O mistério da reencarnação

Pe Almir Magalhaes

Todos os anos celebramos das mais variadas formas, e envolto em clima de muita emoção, o nascimento do menino Jesus. São inúmeras as “confraternizações” que acontecem para se cumprir uma tradição, já que em boa parte se realizam em empresas ou ambientes onde no cotidiano não existe um relacionamento entre patrões e empregados, porquanto os vínculos são puramente jurídicos e também entre as pessoas, que convivem geralmente num clima de competição, incompatível com a proposta cristã.

Como tudo na sociedade de mercado se transforma em mercadoria, o Natal é este momento imperdível para o aquecimento da economia, pois é assim que os Lojistas se expressam quando da aproximação do mesmo, transmitindo as expectativas deste período como uma possibilidade de uma grande safra.

A pergunta pertinente que apresentamos é esta: Quando nós cristãos vamos encarar com seriedade, não apenas com reflexões, o significado deste grande evento da humanidade, em que Deus, através de Jesus Cristo, “se fez homem e armou sua tenda entre nós (Jo. 1,14)”? Esta é a primeira e grande questão que nos desafia – o significado do mistério da encarnação.

Este menino, que em breve estaremos fazendo memória de seu nascimento, trouxe uma proposta de vida que conseguiu passá-la para os seus contemporâneos num curto espaço de tempo de três anos, que incomodou as autoridades civis e religiosas de seu tempo, porque sua mensagem e prática caminhavam na contramão da história em muitos aspectos. Em sua vida há um período em que acontecem as grandes reações contra a sua atividade. É quando ele decide sair da periferia para o centro, ou seja, da Galiléia para Jerusalém (cf. Lc. 9.51 – 19,28). Durante o caminho realiza-se uma “grande catequese que mostra como enfrentar as dificuldades da vida, e também como entender a vida no seguimento de Jesus” (cf. Ivo Storniolo., Como ler o Evangelho de Lucas, Paulinas, 1992, p. 101). Quando Jesus decide ir para Jerusalém, compreende que chegou a hora de enfrentar as conseqüências de sua atividade e sabe que ali vai encontrar a morte.

Penso que vale a pena durante este período do Advento, rever estes dez capítulos de Lucas, em que Jesus caminha para Jerusalém, tirando daí os ensinamentos e procurando atualizá-los para o nosso contexto. A releitura deve se dar tendo como ponto de partida o MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO (o momento do nascimento de Jesus) – esta criança foi crescendo, conhecendo a realidade do seu povo, e, em determinado momento tomou esta decisão de ir para o confronto com as grandes contradições que Ele percebeu entre o que existia e a missão encomendada.

Preparar-se para celebrar o autêntico NATAL DO SENHOR, significa edificar a vida de acordo com a proposta de Jesus, através de um processo de evangelização e de catequese que ajude o cristão desde cedo a ir entendendo o caminho feito por Jesus, e através da comunidade eclesial (Paróquia, Área Pastoral), estabelecer iniciativas que efetivamente apontem para uma encarnação, para uma atuação na história, sendo claro, defender a vida humana que está aí banalizada, a natureza.

Cada dia que passa observamos que nossas práticas são muito bonitas, bem preparadas, os eventos de massa enchem os olhos até transbordar em choro. As pessoas defendem este tipo de iniciativa afirmando que DESPERTAM, mas despertam para quê mesmo? Neles, não se toca no aspecto comunitário, em um só momento não remetem nem refletem sobre a vida paroquial, onde as pessoas tecem sua vida de fé, não se faz alusão à vida ameaçada e às questões sociais, as leituras são puramente individualistas e as reflexões moralistas… enquanto isto a miséria graçando, as pessoas sofrendo num isolamento inaceitável, e o bebê que comemoramos, que foi tão solidário com os sofredores vai ficando para trás.

As quatro semanas do Advento são uma oportunidade imediata, que o tempo litúrgico proporciona aos cristãos de fazerem uma avaliação de suas vidas, tanto no nível pessoal como comunitário, tentando responder outras perguntas: a quem nós estamos servindo mesmo? Como ser cristão numa sociedade do consumo? Como ser cristão num mundo individualista? Como ser cristão numa sociedade que continua a oscilar entre a abundância e a miséria e quando acontece a solidariedade se dá no nível assistencialista, portanto, “correndo o risco de perpetuar a desigualdade social”?(cf.doc. 69 da CNBB – Exigências Evangélicas e éticas de superação da miséria e da fome, n.30). Temos um longo caminho a percorrer para mudar de mentalidade, para assumir a “conversão pastoral”.

Ao final desta contribuição, quero agradecer a muita gente que é Agente de Pastoral e que acompanha minhas contribuições mensais neste espaço, dando apoio à linha de pensamento que desenvolvo, afirmando inclusive que refletem as idéias aqui veiculadas nos grupos que fazem parte.

Um Feliz Natal e um 2010 marcado por um sucesso que dignifique a pessoa humana.