Cinco anos de impunidade: Ato protesta contra massacre de moradores de rua em SP

Agência Adital

Cinco anos se passaram desde que houve, em São Paulo, o brutal ataque aos moradores em situação de rua que deixou sete pessoas mortas. Até agora ninguém foi punido e sequer existe denúncia sobre o caso. O processo aguarda decisão no Superior Tribunal de Justiça (STJ). De acordo com irmã Michael Mary Nolan, conselheira do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe-SP), não existe previsão para que isso ocorra.

Entidades que lutam em favor dos Direitos Humanos e aqueles que trabalham em prol dos moradores em situação de rua, realizaram uma série de atividades desde o último dia 14 em memória às vítimas da chacina. O principal objetivo é protestar a impunidade e fazer com que o caso não seja esquecido. “O povo pede justiça e respeito por seus direitos”, enfatiza irmã Michael.

Ela diz ainda que é importante para essa camada da sociedade relembrar a memória de seus companheiros vítimas da violência e do preconceito. “É importante que eles (população em situação de rua) saibam que tem quem se preocupe com eles e que se sintam apoiados”, completou.

Na manhã de terça-feira (18) houve uma Audiência Pública em Guarulhos, município vizinho da capital paulista, envolvendo Prefeitura, Secretarias e Entidades, além dos próprios moradores de rua, a fim de discutirem políticas públicas em favor dessa população.

Segundo informações da irmã Michael, os moradores ficaram satisfeitos com essa audiência, já que o município se dispôs a ajudá-los. Mas a mesma confiança não foi sentida à tarde, quando estava marcada uma Audiência na capital. Segundo ela, nenhuma das autoridades convidadas esteve presente, comparecendo apenas a Guarda Municipal da cidade de São Paulo.

Já ontem (19), membros que participam das atividades em repúdio ao massacre, percorreram os locais onde ocorreram as mortes. A caminhada terminou na escadaria da Catedral da Sé, no centro de São Paulo, onde em seguida aconteceu um Ato Público.

Neste momento algumas autoridades ligadas à defesa dos direitos humanos, e a Vice-Prefeita de São Paulo, Alda Marco Antônio (PMDB), se fizeram presentes. Cerca de 300 pessoas estiveram reunidas no ato ecumênico que finalizou as atividades do dia. Um dos sobreviventes do massacre, que mantém sua identidade em sigilo, acompanhou a caminhada e se emocionou, segundo relatou a freira.

A religiosa, que também é advogada, comentou que essa população é ignorada não só por outras camadas da sociedade, como também pelo poder público. Ela comentou ainda sobre o Projeto de Higienização do centro de São Paulo, no qual os moradores de rua seriam incluídos. “Se pudesse tirar o povo de rua do mapa do mundo, muita gente ficaria feliz”, desabafou.

A semana de atividades encerra hoje (20), com exposição de filmes e debates entre os participantes, jornalistas e pessoas ligadas à cultura, na Estação Pinacoteca.

Massacre

O massacre ocorreu nas madrugadas dos dias 19 e 22 de agosto de 2004, nas ruas de São Paulo, capital. Das 15 pessoas agredidas, 7 morreram. Desde então, movimentos, organizações, grupos sociais e religiosos promovem manifestações em todo o país pedindo justiça e respeito aos seres humanos, não importando se são moradores em situação de rua ou não.

Um Comentário

  1. alexandre nunes
    ago 21, 2009 @ 09:26:12

    É bom que essa data não passe em branco! Devemos sempre lembrar do triste fim de dezenas de moradores em situação de rua em 2004. Na época, estava na faculdade (jornalismo) e meu TCC foi uma revista sobre a situação deles (na rua da amargura). Foi nessa época que conheci o sebastião nicomedes (um dos líderes do movimento dos sem -teto na época) e o Padre Júlio, o qual me concedeu uma entrevista para o meu trabalho(não sei se ele ainda lembra). É uma data triste, mas que deve ser lembrada e jamais repetida. Concordo com a fala do Pe. Júlio em dezembro de 2008 ” quando teremos um a imprensa que relate os maus tratos sofridos por esse povo?”. E nós, o que podemos fazer para “amenizar” a fragmentada vida desses nossos irmãos que por diversos motivos estão em situação de rua??