutuam velozmente por um céu desenhado da imaginação de alguém que não os quis colocar com aparências mais confortáveis em relação ao calor e as imagens reais deste país tropical, toda esta correria, todo este afã de comprar e consumir, tantos congestionamentos que, nesta época, nascem e se desenvolvem, é porque vai chegando o Natal.

Ao mesmo instante em que as cenas do agito comercial invadem e tornam mais caótica a vida nesta grande e turbulenta cidade, em outro canto desta mesma metrópole alguém chega para aqui encontrar um abrigo. Os terminais de ônibus, procedentes de lugares distantes, repousando de viagens absurdamente demoradas e cansativas, dão a perceber as distâncias continentais e sociais deste país e seus decorrentes abismos que separam ricos e pobres, que aqui vivem e sobrevivem. Alguns, logo que chegam, já são envoltos pela onda de violência e desprezo à vida humana porque, a poucos passos dados, ali mesmo são assaltados. Outros, ingênuos, pensam que encontrarão, logo ali, às portas daquele terminal, os parentes e amigos que, supõem, residem nos quarteirões adjacentes daquele local, inconscientes da dimensão tão falada e, para eles, fantasticamente incompreensível e gélida desta cidade.

Faz-se óbvia uma conclusão: o Natal é uma festa quente demais para o Papai Noel com casaco de pele, mas dolorosamente fria para os descalços, maltrapilhos e desconsiderados moradores deste lugar. Natal quente e calorosamente consumista. Natal frio e glacialmente carente de acolhimento. Faz-se óbvia esta outra conclusão: o Natal é, ao mesmo tempo, a festa fria do exageradamente agasalhado Papai Noel e a cálida lembrança de um menino nazareno migrante, que viajou a uma cidade onde, para ele, não havia lugar.

São Paulo é a nossa Belém. Aqui, nascem os bebês Jesus das nossas frias e esquecidas periferias. Nela, os moradores de rua são os pastores de um rebanho, que, só com a imaginação do artista das renas, se pode desenhar. As manjedouras são os caixotes da feira que se foi, deixando atrás seus entulhos, e a palha o refugo do lixo da festa de certos “grandes natais”. O estábulo é o lugar dos pobres; os animais deste presépio são seus cachorros, fiéis companheiros de suas longas jornadas de viajantes sem lugar. Os anjos? Quem serão os anjos? Não serão mais ninguém além dos profetas e profetizas, que, na cidade de luzes e papais-noéis inadequados, anunciam que Jesus está aqui e seu Reino, ainda aqui, precisa acontecer.

Padre Tarcisio Marques Mesquita