Comentário do Evangelho: 4º domingo da Páscoa (Jo 10, 11-18)

Aproximar-nos e conhecer-nos

José Antonio Pagola

Quando entre os primeiros cristãos começaram os conflitos e dissensões entre grupos e líderes diferentes, alguém sentiu a necessidade de recordar que, na comunidade de Jesus, só ele é o bom Pastor. Não um pastor mais, mas o autêntico, o verdadeiro, o modelo a ser seguido por todos.

Esta bela imagem do Jesus, bom Pastor, é uma chamada à conversão, dirigida a quem pode reivindicar o título de «pastores» na comunidade cristã. O pastor que se parece com Jesus, só pensa em suas ovelhas, não «foge» ante os problemas, não as «abandona». Ao contrário, está junto a elas, defende-as, dedica-se totalmente a elas, «expõe sua vida» procurando seu bem.

Ao mesmo tempo, esta imagem é uma chamada à comunhão fraterna entre todos. O Bom Pastor «conhece» suas ovelhas e as ovelhas «conhecem» a ele. Só desde esta intimidade estreita, desde este conhecimento mútuo e esta comunhão de coração, o Bom Pastor compartilha sua vida com as ovelhas. É em direção a esta comunhão e mútuo conhecimento que temos que caminhar também hoje na Igreja.

Nestes momentos não fáceis para a fé, necessitamos como nunca unir forças, procurar juntos critérios evangélicos e linhas mestras de atuação para saber em que direção temos que caminhar de maneira criativa para o futuro.

Entretanto, não é isto o que está acontecendo. Fazem-se algumas convocações convencionais a viver em comunhão, mas não estamos dando passos no sentido de criar um clima de escuta mútua e diálogo. Ao contrário, crescem as desqualificações e dissensões entre bispos e teólogos; entre teólogos de diferentes tendências; entre movimentos e comunidades de carisma diverso; entre grupos e «blogs» de todo gênero…

Mas, talvez, o mais triste é ver como segue crescendo o distanciamento entre a hierarquia e o povo cristão. Dir-se-ia que vivem em dois mundos diferentes. Em muitos lugares os «pastores» e as «ovelhas» apenas se conhecem. Para muitos bispos não resulta fácil sintonizar com as necessidades reais dos crentes, para lhes oferecer a orientação e o alento de que necessitam. A muitos fiéis resulta difícil sentir afeto e interesse para com pastores que vêem afastados de seus problemas.

Só pessoas de fé, cheios do Espírito do Bom Pastor, podem nos ajudar a criar o clima de aproximação, mútua escuta, respeito recíproco e diálogo humilde que tanto necessitamos.