Política e genero: Duas mulheres na corrida presidencial?

Já lá se vai quase um século inteiro desde que se assiste ao fenômeno da emergência da mulher em todos os setores da vida social, política, cultural do mundo ocidental. E o evento desta emergência é percebido pelos principais setores desta mesma sociedade como um dos fatores mais importantes e relevantes em termos de mutação de seu perfil contemporâneo.

A metade feminina da humanidade, que vai saindo da sombra e da invisibilidade após tantos séculos, vem merecendo, por parte de especialistas das mais diversas áreas, atenção e interesse. Bastaria, para comprovar esta afirmação, a grande quantidade de pesquisas, escritos e eventos organizados em torno do tema, relacionando-o com as mais diversas áreas do saber, do conhecimento e da esfera pública. Antes confinada ao privado e ao doméstico, a mulher vem ocupando espaços cada vez mais importantes na esfera pública tendo chegado, já no século XX, a ocupar altos cargos de governo. Isto se deu de forma mais patente nos países nórdicos da Europa, como Finlândia, Noruega. Mas são dignos denota igualmente os casos de ministras de estado nos Estados Unidos. Na América Latina, os casos da presidente Michele Bachellet, que logo termina seu mandato, é um bom exemplo de estadista formada na base e na luta diuturna pelos direitos humanos que chega ao poder por eleição democrática e sabe manter seu país na corrida pelo desenvolvimento e por uma vida melhor para a população.

“Ao aumentar de maneira efetiva a influência da mulher em todos os níveis da vida pública, aumentam as possibilidades de mudança em direção à igualdade entre os gêneros e ao empoderamento da mulher, bem como para uma sociedade mais justa e democrática”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, no relatório sobre a participação igualitária de mulheres e homens nos processos de tomada de decisões em todos os níveis, lançado em dezembro de 2005.

Em 1995, a Plataforma de Ação de Pequim definiu como uma de suas prioridades a questão da mulher no exercício do poder e na tomada de decisões e apontou medidas concretas que deveriam ser adotadas por governos, setor privado, instituições acadêmicas e organizações não-governamentais para que as mulheres tenham maior acesso e uma participação efetiva nas estruturas de poder e na tomada de decisões, como diz o artigo da ADITAL de 8 de março de 2006, ainda atualíssimo.

Embora se haja avançado muito no acesso da mulher à política, o ranking nos mostra que ainda há muito a fazer, sobretudo em nosso continente e sobretudo em nosso país. No que a nós diz respeito, na América do Sul, o Brasil é o pior colocado na lista, em 107º lugar, bem atrás da Argentina (9º), Guiana (17º), Suriname (26º), Peru (55º), Venezuela (59º), Bolívia (63º), Equador (66º), Chile (70º), Colômbia (86º), Uruguai (92º) e Paraguai (99º).

Isso nos leva a festejar o fato de que, olhando para 2010 e as eleições presidenciais que se avizinham, possamos enxergar duas mulheres na corrida presidencial: Dilma Roussef e Marina Silva. Independente de apoiarmos essa ou aquela, não importando qual delas nos agrada ou desagrada mais ou menos, o fato de duas candidatas do gênero feminino nos mostra que além das muitas coisas novas que a era Lula trouxe ao Brasil, veio também o balanço de gênero.

Oxalá Dilma e Marina possam deixar um legado ético e positivo atrás de si quando termine o pleito, seja qual for seu resultado. Tomara que sua herança não seja como a de outras de triste memória, como a nada saudosa ministra Zélia, que após apropriar-se da poupança dos trabalhadores brasileiros de todas as extrações sociais, foi namorar ministros e atores de televisão e acabou nos Estados Unidos protegida de sanções maiores.

Que Dilma e Marina possam ser comprobatórias de que a mulher pode fazer uma diferença também no governo de um país como o Brasil – eis nosso desejo.