Seres mais humanos

Lilian Sgarioni Roberto

Sempre que há uma comoção em torno de um assunto que desperta a sociedade para um determinado tema como foi o massacre de crianças em Realengo, no Rio de Janeiro, aparecem os especialistas, intelectuais, jornalistas, debatedores, leigos em torno da discussão da tragédia. Uma tragédia que foi isolada ou pode ter sido uma tragédia anunciada, não sabemos. Não saberemos. A verdade é que um jovem abriu fogo contra inocentes, sem nenhum motivo aparente. Ninguém sabe porque isso aconteceu, nem como vivia a pessoa que fez isso, muito menos o que passava na sua cabeça ou na sua vida. Sobram relatos de algumas pessoas que viveram ao seu redor, mas que não viam ali uma ameaça para a sociedade. O que aconteceu só nos faz pensar que todos, homens, mulheres, jovens, crianças precisam ser mais humanos.

Ter princípios e exigir respeito ao próximo desde o começo da educação da criança, explicar claramente o que é certo e o que é errado significa plantar algo positivo para no futuro colher bons frutos. Parece clichê, mais um daqueles temas chatos, certinhos, não é. Criança aprende por imitação, é fato. Vamos ser bons exemplos! Obrigado, por favor, licença são palavras que têm que existir no vocabulário de todos. Cordialidade não depende de classe socio-econômica, raça, credo, partido político, religião, cabe a todos.

A Igreja também tem seu papel formador. Sempre há a pergunta de como se deve atrair o jovem para as paróquias, para Jesus. Porém, numa sociedade que valoriza o ter e não o ser, nem sempre isto é uma tarefa fácil. As possibilidades de diversão e consumo são muitas. Então, às vezes, vale a direção contrária: colocar Jesus no coração do jovem e este levá-lo consigo pela vida. A família, mais uma vez, tem que ser exemplo, exemplo vivo de fé.

Quando rezamos: “Senhor, Manso e Humilde de Coração, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso” é que temos que pedir para todos. Pessoas com bons princípios, sabendo respeitar e ainda com um coração um pouco parecido com o de Jesus, NÃO vão fazer nada de mal contra ninguém. Com certeza.

Cabe a nós observar aqueles que vivem tímidos, isolados, muitas vezes sofrendo discriminação e tentar acolher, ajudar. Por isso, na comunidade cristã, somos todos bem-vindos. Em nossa paróquia temos o ministério da acolhida. Aquele do primeiro contato, que entrega um folheto, arruma um lugar para a pessoa se sentar, para se sentir bem, uma ovelha no rebanho como todos somos, filhos e filhas de Deus. Irmãos e irmãs.

E você pode estar se perguntando: “Onde estava Jesus quando estas crianças foram assassinadas?” E eu na minha pequenez respondo: “Nas próprias crianças, vivendo seu sofrimento”, pois Ele não nos abandona nunca!

Uma revista de grande circulação semanal publicou na capa o rosto do atirador de Realengo. Não deveria, pois pode estimular outras mentes complicadas a ter este estrelato; e publicou em suas páginas fotos das crianças, já entrando na adolescência, que foram mortas bem como o depoimento de alguns dos familiares. Em um deles, a avó diz que a neta pediu a benção antes de sair e ir para a esola, como fazia sempre. A avó respondeu: “Deus te proteja e te guarde”. Desta vez, segundo a revista, Ele não a guardou. Discordo, a menina está na Glória de Deus, ao seu lado. Para sempre. E não cabe a nós julgarmos Seus desígnios e sim caminharmos ao Seu lado. Como Cristãos. Na fé.