Orar pela Paz

Domingos Zamagna

Desde o século XVI a liturgia da Igreja comporta uma festa dedicada ao Rosário no mês de outubro.

A iniciativa vem do Papa S. Pio V, chamado “o primeiro papa do Rosário”. Esse papa assim definiu a oração do Rosário: “modo excelentíssimo de oração meditada, constituído sob a forma de coroa mística, em que as orações do pai-nosso, da ave-maria e do glória se entrelaçam na consideração dos mais altos mistérios da nossa fé, sendo apresentado à mente, como que em muitos quadros, o drama da encarnação e da redenção de nosso Senhor”.

Ao lado de Pio V, o outro “papa do Rosário” foi Leão XIII, que somente a esta oração dedicou 12 encíclicas e 2 cartas apostólicas. Para ele o Rosário era “a mais agradável oração cristã”. Desde o tempo do grande papa da Rerum Novarum costumou-se dedicar todo o mês de outubro ao Rosário.

Dentre as práticas devocionais consagradas pelo povo simples, sem dúvida o Rosário é a primeira delas. E a validade dessa piedade mariana (tão difundida por ordens e congregações religiosas como os Dominicanos), tem sido reconhecida pelo ensinamento do magistério da Igreja.

Não nos esqueçamos que o último papa, João Paulo II, não só escreveu a bela encíclica Rosarium Mariae Virginis, como proclamou o ano de 10/2002 a 10/2003 como “ano do Rosário”. Trata-se de uma antiga tradição da Igreja de fazer seguir os jubileus por um ano mariano. Devemos ainda a João Paulo II a introdução na recitação do Rosário dos mistérios luminosos, ao lado dos mistérios da alegria, da dor e da glória. O papa acolheu uma antiga sugestão formulada pelo famoso biblista Fr. Marie-Joseph Lagrange OP.

A insistência do magistério da Igreja sobre o Rosário deriva do caráter evangélico, cristocêntrico e eclesial dessa oração. E de fato impressiona como essa oração é do agrado tanto do povo simples quanto de missionários, teólogos, místicos. Nunca esquecido nos momentos de perigo, ele está sempre presente nas mãos dos doentes e moribundos, e com razão, pois nesses momentos não podemos prescindir de invocar o preciosíssimo amparo da Virgem Maria, Mãe de Deus. E, por suas mãos, somos sempre conduzidos ao fiel amor e à prática do Evangelho de seu Filho Jesus Cristo.

O saudoso Papa Paulo VI recordou na encíclica Christi Matri e na exortação apostólica Recurrens mensis october que este mosaico da fé evangélica, esta suave cadeia que nos liga a Deus, é também “a oração para obter a paz”. Como escola de contemplação, o Rosário nos orienta para o Príncipe da Paz, para a “nossa Paz” (Ef. 2,14). Como se vê, uma oração de grande capilaridade eclesial e atualidade no mundo e nos dias que vivemos.