O Pão Partilhado – Dom Sérgio

Dom Sergio da Rocha*

A Liturgia de hoje e dos próximos domingos está centrada no capítulo 6º do Evangelho segundo João, que nos apresenta Jesus, o Pão da Vida, que sacia a fome da multidão. O tema do pão partilhado já se encontra na primeira leitura. O profeta Eliseu partilha com o povo os pães que lhe foram oferecidos, ao invés de guardá-los para si. Ao realizar esse gesto de generosidade e partilha, Eliseu mostra que Deus quer saciar a fome do seu povo. É Jesus Cristo quem realiza isso em plenitude, pois é ele o Pão que vem saciar a nossa fome.
O apóstolo Felipe, assim como ocorreu com o servo do profeta Eliseu, não acredita ser possível saciar a fome da multidão, considerando o pouco que tinham. Deus abençoa e multiplica o pão partilhado! Deus conta, hoje, com o pouco que podemos oferecer para multiplicar o pão, assim como Jesus contou com a colaboração das pessoas para realizar tantos outros milagres, “sinais” da chegada do Reino. O relato joanino da multiplicação dos pães, hoje meditado, assinala a significativa figura de um menino que oferece os pães e os peixes.
A condição física e social de uma criança, marcada pela fragilidade e pequenez, torna ainda mais significativa a oferta dos cinco pães e dois peixes, que somados equivalem a sete, número da totalidade ou plenitude, no contexto bíblico. Portanto, não se oferece apenas o que sobra, mas o que se tem e que se considera importante. Acrescente-se a isso, o gesto de Jesus de dar graças pelos pães e os peixes, expressando que se tratam, acima de tudo, de dons de Deus.
Diante dos desafios do mundo de hoje, dentre os quais a fome, é preciso dispor-se a partilhar generosamente o pouco que se tem, reconhecendo que os bens são dons de Deus. É ele, o Senhor; nós somos apenas administradores de bens que são dele e de cuja administração deveremos prestar contas. Contudo, o Evangelho de hoje nos convida a colocar nossa fé em Jesus Cristo, o Pão da Vida, que vem saciar a nossa fome de vida e que, através de nós, apesar da nossa fragilidade e pequenez, quer saciar a fome sofrida por tanta gente, fome do pão cotidiano nas mesas das casas, fome do pão da Palavra e do Pão da Vida. Portanto, não deve faltar entre nós a fé em Deus, que sacia a nossa fome, assim como, a disposição em partilhar os nossos bens com aqueles que estão famintos.
Na condição de prisioneiro por causa de Cristo e do Evangelho, São Paulo recomenda à comunidade de Éfeso a vivência da mansidão, da humildade e da paciência, para que eles possam permanecer na unidade e na paz. A fome do homem é também de unidade e paz!

*Arcebispo Metropolitano de Brasília