Nossa esperança – comentário do Evangelho

José Antonio Pagola

O relato da ressurreição de Lázaro é surpreendente. Por um lado, nunca nos é apresentado Jesus tão humano, frágil e profundo como neste momento em que morre um dos seus melhores amigos. Por outro lado, nunca nos convidam tão directamente a acreditar no Seu poder salvador: “Eu sou a ressurreição e a vida: o que crer em mim, mesmo que morra, viverá… Creis nisto?”

Jesus não oculta o Seu carinho para com estes três irmãos da Betânia que, seguramente, o acolhem em sua casa sempre que vem a Jerusalém. Um dia Lázaro fica doente e as suas irmãs enviam uma mensagem a Jesus: o nosso irmão «a quem tanto queres» está doente. Quando chega Jesus à aldeia, Lázaro leva quatro dias enterrado. Já ninguém lhe poderá devolver a vida.

A família está destroçada. Quando se apresenta Jesus, Maria desata a chorar. Ninguém a pode consolar. Ao ver os soluços da Sua amiga, Jesus não pode conter-se e também Ele se põe a chorar. Parte-Lhe a alma ao sentir a impotência de todos ante a morte. Quem nos poderá consolar?

Há em nós um desejo insaciável de vida. Passamos os dias e os anos a lutar por viver. Agarramo-nos à ciência e, sobretudo, à medicina para prolongar esta vida biológica, mas sempre chega uma última doença de que ninguém nos pode curar.

Tampouco nos serviria viver esta vida para sempre. Seria horrível um mundo envelhecido, cheio de velhos e velhas, cada vez com menos espaço para os jovens, um mundo em que não se renovasse a vida. O que desejamos é uma vida diferente, sem dor nem envelhecimento, sem fome nem guerras, uma vida plenamente feliz para todos.

Hoje vivemos numa sociedade que foi descrita como “uma sociedade de incerteza” (Z. Bauman). Nunca tinha tido o ser humano tanto poder para avançar para uma vida mais feliz. E, no entanto, nunca tal vez se tenha sentido tão impotente ante um futuro incerto e ameaçador. Em que podemos esperar?

Como os humanos de todos os tempos, também nós vivemos rodeados de trevas. Que é a vida? Que é a morte? Como há que viver? Como há que morrer? Antes de ressuscitar Lázaro, Jesus diz a Marta essas palavras que são para todos os Seus seguidores um desafio decisivo: “Eu sou a ressurreição e a vida: aquele que acredita em mim, mesmo que morra viverá… Creis nisto?”

Apesar de dúvidas e obscuridades, os cristãos acreditam em Jesus, Senhor da vida e da morte. Só Nele procuramos luz e força para lutar pela vida e para enfrentarmos a morte. Só Nele encontramos uma esperança da vida para além da vida.